segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O Barco processional de S. Pedro - 2

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Segundo várias fontes bibliográficas, dentre as quais Palheiros do Litoral Central Português de Ernesto Veiga de Oliveira e Fernando Galhano (1964), na p. 73, por volta de 1808, o arrais Luís dos Santos Barreto (Luís da Bernarda), de Ílhavo, com a maioria das gentes que iam pescar a S. Jacinto, decide arriscar a sua sorte, em busca de pescarias mais proveitosas, a sul. Acaba por se estabelecer na dita Costa Nova, em frente ao Prado da Gafanha.

Também, por volta de 1808, o seu irmão José da Silva Barreto arriba com a sua companha composta exclusivamente por ílhavos, ao areal da Cova, em terras de Lavos. A companha dos «Luizes» rapidamente povoa o local, chegando a erguer uma exígua capela perto da Gala e a instituir a festa de S. Pedro, como padroeiro dos pescadores.

O que acontece é que esta data de 1808, actualmente, é posta em causa pelo pesquisador Hermínio de Freitas Nunes, que indaga junto dos assentos paroquiais.

Segundo me informou: (Sic) A fundação da primitiva povoação dos palheiros da Cova pelo José dos Santos Barreto não passa de uma lenda inventada por quem não conseguiu, ou não soube, chegar mais longe. O José dos Santos Barreto, quando saiu da Costa Nova para Sul, foi casar a Lavos com uma filha de um ílhavo que já lá estava há mais de duas décadas, juntamente com outros, todos casados com mulheres naturais da freguesia de Lavos.

Quando chegou à Costa de Lavos – o José dos Santos Barreto – já existiam ali palheiros e viviam lá pescadores. Só que, como depois alcançou relativa fortuna e chegou a dono de companhas, ganhou o estatuto de protagonista da história.
Os documentos são teimosos e contam uma outra história... a verdadeira: a dos homens e mulheres simples, pescadores e pescadeiras que, esses sim, escreveram a verdadeira história da colónia de pescadores das praias da Cova, Costa de Lavos e Leirosa.

Devoções idênticas com a presença na procissão dos oragos locais de barcos processionais, havia também na Costa da Caparica e na Ericeira, dentre outras, porventura.

E tradição semelhante continua, com o desfile processional actual, na Costa Nova, com o Santo Amaro, em barco do mar, aos ombros de pescadores.



Senhora da Saúde de 2011


Mas, propriamente da obra de arte em causa, pouco mais sabia do que para trás colijo.
Era indispensável contactar com uma pessoa da família Maia Mendonça; para me facilitar esse conhecimento, foi fortuito, mas proveitoso, um encontro com a esposa do Senhor Dr. Pires da Rosa, em que veio a lume a vontade manifesta da Família de depositar o Barco de S. Pedro no Museu, desde que todos os elementos da Família concordassem.

Lá lhe indiquei os passos a seguir e ninguém melhor para encabeçar o assunto que o próprio Dr. Pires da Rosa com quem vim a falar, colocando-lhe todas as questões que urgia saber e que seriam úteis e habituais na incorporação de uma peça em Museu.
Quem o teria construído? Quando? Desde quando residiria, ali, no nº 15 da Rua de Espinheiro, morada que foi do Sr. Tenente Alberto Mendonça  e sua esposa Maria Casimira Gomes da Cunha?

Depois da cerimónia de depósito da peça no MMI, no dia 22 de Outubro de 2011, a intervenção simples e sentida do senhor Dr. Pires da Rosa, que O Ilhavense de primeiro de Novembro transcreveu na íntegra, testemunha tudo que ele sabe e viveu, junto desta peça da Família, que nesse dia entregou à guarda do MMI.

Estes registos de memória são o meu enlevo.



À proa…na sua nova residência


Cumpre-se assim uma vontade também expressa pelo Dr. Rocha Madahil, em 1933, primeiro Director do Museu, e do Sr. Américo Teles, grande impulsionador da criação do mesmo e que creio que chegou a ir ver o barquinho, ali a casa, há uns anos muito largos.


Como ilhavense, como vizinha da Família, como elemento dos Amigos do Museu, os nossos agradecimentos ao gesto louvável da Família Tenente Mendonça.



Pormenor à popa


Fotos da autora do blog.

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Ílhavo, 26 de Dezembro de 2011


Ana Maria Lopes
Ana Maria Lopes

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Natal de 2011

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Outro Natal se avizinha. É o quarto do Marintimidades. Inspirada nestes belos Cisnes da Laguna, desejo a todos os Amigos, leitores e apreciadores deste blogue, um Natal Feliz, cheio de afectos e saúde.




Ílhavo, 22 de Dezembro de 2011

Ana Maria Lopes
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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Destaque da Marinha

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ÚLTIMA HORA

Informo, com grande prazer, é uma honra para todos os ilhavenses, que o prémio bienal "Almirante Sarmento Rodrigues" / 2011, da Academia de Marinha, foi atribuído à obra Embarcações que Tiveram Berço na Laguna do Engenheiro Senos da Fonseca.




