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No
ano de 2010, através do Marintimidades, foram-me solicitados
alguns dados sobre o lugre Milena
por familiares de dois tripulantes que nele fizeram algumas viagens e que, por
coincidência, ambos naufragaram com o navio (em 1958) – a saber, Joaquim António da Silva Belo, da Torreira e o avô
de um tal Emílio Gomes do Novo. E assim, com singelos episódios, se vai fazendo
a história dos lugres, recorrendo a pequenos /grandes «puzzles».
Situar
o navio, convém sempre – o imponente Milena, lugre de madeira de
quatro mastros, foi construído na Florida, E.U.A., em 1918.
Foi o ex
“Burkeland”, pertencente a J.A. Merritt & Co., Pensacola, Florida, entre
1918 e 1935.
Adquirido em
Génova pela Indústria Aveirense de Pesca, Lda., (IAP), de Aveiro, iniciou a
actividade de pesca em 1936. Durante os anos de 1940 e 1941, o navio efectuou
viagens de comércio, tendo regressado à pesca na campanha de 1942.
Acabou por
naufragar, por motivo de alquebramento, no Virgin Rocks, Terra Nova, a 7 de
Agosto de 1958.
O
lugre Milena (Reimar)
Nele
embarcaram os capitães António Augusto Marques, o Capitão Marcela (1936 até
1945), Tude Brito Namorado (1946 a 1948), João
Fernandes Matias (1949 até 1951), Carlos Augusto Castro (1952 a 1955) e Joaquim
Marques Bela (1956 a
1958).
Eis que um
soberbo testemunho foi passado ao papel, num singelo mas caloroso livro, editado
pelo jornal «O Ilhavense», que espero ler de uma golfada. Basta ser um relato
na primeira pessoa, vivido, sentido, suportado, sofrido, experimentado e
recordado. O ilhavense Armindo José
Bagão da Silva, nascido em 7 de Julho de 1932, emigrado no Canadá desde
1970 até hoje, é o seu Autor.
Com 14 anos
vai pela primeira vez ao bacalhau, em 1947,
actividade que conserva até 1959, de
moço de câmara, no Milena, tendo
passado pelos navios Terra Nova, Estêvão Gomes, Pedro de Barcelos, Luiza Ribau,
Condestável e Vila do Conde, entre os cargos de moço e de ajudante de
cozinheiro.
Ficha do GANPB
Revelou-se
bastante atribulada e flagelada aquela que seria mais uma viagem ao bacalhau, a
campanha de 1948 do lugre Milena.
E
entreguemo-nos à memória prodigiosa de Armindo Bagão, jovem autor de 80 anos,
com apenas a 4ª classe da época.
Aconteceu
de tudo um pouco naquela campanha de 1948,
desde uma saída quase trágica da barra de Aveiro, até um temporal que atirou
borda fora cinco homens, dos quais apenas quatro foram devolvidos ao convés.
Uma vida perdida – o Guia, de Setúbal, como tantas… Vamos aguardar a leitura
integral, com ansiedade…
Da
mesma campanha de 48, do mesmo
navio, estiveram presentes na apresentação deste livro, na nossa Junta de
Freguesia, Júlio Manuel (n. em 1930), irmão do autor, ajudante de motorista, à
época, e Luiz Franco Malta (n. em 1922), ajudante de cozinheiro. Também tivemos
o prazer da companhia do Sr. Capitão António Morais Pascoal, com a respeitável
idade de 89 anos, que foi piloto do Milena,
mas nas campanhas de 1946 e 47.
Já não entre nós, foi recordado o excelente contramestre Francisco Ramos (1915-2002), de quem tenho gratas recordações.
A
bordo do Milena, em 1946 ou 47
A
bordo do Milena, em 1946 ou 47. Quem?
Prefaciou
o relato, o sobrinho do autor, João Bagão, e apresentou-o, emocionado, o irmão João
António Bagão da Silva (n. em 1939), perante uma assistência interessada e
calorosa, num ambiente simpático e salutar.
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Umas
horas mais tarde…
Também
com uma vida atribulada, aportei onde devia e, enquanto velava e acompanhava,
lia sofregamente o registo há pouco chegado às minhas mãos. É uma pérola de um livrinho.
Embevecida,
sorvi-o na clareza da sua linguagem técnico-marítima, que entendo e recordo com
alguma facilidade, apesar de nunca ter embarcado.
Que
prazer! Veio-me à lembrança o corre-corre das manobras apressadas da montagem
da primeira Exposição Faina Maior, em que, aí era a
«capitoa», bem escorada pelo grande Francisco Marques e pelos marinheiros,
pescadores, contramestres, cozinheiros, ainda vivos, desta nossa terra. Vivi-a
com PAIXÃO! Nunca o negarei ou não fosse neta do capitão Pisco e bisneta da
arraisa Caloa.
Ecoam-me
aqui aos ouvidos…umas vozes celestiais – e
lá vem aquela com a Faina Maior, o
que é que ela sabe?… nunca saiu a barra…Enganam-se. Olhem que saí, saí …
Curioso…quase
20 anos – a exposição inaugurou-se no dia 28
de Novembro 1992. Quase, quase coincidiu…Às vezes, acredito nas
coincidências.
Perdoem-me
alguma incorrecção – foi a pressa, que é inimiga da perfeição. Eu estava
sôfrega por postar o blogue.
Imagens
do Arquivo da Autora do blogue e ficha gentilmente cedida pelo MMI
Ílhavo, 24 de Novembro
de 2012
Ana
Maria Lopes
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