sábado, 21 de setembro de 2013

SAGRES - Chegada da «barca bela» - 2013

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Quem poderá, um dia, «fechar os olhos» a tanta beleza?
Na Costa Nova, depois de uma noite de lua cheia prenhe de luz, reflectida sobre a laguna argêntea, um sol incandescente e doirado iluminou a ria, de madrugada, sobrepondo-se aos tons azulinos e violáceos com que antes a vestira.
O objectivo de tal madrugada foi saudar, em passeio de moliceiro, a SAGRES, a «nossa barca bela» (lembrou-me Garrett), que veio visitar o porto de Aveiro, Gafanha da Nazaré.
Depois da edição e reedição do livro Sagres – Construindo a Lenda, do Comandante António Manuel Gonçalves, Edição da Comissão Cultural da Marinha, tudo está dito sobre este embaixador de Portugal. Que mais acrescentar?
Creio que as imagens que ilustram esta saudação são esclarecedoras:
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Junto à praia velha da Barra, com o Farol ao fundo, entre céu eivado de algodão esfiapado e «mar de azeite e prata», esperamos com ansiedade o símbolo marítimo da Pátria.
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Entre molhes, eis que surge a «barca bela», a SAGRES, aguardada entre uma etérea neblina matinal.
 
 
 
Avança lentamente entre azuis suaves, em águas serenas e espelhadas, apesar da força da vazante.
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A carranca dourada como que aponta o caminho ao país que «deu novos mundos ao mundo», sob o lema da sigla «TALANT DE BIEN FAIRE».
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Auxiliado por dois potentes rebocadores, o Navio-Escola Sagres prepara-se para acostar, entre uma doce neblina que teimava em não se levantar no Terminal Norte do Porto de Aveiro, onde estará aberto ao público, hoje e amanhã. Vale a pena ir visitá-lo, assim como valeu a pena ir recebê-lo.
 
Imagens – Da autora do blogue
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Costa Nova, 21 de Setembro de 2013
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Ana Maria Lopes
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terça-feira, 17 de setembro de 2013

Em honra da Senhora dos Navegantes - 2013 - na Ria

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Mais um ano, em Setembro, lá vamos à romaria lagunar! Tanto quanto me recordo, da minha meninice, a Festa da Senhora dos Navegantes tinha a marcá-la, como pormenor típico, uma procissão até ao mar, para além do que era habitual em festas, com uma mistura de religioso e de profano.
Celebrava-se na última segunda-feira de Setembro, depois do domingo da Senhora da Saúde, uma das festas lagunares mais concorridas, a seguir ao S. Paio. Já foi! Nunca troquei uma boa segunda-feira da Senhora da Saúde pela festa dos vizinhos, mas, notava a falta de algumas tendas de bugigangas que já tinham «levantado ferro», para estarem presentes na festa da Barra (assim se dizia).
Depois de algumas alterações e interregnos, a procissão lagunar em honra da Senhora dos Navegantes é uma iguaria a não perder, aproveitando, ao mesmo tempo o grande prazer que é marear na laguna, de moliceiro. A noite foi agitada, com a preocupação da alvorada e com receio do tempo nebuloso anunciado.
E, pelas 8 horas, o dia acordou sonolento e embrumado. Uma cortina cerrada, qual pano de cena, completamente corrido, impedia-nos de ver a paisagem, Vida de marinheiro é assim!
 
PARDILHOENSE

Entre céu e ria, de um acinzentado uniforme, o PARDILHOENSE, vaidoso, espelhava, nas águas a sua esbelteza polícroma, na marina do Oudinot.
As deambulações marítimas incluíam um almoço em restaurante ribeirinho de São Jacinto, e, aí, então, o sol já tentava espreguiçar-se entre nuvens, espraiando-se. Acordara, de vez, e inundara a paisagem de um cerúleo meigo e escaldante.
Tinha já acabado o agradável repasto, quando uma imagem, em andor de ria de tule rosa, adornado de flores rosa e branco, entre verdes contrastantes, surdiu de uma ruela, que corria do mar, acompanhada de pároco, acólitos com lanternas processionais e alguns devotos.
 
