segunda-feira, 18 de novembro de 2024

"Desafios do Mar Português"

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O Museu Marítimo de Ílhavo realizou no passado sábado, dia 16, pelas 10 horas, a 12ª edição do Seminário “Desafios do Mar Português”, assinalando o Dia Nacional do Mar. Foi dedicado ao tema “Ria de Aveiro: Sustentabilidade e Património”, aprofundando a relação entre o desenvolvimento económico, os desafios ambientais e a preservação dos recursos naturais e culturais. Reuniu um diversificado painel de especialistas, associações e decisores políticos, proporcionando uma plataforma para um diálogo construtivo, tendo sido muito concorrido.


Painel de especialistas e associações…
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Bastante concorrido…
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Durante o seminário, foi apresentado o livro “Arqueologia do pau-de-pontos do moliceiro”, da autoria de Vítor Pereira Mendes. vencedor da última edição do “Prémio de Estudos em Cultura do Mar – Octávio Lixa Filgueiras”.

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Capa do livro
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Ílhavo, 18 de Novembro de 2024

Ana Maria Lopes

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sábado, 9 de novembro de 2024

Uma mulher na pesca do bacalhau!...

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No “Diário de Aveiro” de anteontem, 7 de Novembro de 2024, este título de uma crónica de João Pires Simões chamou-me a atenção.

No início dos anos 80, um navio (…) teve um piloto do sexo feminino, uma rapariga de Oeiras, destemida, que entrava nas lanchas e trabalhava juntamente com os pesadores, nos bancos da Terra Nova. O comportamento dos homens passou a ser diferente, onde não se ouvia uma asneira, pois ela sabia dar-se ao respeito. De seu nome Helena Julião, não foi fácil, pois a pesca requer uma “endurance” física e psicológica e passou por tudo, para depois passar a imediato de outro navio.

Perante o que, para mim, era uma novidade, na posse do nome, fui consultar o “Portal de Homens e Navios”.


Helena Julião


Pesquisei Helena Julião e, então, apareceu-me o nome completo, Helena Maria Rodrigues da Costa Julião, natural do Socorro, Lisboa.

Nascida em 12 de Junho de 1957, era possuidora da cédula marítima nº 13, passada pelo Porto de Lisboa, em 15 de Fevereiro de 1984. Na ausência de mais dados, com excepção de fotografia, a ficha do Grémio regista que exerceu o cargo de praticante de piloto, na arrastão “Santo André”, 2ª viagem, em 1985, com o capitão Manuel Silva Santos e, no ano seguinte, 1986,  o de imediato, no navio “Neptuno”. São muito poucos dados, mas não deixaram de despertar a minha curiosidade. Terá sido a primeira mulher a embarcar na  pesca do bacalhau.

O Amigo João David Marques chamou-me a atenção que tem um depoimento no livro “Santo André – Memórias de um navio”, editado pelo Museu Marítimo de Ílhavo em 2019, pp. 163-164.

Ainda me informou que houve outra mulher na pesca do bacalhau, esta, Bela Cardoso, da Gafanha da Nazaré, que, em 1986, embarcou no “Almourol” com o capitão Manuel Pedreiro e o imediato David Calão. Fez, pelo menos, 3 viagens,  e, depois, passou para o comércio.

Imagem gentilmente cedida pelo MMI.

Ílhavo, 9 de Novembro de 2024.

Ana Maria Lopes

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terça-feira, 5 de novembro de 2024

O Bote Catraio de Passagem da Bacia do Tejo


Continuei o meu caminho e, ao entrar no magnífico porto de Lisboa, dei por mim a pensar que estava na altura de construir um barquinho que só tinha visto numa vitrine da Sala da Pesca do Museu de Marinha, como representação dos pequenos transportadores de passageiros, que ligavam esta cidade à outra banda, como então se dizia.

Procurei no Pavilhão das Galeotas do Museu de Marinha e lá encontrei o que tinha pensado. Era o bote catraio de passagem, que, embora numa dimensão um pouco diminuta, logo me pareceu ser este o modelo que ficava a aguardar oportunidade e disposição para dar início a um novo trabalho, que ia enriquecer a minha colecção.

