quinta-feira, 25 de abril de 2024

O "Inácio Cunha" foi para a água, há 79 anos

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O “Ilhavense”, de 11 de Janeiro de 1945, referencia: Em 1945 a frota bacalhoeira será aumentada de algumas novas e grandes unidades. Pode contar-se como certa a incorporação do Maria Frederico e do Inácio Cunha de Testa & Cunhas Lda., que descerá na carreira, no fim do corrente mês ou em princípios de Fevereiro.


 O Inácio Cunha na carreira – 1945

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Chegou, então, o dia festivo para o navio-motor Inácio Cunha, o dia 25 de Abril de 1945. Há 79 anos. Tudo a postos para a grande cerimónia.

Como a maré para o bota-abaixo fosse só pelas 17 horas, a empresa armadora decidira oferecer, entretanto, a cerca de 200 convidados, um lauto e regional almoço, num salão dos seus armazéns.

Na presença de todos os membros do Governo, vindos de Lisboa, das individualidades civis e religiosas, locais, dos armadores e dos muitos convidados, tiveram lugar as cerimónias da praxe, nos estaleiros da Gafanha da Nazaré: discursos, agradecimentos, bênção do navio pelo Sr. D. João Evangelista de Lima Vidal, o baptismo com o partir da simbólica garrafa de espumoso contra a roda da proa da embarcação, pela madrinha, Sra. D. Adília Marques da Cunha.

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Manuel M. Mónica num discurso inflamado e a madrinha

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Finalmente, o Sr. Ministro da Economia cortou o cabo da bimbarra, mas o navio manteve-se, por algum tempo, estático. Correram pressurosos os construtores e demais pessoal, para alguns trabalhos de emergência, e, passado algum tempo, o Inácio Cunha deslizou serenamente na carreira para nadar, tranquilo como um cisne, nas salsas águas da Ria.

Acenaram-se lenços, estalaram foguetes, a música executou um número alegre e os armadores e construtores receberam os abraços e parabéns da praxe. – refere o jornal, “O Ilhavense”, de 2 de Maio de 1945.

O novo navio-motor, um dos primeiros do tipo CRCB., construídos por Manuel Maria Mónica, na Gafanha da Nazaré, media 52,72 metros de comprimento, fora a fora, 10, 44 m. de boca e, aproximadamente, 5, 50 m. de pontal.  Dispunha de todos os aperfeiçoamentos modernos, incluindo telegrafia e telefonia, belas instalações para a tripulação (69 tripulantes e pescadores e três oficiais), dispondo de 57 dóris.

A propulsão era feita por um motor Deutz de 550 H.P., deslocando-se a cerca de 9/10 milhas horárias. A tonelagem bruta era de 775,42 toneladas. e a líquida, de 494,83.

Por cálculos de construção, esperava-se que viesse a carregar nos seus porões, sensivelmente, 12 000 quintais de bacalhau.

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O Inácio Cunha, frente à empresa – 1945
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A viagem inaugural do Inácio Cunha foi feita pelo Capitão José Gonçalves Vilão, bem como a campanha seguinte (1946). Por lá passaram, no seu comando, nos anos de 1947 a 49, Elias Andrade Bilhau, natural de Lavos, Figueira da Foz; João dos Santos Labrincha (Laruncho), de 1950 a 1955; Manuel da Silva de 1956 a 60. Entre 1961 e 1962, comandou-o David Calão Marques.

Na campanha de 1950, trouxe os náufragos do navio-motor Cova de Iria, que havia naufragado, devido a água aberta.

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Entrada em Leixões com os náufragos do Cova de Iria. 1950
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Parece-me ter tido uma existência pacífica, com as atribulações e perigos, inerentes àquela dura faina.

No ano de 1962, o Capitão David Marques declarou à empresa 11 162 quintais de bacalhau, de acordo com o seu diário de pesca, pelo que o navio abandonou a pesca e chegou a Aveiro sobrecarregado, pondo em perigo o navio, a sua carga, seus pertences e vidas humanas. O que se fazia por mais uns quilitos de bacalhau, para ganhar a vida!!!!

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Bem no fundo, à chegada. 1962
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Também Ernesto Manuel dos Santos Pinhal comandou o navio de 1963 a 1966, ano em que naufragou, a 28 de Agosto, por motivo de incêndio a bordo, quando estava prestes a completar o carregamento, nos mares da Gronelândia.

A tripulação foi acolhida a bordo do navio-motor Sotto Maior, que a encaminhou para o navio-hospital Gil Eannes, a fim de ser repatriada.

Todos os Capitães, de quem me lembro e com quem convivi, foram nossos conterrâneos, com excepção de Elias A. Bilhau.

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Nas tranquilas águas da Ria, na Gafanha da Nazaré, frente a Testa & Cunhas, eis, em primeiro plano, o Inácio Cunha e, pela popa, o São Jorge, de braço dado com o Novos Mares; avista-se, em último plano, o Avé-Maria.

Reinavam, por aqui, os navios-motor.

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Ílhavo, 25 de Abril de 2024

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Ana Maria Lopes

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segunda-feira, 15 de abril de 2024

Colecção Manuel Mário Bola

 

Catálogo

Ontem, saí das minhas preguiças, e fui até à Gafanha da Nazaré, visitar a Colecção Manuel Mário Bola, que se exibe na Fábrica de Ideias.

Manuel Mário Bola nasceu a 4 de Agosto de 1945, na zona da Chave e viveu e conviveu com toda a envolvência na Pesca do Bacalhau, especialmente, quando, ainda em criança, passava os verões no Estaleiro do Mestre Mónica, a ajudar os carpinteiros e a aprender a arte da construção naval em madeira.

O saber adquirido e o gosto ficaram e a possibilidade de não ir para o Ultramar, levou-o para a pesca do bacalhau, a bordo arrastão lateral “Santa Joana”, donde saiu como ajudante de motorista, depois da viagem de 1972.

A imponência dos navios construídos nos Estaleiros Mónica e os ensinamentos dos velhos carpinteiros são hoje aplicados na construção de maquetas de navios, sobretudo bacalhoeiros, que, com minúcia e dedicação constrói, como se de um navio à escala real se tratasse. Peças de arte que demoram, por vezes, mais de 5000 horas a concluir, mas que são como toda a colecção que recolheu ao longo da vida, a sua homenagem aos marítimos.

A exposição consta dos seguintes núcleos: Construção Naval, Gaiúta, A Arte de construção naval em miniaturas e Apetrechos de pesca e navegação.

A Gaiúta foi o núcleo  que achei mais bem conseguido. Inclui as peças – sino, odómetro de barca, bitácula, máquina da roda do leme, roda do leme, porta-voz e lanterna de antepara, brilhantes no seu areado aprimorado., enquadradas em fundo fotográfico bonito e adequado.

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Gaiúta
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Odómetro de barca
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Das miniaturas, fixei aquelas de cujos originais ou imagens mais me lembrava: “Gazela Primeiro”, “Santa Isabel”, “Brites”, “Primeiro Navegante”, “Santa Maria Manuela”, “Inácio Cunha”, entre outras.

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“Hortense”, em construção, 1930
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Painel de Apetrechos de pesca e navegação
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Entre estes, saboreei a polé, as forquetas, a agulha do bote, o foquim, o rile, os anzóis, o sueste, luvas de lã, nepas e outros mais.


Colecção de relógios de bordo e barómetros
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Parabéns ao Sr. Mário Bola, pela sua habilidade, paciência  e dedicação. Não dei a tarde como perdida, antes pelo contrário.

Ílhavo, 15 de Abril de 2024

Ana Maria Lopes

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