Senhora das Areias

O que seria? Sabia que a procissão em que nos íamos incorporar passava por S. Jacinto, mas desconhecia que havia um encontro formal entre as duas virgens – Senhora das Areias, a de S. Jacinto, a residente e a passante, Senhora dos Navegantes.
De máquina minúscula em punho, esforcei-me q.b., para recolher o melhor testemunho. Uma bateira tradicional, embandeirada, com um ar festivo, posicionada à beira-ria, estava preparada para hospedar a imagem.

Senhora das Areias

Já estalejava, ao longe, foguetório… Sinal de que o desfile religioso já saíra do local acordado, na Gafanha da Nazaré? Nada de atrasos. Não convinha perder pitada. E lá partimos, ao seu encontro, numa ria sedutora, prateada e cativante, quase outoniça.
Chegados mais ou menos às instalações da antiga EPA, posicionámo-nos, para apanhar o melhor ângulo de visão! Quando se transportam fotógrafos, a responsabilidade é acrescida!
Já se fazia sentir a marola forte, neste caso fruto dos motores das diversas embarcações e da força da maré e de uma aragem amena. Manter a posição a bordo, num misto de equilíbrio e agilidade não era «mel». Mas valia a pena. Ao longe, já se avistava a começo do cortejo divino.
O barco dos pilotos ESPINHEIRO, com pompa e circunstância, com Virgem, irmandade, estandartes, lanternas e muitos devotos, abria o caminho. Seguidamente, um pouco ao molho e fé em Deus, salve-se quem puder, mas com cuidado e responsabilidade, outros sucediam-se.

Barco dos Pilotos

A motora TRAVESSO transportava o andor da Senhora da Nazaré, que não podia deixar de estar presente na festa.

TRAVESSO

Entre diversas embarcações de recreio acompanhantes que se ultrapassavam umas às outras, seguia, como vem sendo tradição, na traineira JESUS NAS OLIVEIRAS, a imagem da Senhora dos Navegantes, a padroeira, com banda gafanhense a bordo, muitos crentes, autoridades e enfeites diversos, desde palmas hirtas ou vergadas em arco, muitas, muitas flores, código de sinais, algumas insígnias clubísticas até à bandeira nacional. Tudo isto, sobre uma ria que faiscava prata, cegando-nos.

 
JESUS NAS OLIVEIRAS
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Como os homens não se medem aos palmos, como sói dizer-se, também a devoção não se mede pelo tamanho das embarcações – a pequena bateira de pesca, OS MANOS, transportava, numa proa de flores, uma minúscula Senhora de Fátima e ocupantes, pejados de brio e fé.
 
Brio e devoção...

Como a turbulência não era assim tanta, o «nosso arrais», este ano, propiciou-nos a volta por S. Jacinto, seguida de uma visita à Praia Velha, do Farol, em que veraneantes e pescadores aproveitavam as delícias de um sol incandescente e candente de fim de Verão.
Entretanto, o desfile religioso também seguiu o seu percurso até à Meia-Laranja, onde retornou, para dar início à recta final, entre paredões carregadinhos de mirones.
Encerrava o desfile religioso, uma embarcação majestosa, pelo seu tamanho, de colorido apelativo – o rebocador MONTE DO LEÇA.
 
Final do desfile

O momento alto, em que as embarcações acostavam em ancoradouro junto do Forte da Barra, em frente à capelinha, para apear as divindades e irmandades, aproximava-se.
Não faltaram também à chegada as sirenes, as gaitadas agudas, o estridente ribombar dos foguetes, que nos envolviam e estremeciam a alma.
Tudo isto com um não sei quê de devoto, místico, profano, folclórico e etnográfico que se entrelaça e confunde!!!!!!!!!!!!!!!!!
 
A chegada da padroeira
 
 
Senti a falta de o Santo Amaro oriundo da Capelinha da Costa Nova, altaneiro no seu meia-lua, num mar de flores. Faltou à chamada, pareceu-me.
Chegados à marina do Oudinot, degustámos uma saborosa merenda, enquanto os fiéis presentes participavam na divina Eucaristia, transmitida por ruidosos altifalantes. Festa é festa, romaria é romaria. E o Setembro já vai a meio. De meados de Setembro ao Natal, é um saltinho de pardal – adaptemos.

