segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O Barco processional de S. Pedro - 2

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Segundo várias fontes bibliográficas, dentre as quais Palheiros do Litoral Central Português de Ernesto Veiga de Oliveira e Fernando Galhano (1964), na p. 73, por volta de 1808, o arrais Luís dos Santos Barreto (Luís da Bernarda), de Ílhavo, com a maioria das gentes que iam pescar a S. Jacinto, decide arriscar a sua sorte, em busca de pescarias mais proveitosas, a sul. Acaba por se estabelecer na dita Costa Nova, em frente ao Prado da Gafanha.

Também, por volta de 1808, o seu irmão José da Silva Barreto arriba com a sua companha composta exclusivamente por ílhavos, ao areal da Cova, em terras de Lavos. A companha dos «Luizes» rapidamente povoa o local, chegando a erguer uma exígua capela perto da Gala e a instituir a festa de S. Pedro, como padroeiro dos pescadores.

O que acontece é que esta data de 1808, actualmente, é posta em causa pelo pesquisador Hermínio de Freitas Nunes, que indaga junto dos assentos paroquiais.

Segundo me informou: (Sic) A fundação da primitiva povoação dos palheiros da Cova pelo José dos Santos Barreto não passa de uma lenda inventada por quem não conseguiu, ou não soube, chegar mais longe. O José dos Santos Barreto, quando saiu da Costa Nova para Sul, foi casar a Lavos com uma filha de um ílhavo que já lá estava há mais de duas décadas, juntamente com outros, todos casados com mulheres naturais da freguesia de Lavos.

Quando chegou à Costa de Lavos – o José dos Santos Barreto – já existiam ali palheiros e viviam lá pescadores. Só que, como depois alcançou relativa fortuna e chegou a dono de companhas, ganhou o estatuto de protagonista da história.
Os documentos são teimosos e contam uma outra história... a verdadeira: a dos homens e mulheres simples, pescadores e pescadeiras que, esses sim, escreveram a verdadeira história da colónia de pescadores das praias da Cova, Costa de Lavos e Leirosa.

Devoções idênticas com a presença na procissão dos oragos locais de barcos processionais, havia também na Costa da Caparica e na Ericeira, dentre outras, porventura.

E tradição semelhante continua, com o desfile processional actual, na Costa Nova, com o Santo Amaro, em barco do mar, aos ombros de pescadores.



Senhora da Saúde de 2011


Mas, propriamente da obra de arte em causa, pouco mais sabia do que para trás colijo.
Era indispensável contactar com uma pessoa da família Maia Mendonça; para me facilitar esse conhecimento, foi fortuito, mas proveitoso, um encontro com a esposa do Senhor Dr. Pires da Rosa, em que veio a lume a vontade manifesta da Família de depositar o Barco de S. Pedro no Museu, desde que todos os elementos da Família concordassem.

Lá lhe indiquei os passos a seguir e ninguém melhor para encabeçar o assunto que o próprio Dr. Pires da Rosa com quem vim a falar, colocando-lhe todas as questões que urgia saber e que seriam úteis e habituais na incorporação de uma peça em Museu.
Quem o teria construído? Quando? Desde quando residiria, ali, no nº 15 da Rua de Espinheiro, morada que foi do Sr. Tenente Alberto Mendonça  e sua esposa Maria Casimira Gomes da Cunha?

Depois da cerimónia de depósito da peça no MMI, no dia 22 de Outubro de 2011, a intervenção simples e sentida do senhor Dr. Pires da Rosa, que O Ilhavense de primeiro de Novembro transcreveu na íntegra, testemunha tudo que ele sabe e viveu, junto desta peça da Família, que nesse dia entregou à guarda do MMI.

Estes registos de memória são o meu enlevo.



À proa…na sua nova residência


Cumpre-se assim uma vontade também expressa pelo Dr. Rocha Madahil, em 1933, primeiro Director do Museu, e do Sr. Américo Teles, grande impulsionador da criação do mesmo e que creio que chegou a ir ver o barquinho, ali a casa, há uns anos muito largos.


