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José
Teiga Gonçalves Leite, o jovem capitão, filho de José Gonçalves Leite Júnior e
de Alzira Teiga Leite, nasceu em Ílhavo, em 22 de Novembro de 1924. Filho mais
velho da D. Alzira, que sempre conheci viúva e, como filho mais velho de mãe
“viúva”, era o “homem” da família, para os irmãos mais novos, Armanda e
Francisco.
Era
possuidor da cédula marítima nº 24.250, passada pela Capitania do porto de
Aveiro, a 9 de Setembro de 1943.
Do
casamento com Maria Henriqueta Gomes da Cunha e Maia Mendonça, nasceram os
filhos José Alberto, Maria Solange e Maria Frederico Mendonça Leite. Passaram,
então, a residir, em Lisboa.
“O
jovem capitão Leite era típico dos jovens comandantes de Ílhavo. Hoje em dia,
em vez de começar como moço e progredir para o posto de pescador, o aspirante a
capitão tem um longo período de instrução académica, porventura mais teórica do
que prática. Mas, o capitão Leite ainda era um comandante à maneira da tradição
antiga, apesar de não ter mais do que vinte e cinco anos de idade. Era bem
capaz de conduzir o Gazela e de o navegar com grande velocidade, apesar
de o único outro navio de pano redondo em que servira tivesse sido o
navio-escola Sagres, onde o jovem Leite não passava de um entre 300 rapazes” –
escreve sobre o capitão Leite, Alan Villiers, na sua Campanha do Argus,
que acompanhara na safra de 1950, sob o comando do Capitão Adolfo Paião.
E
continua: “José Leite olhou em volta da pequena câmara branca, limpa e
imaculada, com a velha bússola pendurada em argolas acima do lugar do capitão
(o seu lugar) à mesa, de modo a que pudesse ser vista de lá de baixo, para que
o capitão estivesse sempre certo do rumo tomado. (…). Através da pequena claraboia,
o capitão Leite avistava o triângulo da popa, abanando por enquanto ao de leve,
porque não havia vento. Pegou nos binóculos e apressou-se a ir até ao convés.
Ainda não havia quaisquer sinais de perigo real no que dizia respeito ao clima
e todos os pescadores que ele conseguia avistar continuavam perseverantemente,
à pesca, a maioria deles alando os aparelhos depois do primeiro lanço do dia. Tornaram-se
amigos, nessa safra de 1950, o comandante australiano Alan Villiers e José
Leite, nesse ano, capitão do lugre- patacho “Gazela Primeiro”.
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A
sua vida profissional, começou, propriamente, como piloto do lugre “Creoula”,
que dispensa apresentações, na safra de 1947. Em 1948 e 49, saltou para
imediato do mesmo lugre, sob o comando de Francisco Paião (Almeida).
Nos
anos de 1950 e 51, foi então capitão do icónico lugre patacho “Gazela
Primeiro”. Deixou, então, os navios da Parceria Geral das Pescarias.
Nos
anos de 1952 a 54, comandou o navio-motor “António Coutinho”, construído
em 1945, por Manuel Maria Bolais Mónica para a Sociedade Lisbonense da Pesca do
Bacalhau, Lda.
Em 1955, “saltou” para o comando do navio-motor de ferro, “Sam Tiago”, construído pelos Estaleiros de Viana do Castelo, para Sociedade Nacional dos Armadores de Bacalhau (SNAB), tendo o prazer de fazer a viagem inaugural. Por lá ficou mais os anos de 1956 e 1957, na companhia do imediato Francisco Leite, seu irmão.
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E
terminou a sua brilhante carreira do bacalhau, na campanha de 1958, com a estreia do navio-motor
de ferro “Nossa Senhora da Vitória”, construção dos estaleiros de Viana do
Castelo, para a SNAB.
Depois
da carreira do bacalhau, passou a ser piloto da barra de Lisboa, cidade, onde
já se tinham instalado.
Há
uns anitos, creio que estive com ele, numa idade já provecta, no Museu, aquando
da estreia do filme “A campanha do Creoula” (2013), apresentado pelo realizador
André Valentim Almeida, seu sobrinho-neto, que se inspirou em algumas fotos da
grande pesca, no “Creoula”, encontradas numa gaveta do tio-avô, no auge da sua
vida pesqueira. Sempre tentei que essas fotos me chegassem à mão, mas vários
desencontros impediram-no. Chegou hoje a oportunidade de relatar a biografia de
José Leite, que faz parte da minha memória, mesmo sem as tais fotos.
Deixou-nos, em 25 de Dezembro de 2014 com 90 anos de idade.
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Ílhavo, 23 de Fevereiro de 2021
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Ana
Maria Lopes
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