Fonte: Site da Academia de Marinha

Ílhavo, 19 de Dezembro de 2011

Ana Maria Lopes
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domingo, 11 de dezembro de 2011

O Barco processional de S. Pedro - 1

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Há muito que ando para alinhavar duas linhas sobre o barco processional de S. Pedro, desde que o visitei há dois anos, ali umas casas abaixo da minha, na posse da Senhora D. Zídia Mendonça. Amavelmente mo mostrou e deixou fotografar, sempre receosa que a rara peça de arte sofresse, com as deslocações, algum pequeno dano – apercebi-me.


Tendo conhecimento que aquele barquinho teria estado presente, em tempos, numa antiga festa de S. Pedro, celebrada em Ílhavo, tentei informar-me melhor.


Como? Para já, lendo, consultando, pois a senhora, já de provecta idade, não me soube dizer muito mais. Informou-me que, mais tarde, a tão delicada peça ficaria para uma sua sobrinha que mora em Trás-os-Montes. Pensei – uma miniatura do barco do mar, tão representativo da religiosidade da terra, com tanto valor afectivo para Ílhavo, desafortunada, que iria fazer para Trás-os-Montes? Muito bem ficaria ela no nosso Museu – que fazer?


Tendo bem à mão o delicado livrinho Senhor Jesus dos Navegantes – Mar e devoção (2007), respiguei o que os autores escrevem a este respeito, p. 12:

(…) A devoção pela imagem do Senhor Jesus, creio que começou sem ligação marítima continuando a invocação da imagem só como Senhor Jesus até finais do séc. XIX, fazendo-se em Ílhavo a festa de pescadores em devoção ao S. Pedro Apóstolo. As várias companhas de pesca costeira da Costa Nova, depois da esmola recolhida por todos, faziam a sua procissão que se festejava no dia 29 de Junho.

A imagem de S. Pedro tinha lugar de honra num pequeno barquinho, onde figuravam os apóstolos, uns remando, outros a colher redes, e a imagem de São Salvador, o padroeiro da Vila, à proa, abençoando também o trabalho da faina. Desta antiga devoção, que terminou com a dissolução das antigas companhas pouco depois de 1840, hoje restam apenas as figuras dos apóstolos do antigo barco processional que saía por ocasião da festa ao S. Pedro, actualmente nas reservas do MMI.



Com a abertura da barra de Aveiro em 1808 (…), a construção dos estaleiros e organização de campanhas de longo curso deu início a uma nova devoção dos pescadores ilhavenses, transitando a grande festa religiosa que se celebrava ao S. Pedro (das pequenas campanhas de costa), para a actual festa dos marítimos em honra do Senhor Jesus dos Navegantes. Embora numa acta da Junta de Paróquia de 7 de Agosto de 1865 apareça a despesa da Festividade do Senhor Jesus e São Sebastião (referente a 1864), a imagem com a nova invocação marítima de Festa do Senhor Jesus dos Navegantes, apenas aparece em ex-votos pintados de finais do séc. XIX e início do séc. XX, propriedade da nossa Igreja Matriz.

Com o incremento económico dos capitães nas prósperas campanhas ao bacalhau, a devoção cresceu e a fé ilhavense projectou-se com brilho, na Festa ao Senhor Jesus dos Navegantes.

Refere ainda que o andor da antiga procissão ao S. Pedro em Ílhavo ainda serviu em início do século XX na procissão de Nossa Senhora da Saúde, na Costa Nova, no último domingo de Setembro.

Em 200 Anos de Memória da Costa-Nova do Prado (2009), Senos da Fonseca relata também, na p. 169, que na Costa Nova, os festejos em honra da Senhora da Saúde, iniciados em 1837, vieram substituir a primitiva festa de S. Pedro em Ílhavo – tornando-se a festa das Companhas – passando a ter data fixa, no último domingo de Setembro. E assim continua, nos nossos dias…





Começámos, através das leituras feitas, a pensar que terão sido vários os barcos processionais a desfilar no préstito do Sr. Jesus dos Navegantes e Nossa Senhora da Saúde. Estamos em crer que este foi o último a fazê-lo, já então na Costa Nova.


De consulta em consulta, rapei da estante o Etnografia e Memória – Bases para a Organização do Museu Municipal de Ílhavo, (1933), em que Rocha Madahil, na p. 80, refere a presença de um barquinho na Exposição de Arte Ilhavense, em 1932.


(…) Tinham eles antigamente a sua festa em Ílhavo, ao seu patrono S. Pedro, e na respectiva procissão apresentavam o andor do barco do mar (…) E o barquinho com as miniaturas de pescadores aos remos, muito hirtos e aprumados, tombando com os balanços do andor, uma rêdesinha e uns rolinhos de corda à ré, junto ao arrais, passou a fazer parte da procissão de Nossa Senhora da Saúde.

