O “Ilhavense”, de 11 de Janeiro de
1945, referencia: Em 1945 a frota bacalhoeira
será aumentada de algumas novas e grandes unidades. Pode contar-se como certa a
incorporação do Maria Frederico e do Inácio
Cunha de Testa & Cunhas Lda., que descerá na carreira, no fim do
corrente mês ou em princípios de Fevereiro.
O Inácio Cunha na carreira – 1945
Chegou, então, o dia festivo para o navio-motor Inácio Cunha, o dia 25 de Abril de 1945. Há 74 anos. Tudo a postos para a grande cerimónia.
Como a maré para o bota-abaixo fosse só pelas 17 horas, a
empresa armadora decidira oferecer, entretanto, a cerca de 200 convidados, um
lauto e regional almoço, num salão dos seus armazéns.
Na presença de todos os membros do
Governo, vindos de Lisboa, das individualidades civis e religiosas, locais, dos
armadores e dos muitos convidados, tiveram lugar as cerimónias da praxe, nos
estaleiros da Gafanha da Nazaré: discursos, agradecimentos, bênção do navio
pelo Sr. D. João Evangelista de Lima Vidal, o baptismo com o partir da
simbólica garrafa de espumoso contra a roda
da proa da embarcação, pela madrinha, Sra. D. Adília Marques da Cunha.
Manuel M. Mónica num discurso
inflamado e a madrinha
(…)-
Finalmente, o Sr. Ministro da Economia cortou o cabo da bimbarra, mas o
navio manteve-se, por algum tempo, estático. Correram pressurosos os
construtores e demais pessoal, para alguns trabalhos de emergência, e, passado
algum tempo, o Inácio Cunha deslizou
serenamente na carreira para nadar, tranquilo como um cisne, nas salsas águas
da Ria.
Acenaram-se lenços, estalaram foguetes, a música executou um número
alegre e os armadores e construtores receberam os abraços e parabéns da praxe. – refere o jornal, “O Ilhavense”, de
2 de Maio de 1945.
O novo navio-motor, um dos primeiros do tipo CRCB., construídos por Manuel
Maria Mónica, na Gafanha da Nazaré, media 52,72 metros de
comprimento, fora a fora, 10, 44
m . de boca e,
aproximadamente, 5, 50 m .
de pontal. Dispunha de todos os aperfeiçoamentos
modernos, incluindo telegrafia e telefonia, belas instalações para a tripulação
(69 tripulantes e pescadores e três oficiais), dispondo de 57 dóris.
A propulsão era feita por um motor
Deutz de 550 H.P., deslocando-se a cerca de 9/10 milhas horárias. A tonelagem
bruta era de 775,42 toneladas. e a líquida, de 494,83.
Por cálculos de construção,
esperava-se que viesse a carregar nos seus porões, sensivelmente, 12 000
quintais de bacalhau.
O Inácio Cunha, frente à empresa – 1945
A viagem inaugural do Inácio Cunha foi feita pelo Capitão
José Gonçalves Vilão, bem como a campanha seguinte (1946). Por lá passaram, no
seu comando, nos anos de 1947
a 49, Elias Andrade Bilhau, natural de Lavos, Figueira
da Foz; João dos Santos Labrincha (Laruncho),
de 1950 a
1955; Manuel da Silva de 1956
a 60. Entre 1961 e 1962, comandou-o David Calão Marques.
Na campanha de 1950, trouxe os
náufragos do navio-motor Cova de Iria, que havia naufragado,
devido a água aberta.
Entrada em Leixões com os náufragos
do Cova de Iria. 1950
Parece-me ter tido uma existência
pacífica, com as atribulações e perigos, inerentes àquela dura faina.
No ano de 1962, o Capitão David
Marques declarou à empresa 11 162 quintais de bacalhau, de acordo com o seu
diário de pesca, pelo que o navio abandonou a pesca e chegou a Aveiro
sobrecarregado, pondo em perigo o navio, a sua carga, seus pertences e vidas
humanas. O que se fazia por mais uns quilitos de bacalhau, para ganhar a
vida!!!!
Bem no fundo, à chegada. 1962
Também Ernesto Manuel dos Santos
Pinhal comandou o navio de 1963
a 1966, ano em que naufragou, a 28 de Agosto, por motivo
de incêndio a bordo, quando estava prestes a completar o carregamento, nos
mares da Gronelândia.
A tripulação foi acolhida a bordo do
navio-motor Sotto Maior, que a
encaminhou para o navio-hospital Gil
Eannes, a fim de ser repatriada.
Todos os Capitães, de quem me lembro
e com quem convivi, foram nossos conterrâneos, com excepção de Elias A. Bilhau.
Nas tranquilas águas da Ria, na
Gafanha da Nazaré, frente a Testa & Cunhas, eis, em primeiro plano, o Inácio Cunha e, pela popa, o São Jorge, de braço dado com o Novos
Mares; avista-se, em último plano, o Avé-Maria.
Reinavam, por aqui, os navios-motor.
Imagens – Arquivo pessoal da autora,
da Fotomar, da Foto Resende e de João David Marques
Ílhavo, 25 de Abril de 2019
-
Ana Maria Lopes-