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A
ria, na zona norte têm andado muito activa. E andarilhámos para lá.
Vimos
publicitado, há uns dias. Não podíamos faltar: recriação da pesca do chinchorro, «com lanços para a borda»,
na praia do Monte Branco, Torreira – Murtosa, pelas 9 h e 30.
Não
podíamos faltar e assim foi. Que grande madrugada! Mas que belo dia de calor
estival, ao sabor da brisa lagunar e do pé na areia e na água.
Ao
chegar, quando se começa a sentir aquele odor a maresia, numa comunhão de céu, água e serranias longínquas envoltas
em neblina, o espírito brilha, em fulgor, tanto quanto a laguna espelha a luz
do sol, que, de ter acordado, ainda se espreguiça.
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Toda
a embarcação que navegue na ria, para quem está na borda, tem um efeito de
contraluz, que seduz os espíritos mais sensíveis.
Efeito de contraluz
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A
belíssima, colorida, e elegante bateira
da chincha (ou chinchorro) e os
seus camaradas já treinavam, fazendo exercícios de aquecimento e encadeando os
assistentes, ao rasgar com seus longos remos, o brilho estonteante das águas.
Ambiência
e cenário não nos faltavam.
Com
maré cheia, em acolhedora baía em que a água banha a areia, em seis ou sete
lanços, os «artistas» e embarcação recriam o espectáculo.
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Quis
olhar com outros olhos, pois ainda me lembro de se pescar à chincha, na Costa Nova, alando
a rede para a borda, para as coroas
ou para a própria bateira. Mais
tarde, alguns grupos de veraneantes amigos também promoviam, para seu deleite,
as próprias chinchadas (uma, pelo
menos, por ano, em meados de Agosto, era designada a chinchada monumental).
Dia de arromba para esses pescadores
por um dia, em contacto directo com a ria, de calção ou calça arregaçada – daí
a expressão de «ir à chincha».
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A
arte do chinchorro, maior que a da chincha é uma arte lagunar de arrasto. Duas
mangas de cerca de 25 metros conduzem
à bocada, onde se insere o saco de cerca de 4.50 m, que vai
adelgaçando, em direcção ao fundo. As mangas
terminam pelos paus de calão, a que
se prendem os cabos que manuseiam a rede – o do reçoeiro, que fica em terra e o da mão de barca, que regressa à borda, depois de largada a arte. A tralha das pandas, actualmente formada
por pequenas bóias de esferovite atijolada,
debrua a parte superior da rede, enquanto a tralha
dos chumbos constituída por pequenas malhas de cerâmica de dois furos, os pandulhos, fazem mergulhar a rede,
bordejando-a, inferiormente.
Explicada
no essencial a arte, vamos à faina.
Impulsionada a
bateira…
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Impulsionada
a bateira, dois ou três homens ficam
com o cabo de terra, nas mãos, aguentando-o fortemente, de água pela cintura.
Seguram o
reçoeiro
Num
remar batido, lesto e ritmado, com dois longos remos, terminados pelas macetas, junto ao punho, a bateira
afasta-se.
A bateira lançando a rede
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Vai
lançando a rede em arco, até que abica
e dois ou três camaradas saltam para a água, sustendo o cabo da mão de barca.
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Seguram o chicote
da mão de barca…
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Entregam-se
atentamente ao alar das redes,
puxando as mangas, deixando-as
descair uma sobre a outra e, ao mesmo tempo, fechando o cerco.
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Alam a rede,
fechando o cerco
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Hoje,
o resultado da pescaria não foi nada animador – nada mais que uns peixitos
prateados e saltitantes, umas enguiazitas serpenteantes e, que se visse mesmo,
uma solha maior, espalmada. Caranguejos, de várias espécies, esses, eram mesmo
em abundância. E os lanços repetiram-se as vezes necessárias à observação dos mirones e até que a caldeirada, a
preparar na praia, lhes compensasse o esforço. Putos de ontem, homens de hoje! Homens
da ria, habituados a tirar dela o seu sustento! Grande gente, experiente,
sabedora e trabalhadora! Dignos de apreço! Desejarão, porventura, outra vida
para seus filhos!
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E
eu, tão, tão encalorada, calcava a areia escaldante. Face afogueada e
brilhante, olhos ardentes e lábios salgados, desejava mesmo uma sombra
pacificadora e uma aguinha fresca.
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E
aí me estatelei na areia, ao abrigo do excesso de sol, mas não da paisagem –
pinos e arbustos verdejantes, recortados no azul do céu, reclinavam sobre a
areia que a água lambia, na sua languidez habitual.
E
ao longe, observava os preparativos da caldeirada à moda antiga. Com um tacho
pendurado numa vara enterrada, em diagonal, na areia (o vasculho, auxiliar da arte),
e uma fogueira improvisada com umas ramagens e uns gravetos, o que dava mesmo
nas vistas era o colorido dos «pozes de enguia».
E
entretida a olhar as bandeiras novinhas em folha que flutuavam, plasmadas no
azul do céu, do que me lembrava mesmo é que faz muita falta, na nossa Costa Nova,
uma praia fluvial protegida, com condições adequadas, uma praia mesmo AZUL.
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Quem
se lembra do que sobrou do Bico, saboreou e viveu os prazeres da ria, das
embarcações e das barracas riscadas da Biarritz
e até de San Sebastian, sente-lhe
mesmo muito a falta, sobretudo para os jovens de agora.
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Imagens
– AML
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Praia
do Monte Branco, 29 de Junho de 2013
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Ana Maria Lopes
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