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Segundo o Diário de
Aveiro de 2.2.2016, há 8 anos, foi perante uma casa cheia, ao final da
tarde, que o Grupo de Teatro Ribalta estreou a peça «Filinto – O Poeta Amargurado».
O espectáculo, que decorreu na Casa da Cultura de Ílhavo (CCI) e que é baseado
num texto da autoria de Senos da Fonseca, surpreendeu o público presente, que reivindica,
agora, por novas apresentações, noutras localidades da região ou do país.
A peça, que retrata a vida de Filinto Elísio – um dos mais
importantes poetas do Neoclassicismo português e com raízes em Ílhavo (filho de
pais ilhavenses) – contou com encenação de José Júlio Fino e subiu ao palco com
o apoio da Junta de Freguesia de São Salvador.
Considero que as expectativas foram alcançadas, uma vez que já há agora muita gente a saber quem foi Filinto Elísio, destacou o autor Senos da Fonseca, depois da estreia da peça – não obstante o mérito das suas obras, o poeta foi caindo no esquecimento. Foi bonito o esforço de todos e a encenação foi excelente, frisou ainda o autor do texto, a propósito do trabalho conseguido pela equipa do grupo Ribalta.
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E encantou-me…
Desde que conheci a peça de teatro, já pelo Verão de 2014,
relativa à biografia de Filinto, manifestei uma especial predilecção pela
jovialidade, pelo carinho, pelo romantismo, pela coragem das personagens deste I acto e pela linguagem extremamente
bem utilizada, relativamente às manobras que conduziram o jovem par, numa
singela bateira, até Lisboa, à procura de vida melhor e numa tentativa de se
«pisgar» de Ílhavo, dada a gravidez prematura da Maria Manuel. Esta,
saltitante, meiga e enamorada, abraçada ao pescoço do Manuel Simões, seu amado,
saltitava entre a preocupação e a satisfação da vida que tinha dentro de si.
Com o amadurecimento nas subsequentes leituras, fui encontrando
outras belezas textuais e interpretativas nos outros dois actos,
correspondentes a fases distintas na vida do amargurado poeta.
Depois do segundo acto, todo palaciano e bem conseguido, pareceu-me que o terceiro se tornou um pouco mais pesado, apesar de surgirem uns laivos de comicidade, resultante da interpretação adequada de algumas personagens, que, intencionalmente, atenuavam a dureza do contexto.
Resultou muito bem a economia cénica de meios, como convinha,
com a sobriedade e ligeireza com que os diversos cenários foram mudados.
O efeito de som e luzes também se tornou extremamente agradável
ao olhar e ouvir dos espectadores, embevecidos e esforçados para captar o
mais possível do espectáculo, em silêncio, entrecortado por aplausos.
O guarda-roupa, na sua simplicidade, mas bem adaptado à época e
condição social das diversas personagens, esteve perfeito, bem como a
maquilhagem.
Os artistas, além de amadores, jogaram «sem rede», pois o palco
não tinha ponto e o texto, na sua
diversidade, não era fácil.
O que achei menos bom foi a definição e o vigor de algumas
vozes, por condição, sobretudo, femininas, que não estavam direccionadas para a
plateia, como a encenação exigiria.
E onde foi mais notório este aspecto, pelo menos, tendo em conta
a minha localização na sala, foi no I
Acto. Mas, não foi por isso que desgostei menos dele.
Um par enamorado, apaixonado, perante uma gravidez anunciada,
não grita, não clama, mas sussurra ternamente, numa voz doce e melíflua.
Crítica construtiva, como deve ser a de professora, que sempre me acompanha, além de outras profissões que fui tendo pela vida fora.
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Ílhavo, 2 de Fevereiro de 2016/2024
Ana Maria Lopes
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