Em
conversa de amigos, veio à baila o
Capitão Francisco Fernandes Mano, por quem o João Reinaldo Cruz manifestou ter
tido uma simpatia especial, pois autorizou que o seu Pai, Manuel Nunes da Cruz,
conhecido por Manuel Gestas, cozinheiro do lugre
António Ribau, o levasse com ele, no
navio, da Gafanha para Setúbal e de volta a Lisboa, no ano de 1960, enquanto
capitão do dito lugre. Foi uma prenda
por ter passado o ano, na altura com 15 anos. Há memórias que ficam gravadas…
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E
assim começou…outras histórias vieram a lume…
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O
Capitão Francisco Fernandes Mano, natural de Ílhavo nasceu em 1904 e deixou-nos em Junho de 1979, com 75 anos.
Foi
casado com a Senhora D. Cármina Gonçalves Fernandes Mano, casamento de que
nasceram a Rosa Armanda, a Isilda Maria, a Alzira Maria e o Francisco Mano, com
quem falei, aqui pela Costa Nova e me cedeu alguns dados.
Era
possuidor da cédula marítima nº 5299, de 1916, passada pela Capitania do Porto
do Porto, com 12 anos de idade.
Como
os colegas do seu tempo, terá ido, pois, bastante cedo para o mar.
Desde
que possuímos registos oficiais, foi, na campanha de 1929, embarcou de piloto no lugre
Ernani, sob o comando de Júlio
António Lebre, também de Ílhavo.
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O
lugre Ernani foi construído na
Gafanha da Nazaré, por Manuel Maria Bolais Mónica e lançado à água a 26 de
Dezembro de 1918, com o nome de Estrella
do Mar, para o Armador Santos, Moreira & Cª., de Aveiro, na posse do
qual se manteve até 1920.
Foi
pertença da Companhia Aveirense de Navegação e Pesca, Lda., de Aveiro, entre
1920 e 1921, tendo navegado com o nome de Apollo.
Passou
a chamar-se Ernani, aquando da
venda, em 1921, à Empreza de
Navegação e Exploração de Pesca, também de Aveiro, à qual Testa & Cunhas o
adquiriu, em 20 de Dezembro de 1927,
com o mesmo nome.
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Segundo
o jornal O Ilhavense de 10 de Agosto
de 1934, o lugre Hernani foi pasto
das chamas na Groenlândia, onde se encontrava a pescar, como é sabido.
A empresa armadora
tentou pelos meios possíveis saber notícias dos náufragos, até que o Ministério
da Marinha providenciou no sentido de obter informações, tendo, por fim,
informado que se encontravam distribuídos por vários navios, naquelas paragens.
Na
campanha de 1937, pilotou o lugre de madeira Vaz, ex-Vega, construído
em 1918, na Gafanha da Nazaré, por Manuel Maria Bolais Mónica, propriedade da
empresa Brites, Vaz & Irmãos, Lda., na campanha de 1929, tendo como capitão
o ilhavense João dos Santos Redondo.
Em
1938, exerceu o cargo de piloto, sob
o comando de Manuel Simões da Barbeira, meu avô, do lugre com motor Novos Mares,
tendo-o estreado, pertença da Empresa Testa & Cunhas, Lda. Esta primeira
viagem, sei-o de fonte limpa, fê-la só à vela, sem motor, pois este não tinha
chegado a tempo da campanha. Tempos de heróis…
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O Capitão Chico Mano, a bordo…
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Na
campanha de 1940, foi piloto do navio-motor de ferro, Santa Maria da Madalena, construído em
1939, nos estaleiros da CUF, para a Empresa de Pesca de Viana, sendo capitão,
Joaquim Fernandes Agualuza e imediato, Manuel Pereira da Bela, ambos de Ílhavo.
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N/m Santa
Maria da Madalena
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Na campanha de 1941, pilotou o lugre com
motor, de madeira, Rainha Santa
Izabel, ex-Rainha Santa, construído na Gafanha da Nazaré, em 1929, por José Maria Lopes de Almeida,
para a firma Pascoal & Cravo, Lda., em 1929. Por dissolução desta empresa,
em 1937 alterou o nome para Rainha Santa
Izabel, sendo então propriedade de Pascoal & Filhos, Lda. Foi seu
capitão o conterrâneo João de Sousa Firmeza.