Como ilhavense, como vizinha da Família, como elemento dos Amigos do Museu, os nossos agradecimentos ao gesto louvável da Família Tenente Mendonça.



Pormenor à popa


Fotos da autora do blog.

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Ílhavo, 26 de Dezembro de 2011


Ana Maria Lopes
Ana Maria Lopes

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Natal de 2011

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Outro Natal se avizinha. É o quarto do Marintimidades. Inspirada nestes belos Cisnes da Laguna, desejo a todos os Amigos, leitores e apreciadores deste blogue, um Natal Feliz, cheio de afectos e saúde.




Ílhavo, 22 de Dezembro de 2011

Ana Maria Lopes
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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Destaque da Marinha

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ÚLTIMA HORA

Informo, com grande prazer, é uma honra para todos os ilhavenses, que o prémio bienal "Almirante Sarmento Rodrigues" / 2011, da Academia de Marinha, foi atribuído à obra Embarcações que Tiveram Berço na Laguna do Engenheiro Senos da Fonseca.




Fonte: Site da Academia de Marinha

Ílhavo, 19 de Dezembro de 2011

Ana Maria Lopes
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domingo, 11 de dezembro de 2011

O Barco processional de S. Pedro - 1

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Há muito que ando para alinhavar duas linhas sobre o barco processional de S. Pedro, desde que o visitei há dois anos, ali umas casas abaixo da minha, na posse da Senhora D. Zídia Mendonça. Amavelmente mo mostrou e deixou fotografar, sempre receosa que a rara peça de arte sofresse, com as deslocações, algum pequeno dano – apercebi-me.


Tendo conhecimento que aquele barquinho teria estado presente, em tempos, numa antiga festa de S. Pedro, celebrada em Ílhavo, tentei informar-me melhor.


Como? Para já, lendo, consultando, pois a senhora, já de provecta idade, não me soube dizer muito mais. Informou-me que, mais tarde, a tão delicada peça ficaria para uma sua sobrinha que mora em Trás-os-Montes. Pensei – uma miniatura do barco do mar, tão representativo da religiosidade da terra, com tanto valor afectivo para Ílhavo, desafortunada, que iria fazer para Trás-os-Montes? Muito bem ficaria ela no nosso Museu – que fazer?


Tendo bem à mão o delicado livrinho Senhor Jesus dos Navegantes – Mar e devoção (2007), respiguei o que os autores escrevem a este respeito, p. 12:

(…) A devoção pela imagem do Senhor Jesus, creio que começou sem ligação marítima continuando a invocação da imagem só como Senhor Jesus até finais do séc. XIX, fazendo-se em Ílhavo a festa de pescadores em devoção ao S. Pedro Apóstolo. As várias companhas de pesca costeira da Costa Nova, depois da esmola recolhida por todos, faziam a sua procissão que se festejava no dia 29 de Junho.

A imagem de S. Pedro tinha lugar de honra num pequeno barquinho, onde figuravam os apóstolos, uns remando, outros a colher redes, e a imagem de São Salvador, o padroeiro da Vila, à proa, abençoando também o trabalho da faina. Desta antiga devoção, que terminou com a dissolução das antigas companhas pouco depois de 1840, hoje restam apenas as figuras dos apóstolos do antigo barco processional que saía por ocasião da festa ao S. Pedro, actualmente nas reservas do MMI.



Com a abertura da barra de Aveiro em 1808 (…), a construção dos estaleiros e organização de campanhas de longo curso deu início a uma nova devoção dos pescadores ilhavenses, transitando a grande festa religiosa que se celebrava ao S. Pedro (das pequenas campanhas de costa), para a actual festa dos marítimos em honra do Senhor Jesus dos Navegantes. Embora numa acta da Junta de Paróquia de 7 de Agosto de 1865 apareça a despesa da Festividade do Senhor Jesus e São Sebastião (referente a 1864), a imagem com a nova invocação marítima de Festa do Senhor Jesus dos Navegantes, apenas aparece em ex-votos pintados de finais do séc. XIX e início do séc. XX, propriedade da nossa Igreja Matriz.