Imagens – Fotos da autora do blogue

Ílhavo, 17 de Setembro de 2013

Ana Maria Lopes
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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

A Regata de Moliceiros do S. Paio - 2013

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Hoje, sábado, dia 7, o PARDILHOENSE repete a dose e traz outro grupo de romeiros às festividades do S. Paio – é a regata dos moliceiros. Quantos estarão presentes?
À chegada, a maré não nos possibilita a atracação no Cais do Guedes e vemo-nos obrigados a amarrar na cais dos pescadores, de «braço dado» com O MARNOTO. Um pouco mais atrasado, chegou O INOBADOR.
O SÃO SALVADOR, da Junta de Freguesia de Ílhavo, já lá residia há uns dias para ser aparelhado com tempo. O arrais seria murtoseiro de gema – o Marco Silva.
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Barcos moliceiros de tamanho vernáculo, apenas se apresentaram dez, mais algumas amostras, com as quais embirro e que só atrapalham na fotografia. A regata dos moliceiros, ainda sublime, tem vindo a perder o brilho, pela diminuição consecutiva de embarcações presentes. Fica a interrogação – até quando teremos moliceiros na ria?
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Cansada de ontem, hoje, não deixarei mais que um relato dos acidentes e incidentes e registo das classificações para memória futura…
A moldura humana não tinha o mesmo fervor da véspera. Eu também apenas segui a corrida, da margem, que não é, de modo algum, tão emocionante!
Dada a partida, ei-los que largam tal cisnes brancos de asas iluminadas ao vento, tirando partido da posição na saída, da sabedoria e sorte dos arrais e da superfície dos panos, que a meu ver, deveria estar regulamentada.
Fugindo àquela imagem mais habitual de moliceiros certinhos, quase em posições paralelas, de velas incandescentes, em diagonal, focarei outros aspectos.
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Uma «molhada» de moliceiros

Os primeiros quatro…, cinco…, foram-se destacando, parecendo querer definir posições. Eis senão quando, de repente, avisto uma embarcação das que iam destacadas a querer tombar, ai!, ai!, ai!, e já está!... que emoção!... completamente adornada, fazendo da ria o seu leito.
Fotografias de pessoa amiga, ajudam-me posteriormente a ter uma perspectiva mais próxima do sucedido, em sequência.
Qual foi? Qual foi? Ainda por cima, ia em terceiro lugar… Ninguém sabia…Havia alguns moliceiros com costados da mesma cor. Só no final, a nossa curiosidade foi satisfeita – tinha sido o MANUEL SILVA.
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MANUEL SILVA - 1.
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MANUEL SILVA - 2.
 
MANUEL SILVA – 3.
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Imaginamos que terá sido dramático para a tripulação, que, fisicamente, nada sofreu. Houve alguma dificuldade no processo de remoção, tendo a embarcação sofrido alguns danos – constava.
Bem, não fora o PARDILHOENSE, constatámos, por exclusão de partes, caso contrário, teríamos de fazer uma maratona a nado, até ao Oudinot, vá lá, com água e vento a favor.
Também houve algumas desistências, mas a brisa, que até ia «caindo» não justificou mesmo estes desaires. Acontecem ao mais «pintado».
Classificação:
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1º - SÃO SALVADOR – Arrais Marco Silva
2º - ZÉ RITO – Arrais Zé Rito
3º - A. RENDEIRO – Arrais Zé Rebeço
4º - CÂMARA MUNICIPAL DA MURTOSA – Arrais José Caneira
5º - INOBADOR – Arrais Pedro Paião
 
O Ti Zé Rebeço em prova

De regresso, ultrapassámos O MARNOTO, na sua imagem fascinante. Não foi propriamente premiado, mas teve uma presença brilhante e digna, como a imagem denota, no seu porte elegante.
 
