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“Foi
a melhor homenagem que te podiam ter feito” – alguém opinou junto à ria,
perante o painel de proa de BB do moliceiro “S. Salvador”.
Parece
que sim, respondi. Será? Singela, mas muito sincera, por parte José Oliveira
(Zé Manel), com a anuência da proprietária da embarcação, Maria Emília Prado
Castro. Sensibilizou-me, sem dúvida.
Vou
andar a vogar pela ria, em quadro flutuante, pelo menos, por uns tempos. E mais
não digo.
Conhecemos
o Zé Manel, pintor, eu e o Miguel, em 1989, enquanto pintava o moliceiro «JOÃO
MANUEL», A 2040 M, em terreno verdejante e arenoso, à beira ria, foto nº
129, reproduzida em “Moliceiros – A Memória da Ria” (2ª edição).
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O
Zé Manel a pintar em 1989, à beira-ria…
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Segui-lhe
a execução com entusiasmo, indo três tardes à Torreira, frente ao
Museu-Estaleiro, um dos mais belos recantos da ria, para reter o seu
desenvolvimento, nas diversas fases de execução. Inspirado numa fotografia,
depois de os painéis já delineados e pintados a verde, vermelho e amarelo (belas
cercaduras florais), surgiu o esboço do rosto por decalque em papel vegetal.
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Pintura
das cercaduras florais
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Passados
dois dias, o rosto já decorado, em tom rosa cárneo, cabelo branco
revolto, óculos delineados ao pormenor, já se identificava a pessoa, por quem a
conhecesse. Sobre a ria e céu azuis, alguns moliceiros, lateralmente,
enquadravam a figura central.
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Motivo
central a meias tintas…
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Na
terceira tardada, a pintura está quase concluída. Muito trabalho, na nossa
ausência tinha sido feito, pois o moliceiro tem mais três painéis e mais alguns
adornos em locais de referência. Com a Etelvina de assistente e boa companhia,
presenciámos a técnica do “sombreado” a preto, tão importante, com “o biquinho
de pardal”, pincel de cerdas muito fininhas, que transmite o realce final à
decoração.
Para
terminar, a legenda, em tetras maiúsculas e entre aspas, como é hábito, sobre
tira de fundo róseo – «MOLICEIROS – A MEMÓRIA DA RIA»,
o grande livro, vivido, pesquisado e escrito por mim, com o maior dos
entusiasmos e fotos do meu filho Paulo Godinho, um jovem à época, com o
entusiasmo próprio da idade.
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Pronto,
com a “modelo” por perto
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Já
posso “partir” para a outra margem, à falta de “barca”, navegando sobre a ria,
em painel flutuante de moliceiro. Muito grata ao Zé Manel, que conheço há 33
anos e de quem tenho acompanhado o percurso, com alguma regularidade, até hoje,
quer em painéis pintados de novo, quer como júri de painéis de moliceiros,
desde 1988.
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Painel
flutuante, pronto a navegar
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Ílhavo
17 de Junho de 2022
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Ana
Maria Lopes
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