terça-feira, 14 de abril de 2020

Rostos de pescadores bacalhoeiros - no "Argus"


Com o Argus na Gafanha da Nazaré…presente, mesmo ao longe, pela imponência dos seus quatro mastros, pela sua história e memória, tive vontade, ao serão, de reler o I sailed with Portugal´s Captains Courageous escrito por Alan Villiers e traduzido pelo caríssimo Amigo Capitão Vitorino Ramalheira. Não resisti a respigar uns curtos parágrafos do excelente texto.
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Ainda menos resisti a evocar alguns dos rostos dos grandes homens da pesca bacalhoeira, no Argus, na campanha de 1950, eternizados pela notável objectiva de Alan Villiers.
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Cedo, na Primavera de 1950, fiz viagem com a frota de pesca portuguesa, de 32 veleiros, no Argus, gracioso lugre em ferro, de quatro mastros, construído em 1938 – 1939, um rei entre os navios portugueses (…).
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O piloto, um jovem bem disposto, de 22 anos, fazendo a sua 5ª viagem, disse-me que era o Primeira Linha, da Fuzeta, Francisco Emílio Baptista, o campeão dos pescadores de toda a frota. Em média apanhava uma tonelada de bacalhau por dia. Uma tonelada por dia! Olhei para ele espantado, porque não fazia a mínima ideia de que o peixe podia ser pescado em tal quantidade, na pesca à linha.
Os companheiros do Francisco tinham uma piada acerca das suas façanhas – “Ele tem o seu próprio viveiro” – explicou o segundo piloto. – “Vai lá e tira o seu peixe!”
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Especial, Francisco Emílio Baptista (Laurencinha)
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(…) António Rodrigues, de 63 anos, soube-o depois, fazia a sua 43ª viagem aos Bancos. Era um velhote simpático, cara castanha, mas o seu corpo era ainda activo e ágil, como um jovem (…).
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Especial, António Rodrigues faz leme... de Olhão
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Pescador especial, Joaquim Pedro Rolão, de Olhão 
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Espero que apreciem, tanto como eu, texto e imagens. Foi essa a minha intenção…ao rememorá-los.
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Fotografias de Alan Villiers – Cortesia da National Geographic Society
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Ílhavo, 14 de Abril de 2020
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Ana Maria Lopes-

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Cap. Jorge Trólóró


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Resquícios da Faina Maior…

Em tempos de clausura e solidão, sem nada que me entretenha, nem que me apeteça fazer, voltei a este homem do mar, que sempre ficou em suspenso. Queria registar algo da sua biografia, mas nunca consegui grandes elementos.  Há já uns anos, identifiquei uma senhora na Residencial do Casci, que sabia ter sido sua nora, mas, ao interpelá-la com custo, muito pouco consegui… confirmou-me o nome do marido, Jorge Manuel Tavares da Rocha, motorista, já falecido, e do sogro – Capitão Jorge da Rocha Trolaró. Confirmei, mas nada mais. O nome ou alcunha – nunca tive a certeza – apresentava-se-me com muitas variantes: Tróloró, Trolóró, Trólóró ou Trolaró. Acontece, por Ílhavo.

Bem, Jorge da Rocha Trólóró, segundo a sua assinatura da ficha do Grémio, era filho de Joaquim da Rocha Trólóró e de Maria Emília Nunes Vidal, natural de Ílhavo, tendo nascido a 30 de Março de 1900. E por cá viveu…
Casou a 27 de Setembro de 1922 com Maria Rosa Tavares da Rocha, de cujo casamento, nasceram os filhos Maria Jorgelina, Rosa Emília e Jorge Manuel Tavares da Rocha.
Era portador da cédula marítima nº 5.751, passada pela Capitania do Porto do Porto, que testemunhava que exercia a profissão de pescador do bacalhau desde o ano de 1919 como piloto e que deixou de exercer a profissão desde 1941, por motivo de doença. Citava o nome de dois navios, “Patriotismo” e “Delães” e meia dúzia de datas. Estava montado o esqueleto, mas era preciso completar os espaços descarnados. Há anos, deixei de lado, mas, hoje, voltei ao Trólóró, que não conheci, mas de que conheci o tal filho, motorista, que usava o mesmo nome do pai.

Vamos lá “pescar” os dados que faltam, servindo-me dos jornais de época, O Ilhavense, Beira-Mar e dos registos do João David Marques que são “um livro aberto”.
O primeiro registo escrito com que me deparei foi como piloto, em O Ilhavense de Março de1923, do lugre “Vencedor”, da praça do Porto, comandado pelo capitão Francisco de Oliveira.
Nas campanhas de 1926 a 28, continuou como piloto do lugre da praça do Porto, “Patriotismo”, sob o comando de Francisco de Oliveira.
Em 1929, mantendo-se fiel à mesma praça, mudou-se de saco e enxoval para o convés do lugre “Palmirinha”, como piloto, sob o comando de António Cachim Júnior, por aí ficando até 1930, inclusive.
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Observando o rumo… Anos 30
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Em anos de forte crise bacalhoeira, lá foi continuando, trocando de navio, passando a ter a seu cargo, em 1931, o comando do “Patriotismo”, que já servira, até 1939, tendo como piloto António Cachim Júnior. E este foi o “seu navio, em toda a década de trinta, tendo conhecido os pilotos Manuel Gonçalves da Silva (Paroleiro), Adolfo Francisco da Maia e João de Sousa.
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O lugre “Patriotismo”
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Final dos 30, a bordo do “Patriotismo”, em Massarelos
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O lugre de madeira “Patriotismo”, construído em 1923 por José B. Santos Borda, para a Parceria Marítima do Douro, Lda., fez a última campanha em 1939, tendo passado para o comércio, em 1940.
E o “nosso Trólaró”, eis que passou para o comando do lugre motor “Delães”, levando como piloto João Juff Tavares Ramos, nos anos de 1940 e 41. O famoso “Delães”, a quem a sorte não bafejou, em 1942. Tinha o destino traçado.
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O lugre “Delães”
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Mas, voltando ao nosso oficial, que havia pedido dispensa da profissão, em 1941, por questões de saúde, quando é que nos teria deixado? 
Não minto, se disser que há uns anos, folheei, já exausta, em duas tardes, 5 anos de jornais. Finalmente, repliquei, cansada, quando, o nosso jornal de 10 de Junho de 1947 noticiava, que tinha falecido esta madrugada, com 48 anos de idade, Jorge da Rocha (Troloró), oficial da Marinha Mercante, há muito tempo retido em casa, por pertinaz enfermidade.
Curta a vida!...  Desde tão novo, no mar!...
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Ílhavo, 8 de Abril de 2020
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Fotos: do “Patriotismo” cedida por J. David Marques e espólio pessoal
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Ana Maria Lopes-