Porte elegante…

E mais um dia bem passado na ria, em são convívio, ambiente único, natural, sadio e festivo.
Grande gente, a gente da ria, «mai-las» suas embarcações, as que vão restando.
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Imagens da autora do blogue. As do MANUEL SILVA, gentilmente cedidas por Mariano Zé
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Algures na ria, 7 de Setembro de 2013
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Ana Maria Lopes
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domingo, 8 de setembro de 2013

«Durante» o S. Paio - 2013

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Como escrevinhei o «antes» do S. Paio, há quem espere pelo «durante». Ei-lo, aí vai ele, antes que seja tarde e se perca a emoção.
Um grupo de amantes da ria organizou-se e foi no moliceiro PARDILHOENSE, com a mira do S. Paio – a maior das romarias lagunares setembrinas de fim de Verão. Objectivo – assistir à regata de bateiras à vela e à corrida dos chinchorros – programa imperdível! Acompanhar as embarcações, apreciá-las, sorvê-las, admirá-las e divulgá-las.
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Mas o tempo promete, não promete?
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Nem chuva, nem sol, nem relâmpagos, nem trovões, nem calor, nem frio. Uma calmaria podre. A ria, um espelho, que a ausência de sol não valoriza. Mas, aguardemos!....
Os «nossos» romeiros vêm chegando, com entusiamo, farnéis diversos (chegou-me aos ouvidos…) e cheios de desejo de viver um dia na ria, à moda antiga. Dos 40 anos aos 70… com boa vontade, ou dos anos 40 aos 70?
Desvendem o trocadilho.
O astro-rei parece querer trespassar a camada de nuvens para nos aquecer a alma e encharcá-la de luz.
Muitos conhecidos, muitos amigos, muitos fotógrafos, boa disposição e cordialidade a bordo. E a tripulação vai aparelhando o PARDILHOENSE.
A viagem como de outras ocasiões, desta vez, a motor, por imperativos de horário, começa e prossegue sem incidentes.
Uma linha do horizonte mais escura divide dois mundos, ambos cinzentos, mas etéreos – o céu e a água.
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Linha do horizonte
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Muitas câmaras, mais ou menos pomposas, muitas objectivas poderosas, tripés, monopés, um «cardápio» de material fotográfico… A ria merece.
A luz tenta penetrar e aureolar a paisagem, facilitando os reflexos.
 
Reflexos em S. Jacinto
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Lembrou-me a descrição de uma ida ao S. Paio, em mercantel, relatada por Egas Moniz, em seu livro de memórias, A Nossa Casa.
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«Na festa de S. Paio, a grande romaria da gente ribeirinha, a ria coalha-se de barcos que provêm de todas as freguesias marginais. Abundam os moliceiros lindamente embandeirados, com sinais distintivos para que os tripulantes os reconheçam quando, encostados uns aos outros, formam na Torreira a frota da alegria.
São as famílias e amigos do proprietário do barco que o enchem de raparigas airosas, de olhos escuros e tez morena, e de rapazes desempenados e garbosos, tisnados pela maresia (...)».
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O ambiente à chegada já era bem festivo, mas faltávamos nós, logo que tínhamos decidido degustar uns pitéus a bordo. Nada faltou. Vitualhas em abundância…desde rojões, sandes de queijo e fiambre, pataniscas de bacalhau, quiche, broa com azeitonas, queijo… a chouriço preto e vermelho, assados a bordo, quentinhos, a sair, por assador perito e gafanhão orgulhoso, da Gafanha de Baixo! Tudo bem regado por um vinho alentejano branco Porta da Revessa, por um tintol adequado e por «água fresquinha», para os mais imaculados.
Para quem não dispensa a fruta, uva saborosa e graúda, melão aquoso e figos apetecíveis, acabadinhos de arrancar da árvore, a gosto.
Claro, não podia deixar de ser, mesa posta em toste do moliceiro, coberta por toalha colorida.
Ou não tenha servido esta embarcação de casa – dizia Raul Brandão.