Com o incremento económico dos capitães nas prósperas campanhas ao bacalhau, a devoção cresceu e a fé ilhavense projectou-se com brilho, na Festa ao Senhor Jesus dos Navegantes.

Refere ainda que o andor da antiga procissão ao S. Pedro em Ílhavo ainda serviu em início do século XX na procissão de Nossa Senhora da Saúde, na Costa Nova, no último domingo de Setembro.

Em 200 Anos de Memória da Costa-Nova do Prado (2009), Senos da Fonseca relata também, na p. 169, que na Costa Nova, os festejos em honra da Senhora da Saúde, iniciados em 1837, vieram substituir a primitiva festa de S. Pedro em Ílhavo – tornando-se a festa das Companhas – passando a ter data fixa, no último domingo de Setembro. E assim continua, nos nossos dias…





Começámos, através das leituras feitas, a pensar que terão sido vários os barcos processionais a desfilar no préstito do Sr. Jesus dos Navegantes e Nossa Senhora da Saúde. Estamos em crer que este foi o último a fazê-lo, já então na Costa Nova.


De consulta em consulta, rapei da estante o Etnografia e Memória – Bases para a Organização do Museu Municipal de Ílhavo, (1933), em que Rocha Madahil, na p. 80, refere a presença de um barquinho na Exposição de Arte Ilhavense, em 1932.


(…) Tinham eles antigamente a sua festa em Ílhavo, ao seu patrono S. Pedro, e na respectiva procissão apresentavam o andor do barco do mar (…) E o barquinho com as miniaturas de pescadores aos remos, muito hirtos e aprumados, tombando com os balanços do andor, uma rêdesinha e uns rolinhos de corda à ré, junto ao arrais, passou a fazer parte da procissão de Nossa Senhora da Saúde.

Conserva-se ainda esse belo barquinho e esteve presente na Exposição de Arte Ilhavense de 1932; seria um acto de grande civismo e muito de agradecer, se o seu actual proprietário consentisse em depositá-lo no Museu; é uma peça valiosa pelas tradições que lhe estão ligadas e que ele representa e evoca.






Barco rústico, desproporcionado, mas com sabor arcaizante e sacro, com apóstolos hirsutos, gigantes, para a embarcação, quase talhados a naifinha, de uma policromia enegrecida.

Em tons de azul e vermelho escuros, com vestígios de pequenos motivos a ouro, próprios de arte sacra, é dono de uma beleza sui generis.



Parece-nos que terá mais de um século, princípios do século XX ou finais do século XIX (não há dados rigorosos).

Em madeira de tom acastanhado, tem o costado decorado com florões geometrizados, ricos em pormenores e apresenta nos dois bordos, também policromada, a cor de mel, num fundo mais escurecido, uma inscrição que reza VIVA A COMPANHA DOS LUIZES.



VIVA A COMPANHA…


Falando em Exposição de Arte Ilhavense, em 1932, o jornal O Ilhavense não podia deixar de ter uma palavra no número de 3 de Abril de 1932 – A propósito da Exposição de Arte Ilhavense, em Sala Marítima, refere… Naquela sala, vimos (…) o barco dos pescadores que todos os anos vai na procissão da Senhora da Saúde.



...COMPANHA DOS LUIZES


Seria um precioso elemento situar no tempo a Companha dos Luizes, mas por dados catados em livros e documentos, ela existiu entre 1808 (?) e 1930, ano em que ainda estava registada em livros da Capitania de Aveiro, existentes no Arquivo de Marinha, sito na Cordoaria Nacional de Lisboa. É um período muito lato que nos deixa algumas dúvidas. E aqui começa a complicação e a insegurança da datação da existência da dita COMPANHA DOS LUIZES.

(Cont.)


Imagens – Autora do blog

Ílhavo, 11 de Dezembro de 2011


Ana Maria Lopes
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