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No ano de 1942, passou a pilotar o
lugre com motor, de madeira, Lusitânia III, sob o comando de João
Francisco Grilo, irmão do Senhor Padre Grilo. Este lugre foi construído em 1918
por José da Silva Lapa em Vila Nova de Gaia para a Lusitânia Companhia
Portuguesa de Pesca, com sede na Figueira da Foz.
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Lugre
com motor
Lusitânia III
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Nos anos de 1943
e 44, passou a imediato do lugre com motor, de madeira, António Ribau (ex-Navegante III da firma Ribaus & Vilarinho), sob o comando do
conterrâneo João Pereira Gateira.
No ano de 1946,
alcançou o comando do mesmo navio, de que foi capitão até 1952, inclusive. Entre os seus imediatos, teve, o ilhavense,
Fernando Hernâni Rocha Mano, nos anos de 1946 e 47.
Entretanto, a Sociedade Gafanhense, Lda. encomendou a
João Bolais Mónica, na Gafanha da Nazaré, o lugre
com motor Luiza Ribau, cujo
bota-abaixo foi em 1953. O nosso
capitão teve o prazer de o inaugurar e de se manter seu capitão, até 1957, inclusive. Dentre outros, foi seu
imediato o conterrâneo Alberto Marques Pauseiro.
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Lugre com
motor Luiza Ribau, em dia de bota-abaixo. 1953
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No ano seguinte, 1958,
teve o infortúnio de naufragar, sendo capitão no lugre com motor, de madeira, Santa
Izabel, construído na Gafanha em 1929 para a Empresa de Pesca de Aveiro
(EPA) – um dos quatro primeiros navios a ir à Groenlândia.
Naufragou em 1958,
pertença da Empresa de Bacalhau de Portugal, Lda., de Lisboa, na viagem de
regresso a Portugal. Ainda no pesqueiro, o navio estava a fazer água e, por isso, vinha acompanhado pelo n/motor de aço, Senhora da Vida, da mesma casa, do
comando do Capitão Alfredo Simões Júnior.
A situação tornou-se insustentável e o Santa Izabel foi abandonado, não sem
antes o terem incendiado, conforme os usos e costumes internacionais para tais
situações, e toda a tripulação foi recolhida pelo Senhora da Vida, que estava próximo.
Lugre com
motor, de madeira, Santa Izabel
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No ano de 1959,
passou para imediato do n/motor Avé
Maria, recém-construído na Gafanha da Nazaré, em 1957, sob o comando do
capitão Manuel José Fernandes.
Entre os anos 1960
e
62 (inclusive), voltou ao comando do António Ribau, tendo o navio naufragado neste último ano.
Segundo o jornal da terra O Ilhavense, de 1 de Maio de 1962, tendo saído de Lisboa a 18 de Abril, o António Ribau, ao chegar ao norte de S. Miguel, nos Açores, no
domingo de Páscoa, declarou-se incêndio na casa das máquinas. A tripulação foi
salva pelo vapor francês Fort Richepaure,
que a transportou para Ponta Delgada, de onde viria a ser trazida para Lisboa,
pelo vapor Carvalho Araújo.
Nos anos 1964 e 65, exerceu o cargo de imediato no
n/motor Rio Antuã, sob o comando do
capitão Francisco Teles Paião.
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O Rio Antuã,
em S. Jonh’s, em 1967
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Na campanha de 1967,
voltou a capitão do Luiza Ribau,
tendo como imediato João António Machado Marques.
Em 1968,
dou como findo o seu percurso marítimo, com uma viagem de imediato no n/m Vila do Conde, tendo como capitão,
muito possivelmente, o também ilhavense Ernesto Manuel dos Santos Pinhal.
Conheceu uma diversidade de navios, passou por
«algumas mudanças de cadeira», que nos permitem recordar ou imaginar alguns dos
anacrónicos, mas belos veleiros, que constituíram a nossa frota, bem como
alguns navios-motor, mais modernos, mas menos bonitos.
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Fotos
– Arquivo pessoal e cedência do filho do Capitão
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Costa
Nova, 14 de Setembro de 2016
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Ana Maria Lopes
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