A assar a chouriça, a bordo
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Algumas bateiras já vão ensaiando o pano, a hora da partida, 3 horas, aproxima-se. E nem milhares de  olhos conseguiriam captar tanta beleza.
De repente, aguarelas belíssimas saídas da paleta de pintor sublime, imaginário e criador, deliciam-nos.
É dado o sinal de partida, a brisa norte vai apertando, a marola sucede e a arte dos arrais é posta à prova.
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Aguarela surpreendente
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Um chamado «vento burro» (incerto) – refere o Ti Abílio Carteirista – faz «das suas». E uma boa meia dúzia de bateiras, entre as cerca de quarenta, concorrentes, virou. Nada de maior! «Quem anda à chuva, molha-se».
Junto das bóias, a ria lembrava uma pista de carros eléctricos de choque, em que cada um, neste caso, cada uma, lutava pelo melhor lugar.
As velas das bateiras, em competição, conforme a posição, ganham uma brancura que até fere a vista, tal qual um abat-jour iluminado por lâmpada poderosa.
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Abat-jours iluminados
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Neste dia, há pequenos/grandes pormenores, que completam e embelezam a «alma das bateiras»: a toste, o mastro e a vela, respectivos cabos e leme, por vezes, com sigla. O céu azul em que se empastelam, adornado de nuvens róseas acaramuladas, tal pedaços de algodão perdidos no infinito, completa o cenário.
Sinto-me encharcada de tanta beleza e quase não consigo ordenar as ideias e a prosa. Jorram!
Não conheci o proprietário da bateira vencedora, que tinha o casco beije, cor não muito usual para o costado desta embarcação. Prestou boa prova.

Bateira vencedora. Foto de TCS
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Em segundo lugar, o Marco Silva, que nos proporcionou belas imagens, a bordejar, com a borda debaixo de água e o camarada, em equilíbrio, em pé, sobre a falca. A serra como fundo, com casinhas brancas, soltas, incrustada no céu, qual pantalha azul, azul, azul…
 

A bateira do Marco, em 2º lugar
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Meu Deus! Que mais se pode exigir da natureza?
Foguetes e palmas para os primeiros classificados!...
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O intervalo entre corridas deu para ir a terra, esticar as pernas à borda-d’água, contemplar os chinchorros que se preparavam, visitar o café do Guedes e sentir a romaria.
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A travessia dos chinchorros é um espectáculo único, daqueles que nos faz ferver o sangue e que vale a pena vivenciar. Não possibilita grandes imagens, mas faz subir a adrenalina e o entusiasmo. Grandes homens e grandes mulheres! É a competição pura e quase feroz! Excitante, mas pacífica!


Chegada de chinchorros

Hora do regresso!
Meios chochos e cansados, «vimos da festa». A emoção gasta…
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Mas o lanche ajantarado preparado com desvelo pela Etelvina, com outras participações, «aqueceu a guelra». E, oh, oh, uma caipirinha, preparada a bordo, pela Lourdes, com todos, incluindo as muitas batedelas com o pilão, no meio de muito boa disposição, aqueceu a «malta». É que o vento norte soprava fresco e, então, o arrais, decidiu trocar o motor pela vela. Com maré e vento de feição, era um tal andar!...
No meio de grande azáfama e de alguns receios, era um tal obedecer a ordens:
 
- Pessoal para bombordo! Pessoal para estibordo! Tudo à proa! Mais gente para a ré!
- Caça o pano! Cuidado com as cabeças! Atenção à escota!
- Toste a bombordo! Toste a estibordo!
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Desligado o motor, é como que se apagou uma antiga máquina de petróleo.
E os barulhos naturais vêm ao de cima – o chape-chape da água da marola contra o costado, o ruído do vento, o panejar da vela, o piar de gaivotas e gaivinas – e são pacificadores!
Em frente à barra… entre o Triângulo e o Forte, à vista do porto de pesca costeira e do Sto. André, alguns chapiscos acordam-nos, no meio de tanta beleza.
Preparativos para a atracação – escota solta! Vela a panejar!
Chegada ao Oudinot e desembarque!
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Grande dia de ria, de romaria, de maresia e de agradável convívio. É de repetir!
Imagens da autora do blogue. A da bateira vencedora, gentilmente cedida por Teresa Cruz Santos
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Algures na ria, 6 de Setembro de 2013
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Ana Maria Lopes
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terça-feira, 3 de setembro de 2013

O «antes» do S.Paio - 2013

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Cumprindo uma ancestral tradição, a partir de amanhã e até ao próximo domingo, dia 8, a praia da Torreira, no concelho da Murtosa, volta a encher-se de gente vinda dos mais variados pontos do País, em maré de celebração, para a romaria do S. Paio, indiscutivelmente, a mais concorrida, popular e afamada da região.
 
