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Mais
um ílhavo que não deveria ficar no esquecimento, mas, por falta de dados
fotográficos e outros pormenores, foi ficando para trás. Nestes tempos que
correm, chegou o seu dia de ser lembrado, mesmo com algumas lacunas, ainda.
João
Pereira Cajeira, filho de Manuel Pereira Cajeira e de Maria de Jesus Vilela,
nasceu em São Salvador, Ílhavo, em 7 de Março de 1879, na Rua Arcebispo
Bilhano.
Era
portador da cédula marítima nº 369, passada pela Capitania do porto de Aveiro,
em 31 de Março de 1921.
Na
ficha do Grémio, o próprio declara que exercera a profissão de capitão do
bacalhau desde 1908. Desses tempos, nada nos chegou. Terá começado como moço
como mutos camaradas do tempo dele? Mais tarde, após um curso de pilotagem
rápido, terá passado por piloto, imediato, até chegar a capitão? Era o normal
da época.
Casou
em Viana do Castelo com Isilda V. da Silva, em 18 de Janeiro de
1933 de cuja união nasceram os filhos José e Luís Pereira Cajeira.
Dados
certos, encontrámo-los no jornal “O Ilhavense”, a partir de 1924 até 1928, como
capitão do lugre “Santa Luzia”, da Empresa de Pesca de Viana do Castelo.
(EPV).
No
dia 21 de Outubro de 1928, sob o comando do Cap. Cajeira, ao demandar a barra
de Viana de Castelo, quando seguia a reboque do “gasolina dos pilotos”,
encalhou num banco de areia. Os esforços para o desencalhar não resultaram e
foi decidido descarregá-lo, na esperança de que numa preia-mar se
safasse, mas sem êxito.
Após
ter sofrido este encalhe, o Cap. Cajeira passou na safra de 1929 para o comando
do 3º “Santa Luzia”, que tinha sido construído em 1922, em São Martinho do
Porto por J. José Honrado com o nome de “Neptuno”. Este navio foi adquirido
pela EPV e redenominado de “Santa
Luzia”, logo depois do acidente com o seu antecessor. No final da campanha de
1929 o Cap. Cajeira entregou o navio ao Cap. Aquiles Gonçalves Bilelo, vindo do
lugre “Orion”.
Os
anos 30 foram cruciais para a sobrevivência das empresas então empenhadas na
pesca.
Em
1930, o capitão Cajeira, oficial da EPA, no lugre “Santa Mafalda”, lança-se na
procura dos mares da Groenlândia. Chega a avistar aquelas terras inóspitas,
alvas e geladas, mas o medo do desconhecido origina um temor na tripulação, que
o obriga a voltar para trás. Após o regresso dá uma interessante entrevista ao
jornal “Beira-Mar”, de 30 /11/1930, em que refere: (…) Castigada pelo frio
intensíssimo e ante o perigo iminente em que nos achávamos, em virtude da
proximidade dos icebergs, a tripulação reunida declarou-me que era impossível
pescar. Que não podiam – diziam eles – e eu tive de concordar. O fogão já não
tinha calor suficiente para cozer pão e a água já fervia com muita dificuldade
(…).
No ano seguinte, 1931, este capitão já tinha decidido que os que quiserem ir, vão, e os que não quiserem, ficam em terra. Ele e mais três irredutíveis capitães dos lugres bacalhoeiros (ele do “Santa Mafalda”, Manuel Labrincha do “Santa Isabel”, João da Cruz do “Santa Joana”, todos da EPA e Aquiles Bilelo do “Santa Luzia”, da EPV, rumaram à Groenlândia, onde encheram diariamente os quetes, atafulhando os navios de bacalhau, de excelente qualidade.
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Assim,
nos anos 1930, 31 e 32, o capitão Cajeira, esteve ao serviço da EPA, na Gafanha
da Nazaré, e, no ano seguinte, rumou para Viana.
Entre 1933 e 1936, foi capitão do “Rio Lima”, lugre com motor, de madeira, pertencente à EPV, a que já estava acostumado.
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E o ano de 1937 chegara e, com ele, a estreia do saudoso lugre com motor, de ferro, “Santa Maria Manuela”, construído nos estaleiros da CUF, em Lisboa, em tempo record, para a EPV.
É sempre um orgulho estrear um navio, além do mais com uma beleza e elegância inauditas como este. Sentiu-se bem e por lá foi ficando 9 anos, até 1945, ano em que se reformou, com 66 anos de idade.
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Ainda
teve uns aninhos para saborear a reforma entre Ílhavo e Viana do Castelo, onde, ainda hoje,
tem descendentes.
Deixou-nos, em viagem sem retorno, em 30 de Julho de 1958, com 79 anos.
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Ílhavo, 14 de Fevereiro de 2021
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Ana
Maria Lopes
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