Era um belíssimo trabalho da coleção Seixas, que como todos é de uma perfeição e rigor inexcedíveis.

Não foi preciso mais nada para me dar a coragem que me andava a fazer falta. Preparei um plano de formas na escala de 1/25, como me é habitual, para que este modelo possa vir a fazer parte da minha já vasta colecção. É um airoso barquinho de formas perfeitas. Como trabalha com velas de espicha vai enriquecê-lo duplamente, pois será o primeiro desta arte.

Agora nada mais era preciso para começar a preparar o estaleiro e procurar nas minhas reservas os pedaços de madeira de limoeiro que me iam permitir fazer a quilha e as rodas da proa e da popa.

Prontas estas peças, chegam os pormenores e o trabalho vai com mais vagar. As escarvas de ligação devem ser perfeitas, para o conjunto ficar resistente, desempenado e certo no comprimento que o modelo tem. De seguida, é o alefriz que vai levar algum tempo para ficar bem graminhado, principalmente no redondo da roda de proa.

Agora, durante a montagem no estaleiro, tudo tem de ser feito com atenção. A quilha deve ficar bem segura, com a roda e o cadaste alinhados e fixados na vertical, para que o barquinho se construa perfeito.

Chegou então a altura de tratar das cavernas e as primeiras são as duas da casa mestra. Como são iguais, são marcadas e serradas ao mesmo tempo e depois de prontas assentes na quilha nos respetivos lugares, marcados previamente, de acordo com a informação retirada do plano de construção.

Com a colocação de mais algumas cavernas para vante e para ré das mestras, o meu bote começa a mostrar as suas formas elegantes e bem proporcionadas.

Aos olhos de quem o observa, as linhas do seu casco parecem ter sido retiradas de algum gabinete de arquitectura naval, traçadas por mestre muito sabedor.

Estou convencido, se hoje esse gabinete tivesse que idealizar uma embarcação de vela e remo, para executar o trabalho de transportar pessoas de um para outro lado da bacia do Tejo, ou passageiros e tripulantes de navios ancorados neste porto, serviço que a esta estava destinado, nada alterava ou modificava nesta pequena embarcação.

O desenho que me orientou é de Francisco Dias datado de 1929, o que me leva a pensar que teriam sido os barqueiros que navegavam nestes catraios, os chamados catraeiros, que reunidos em grupo, formaram a conhecida Companhia dos Catraeiros. Recordo que, era aos Catraeiros que eu fazia a requisição das lanchas e reboques, quando eram necessários para as manobras do meu navio em porto.

Mas voltando ao meu modelo; quando o casco ficou pronto e afagado a preceito, chegou a altura de começar a preparar o leme, as bancadas e os paneiros. Ainda faltava o mastro do grande, o da catita, o gurupés, o botaló e as varas das espichas, para poder tirar a dimensão e a forma dos painéis da vela grande, da catita e da de estai, que me permitiriam riscar no pano as respectivas velas.

Como este bote usava a arte de espicha (velas em que o punho da pena é esticado por uma vara em diagonal), este plano vélico era também uma novidade para mim e foi necessário aprender. Depois de cortadas, bainhadas, entralhadas e envergadas nos respetivos mastros, foi com muito gosto que verifiquei que o meu trabalho tinha resultado.

Faltava ainda fazer dois pares de remos, uma fateixa, um balde e um vertedouro para o meu bote catraio de passagem ficar aparelhado.

Resolvi deixar este modelo sem pintura. Dei isolante por fora e por dentro e revesti tudo com recuperador incolor para ficar à cor da madeira. Como sempre, apliquei madeira de limoeiro nas peças estruturais, choupo no costado, tola nas cintas bancadas e remos. Ramos de ameixieira nos mastros e varas. Nas ferragens e âncora, usei cobre. Nas velas e cordame algodão.

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Por estibordo
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De cima…
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Plano de construção
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Plano vélico
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Este modelo do bote catraio de passagem da Bacia do Tejo construído na escala 1/25, representa uma embarcação com as seguintes dimensões:

. Comprimento fora a fora……6,62 m

. Boca………………………...…2,35 m

. Pontal……………………..…..0,89 m

 

Gafanha da Nazaré, 3 de Setembro de 2023

António Marques da Silva