A influência da festa é de tal ordem que ali o calendário é marcado em função da romaria e então é comum ouvir dizer-se que determinado assunto fica para “antes ou depois do S. Paio” – refere o Diário de Aveiro de hoje, 3.9. 2013.
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O texto despertou-me a atenção…
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Amanhã, começa a romaria e como adoro os preliminares das festas, resolvi ir até lá para ver, realmente visto, como «era o antes do S. Paio».
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Claro, as ruas já estavam engalanadas, como supunha, com as suas decorações e iluminações temáticas – davam-se apenas os últimos retoques e experimentavam-se as ligações.
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As primeiras tendas do que, agora, em todas as festas, são uma feira, já tinham chegado ou já estavam a chegar. Encontra-se de tudo um pouco e a preços de saldo, ou não tenhamos um país em saldo, desde as imagens mais devotas até à lingerie mais ousada e arrojada nas talhos e coloridos.
Como sou suspeita nos meus sabores marítimos, fui visitar os preparativos e os ensaios das embarcações que se preparavam para desfilar na ria, deixando boquiaberto quem aprecia. Deslumbrantes e etéreas aquelas velas disseminadas pela paisagem de uma beleza azulina e empolgante, deslizavam entre céu e ria. Tudo era atraente e não se passava dos preparativos.


Preparativos...
 
                                                     
Na sexta-feira, pelas 15 horas, não percam a regata das cerca de 40 bateiras, distribuídas por várias categorias, que nos surpreenderão, enchendo-nos a alma de cor, luz, reflexos e magia.
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Com dois tripulantes, já treinavam e acertavam as manobras, com fervor.
 

Treinavam…

Cerca das 17 horas, será o momento da actuação dos imponentes chinchorros, em travessia lagunar, com o entusiasmo vibrante e ágil das tripulações masculinas e femininas.


Chinchorro Raquel em competição (2012)
 

Enquanto alguns estaleiros, em Pardilhó e na Torreira, davam os últimos retoques a bateiras que desfilarão nas regatas, o moliceiro da Câmara Municipal da Murtosa sofreu, no estaleiro do Zé Rito, à beira-ria, uma amanhação de que estava bem carente, assim como o restauro de pintura e seus painéis, para a regata de moliceiros, no sábado, pelas 16 horas. O Zé Manel Oliveira não podia faltar, na renovação das decorações. Faz parte da romaria, ou seja, da «mobília», como sói dizer-se.


Zé Manel repinta a SANTA LUZIA
 

Em tarde quente de Verão, de pés a chapinhar na água acalentada, rodeei a elegante embarcação, para apreciar e fotografar mais quatro novos painéis naïfs e coloridos, verdadeiro exemplo de arte popular.


Painel de proa. EB
 

Painel de ré. EB


E a festa já se vive, na véspera, com entusiasmo, mas sem grandes rebuliços.
 
Vamos esperando que estes últimos dias quentes de Verão se vão aguentando (não é o anunciado…), para podermos apreciar o que de melhor e entusiasmante se faz na ria, a nível de romarias populares.
 
As outras, as que Deus tem, já foram!....
E no domingo, dia 8, dia do santinho milagreiro, lá desfilará a procissão, como é hábito, com os andores que lhe são característicos, acompanhados por diversas irmandades, grupos de escuteiros, representações de emigrantes, personalidades, bandas de música, entre as quais a famosa Banda do Visconde de Salreu, e muitos crentes, que cumprem promessas. Dando a volta até ao mar, saúdam os barcos, em homenagem aos grandes homens que ali entregam a sua vida, sempre ameaçados por grandes perigos, em busca de alimento diário.


O andor do S. Paio (2012)
 
 
E mais um S. Paio se avizinha. Vivamo-lo com alegria, em confraternização e percurso lagunares, a bordo de um moliceiro tradicional.
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Imagens – AML e Etelvina Almeida (chinchorro e andor)
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Costa Nova, 3 de Setembro de 2013
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Ana Maria Lopes
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