Conserva-se ainda esse belo barquinho e esteve presente na Exposição de Arte Ilhavense de 1932; seria um acto de grande civismo e muito de agradecer, se o seu actual proprietário consentisse em depositá-lo no Museu; é uma peça valiosa pelas tradições que lhe estão ligadas e que ele representa e evoca.






Barco rústico, desproporcionado, mas com sabor arcaizante e sacro, com apóstolos hirsutos, gigantes, para a embarcação, quase talhados a naifinha, de uma policromia enegrecida.

Em tons de azul e vermelho escuros, com vestígios de pequenos motivos a ouro, próprios de arte sacra, é dono de uma beleza sui generis.



Parece-nos que terá mais de um século, princípios do século XX ou finais do século XIX (não há dados rigorosos).

Em madeira de tom acastanhado, tem o costado decorado com florões geometrizados, ricos em pormenores e apresenta nos dois bordos, também policromada, a cor de mel, num fundo mais escurecido, uma inscrição que reza VIVA A COMPANHA DOS LUIZES.



VIVA A COMPANHA…


Falando em Exposição de Arte Ilhavense, em 1932, o jornal O Ilhavense não podia deixar de ter uma palavra no número de 3 de Abril de 1932 – A propósito da Exposição de Arte Ilhavense, em Sala Marítima, refere… Naquela sala, vimos (…) o barco dos pescadores que todos os anos vai na procissão da Senhora da Saúde.



...COMPANHA DOS LUIZES


Seria um precioso elemento situar no tempo a Companha dos Luizes, mas por dados catados em livros e documentos, ela existiu entre 1808 (?) e 1930, ano em que ainda estava registada em livros da Capitania de Aveiro, existentes no Arquivo de Marinha, sito na Cordoaria Nacional de Lisboa. É um período muito lato que nos deixa algumas dúvidas. E aqui começa a complicação e a insegurança da datação da existência da dita COMPANHA DOS LUIZES.

(Cont.)


Imagens – Autora do blog

Ílhavo, 11 de Dezembro de 2011


Ana Maria Lopes
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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Bandeira de Gala da Associação dos Oficiais da Marinha Mercante

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Percorrendo os jornais O Ilhavense de 1927, cheguei, em 20 de Março, a uma notícia que, pelo pormenor descritivo e sabor informativo da época, me seduziu.
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Ei-la, salteada:
(Sic) Sábado, 12 de Março.
Dia de sol e de animação na vila.
Pelas 5 horas e meia, sobem ao ar, em frente à Associação dos Oficiais da Marinha Mercante, foguetes e morteiros.
O que será, o que não será, e eis que dentro em pouco, corre de boca em boca, esta notícia:
 – Chegou uma bandeira nova para a Associação dos Oficiais Náuticos.
De facto assim sucedia (…). Há rostos onde se divisa uma alegria infinda. Há almas fortes de marinheiros audazes que mal podem exteriorizar a sua satisfação, de comovidos que se sentem.
Também fomos ver a linda bandeira, em quase tudo semelhante à antiga bandeira marítima, que tanta gente amiga tem acompanhado à última morada, que em tantos cortejos cívicos tem drapejado alegre e vistosa.
O novo símbolo da Associação dos Oficiais é toda de seda azul e branca, bordada a ouro fino, tendo ao meio, em alto relevo, uma galera de três mastros tecida a ouro.

Por cima, o dístico Associação dos Oficiais da Marinha Mercante. Por baixo da galera: Ílhavo – 1921 – 1926.


(…) A data de 1921 é a da fundação e 1926, a da confecção da bandeira. Foi executada pela casa Joaquim da Silveira Melo & Cª do Porto e importou em cinco mil escudos, segundo a factura apresentada.
(…) Sob a galera uma cercadura a ouro, em anéis circulares e pendentes desta, uma bóia de salvação, uma ampulheta, uma rosa dos ventos, os símbolos da Fé, Esperança e Caridade, uma roda de leme, um sextante e uma âncora.
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 Pormenor da bandeira…
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– Quando tencionam inaugurar a bandeira?
– Talvez para a Páscoa, com uma sessão solene.
– E à bandeira antiga, que destino tencionam dar-lhe?
– Ficará para acompanhar ao cemitério todos os seus sócios ainda existentes. A nova fica só para os sócios da Associação, seus pais e filhos, conforme resa o regulamento interno desta colectividade. 
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Já agora, que a Associação dos Oficiais já não existe, que opinariam estes, se lhes fosse proposto quotizarem-se, quase simbolicamente, para ajudarem a restaurar a sua bandeira, quase centenária e representativa da classe?

Segundo o nosso Jornal de 24 de Abril de 1927, a dita bandeira lá foi então inaugurada. Às 6 horas da tarde de Domingo de Páscoa, saiu da sede da Associação o cortejo constituído pelos sócios daquela colectividade, à frente dos quais ia a abandeira conduzida pelo Sr. Capitão Calixto António Ruivo e ladeada pelos senhores José Ançã Novo e João Francisco grilo (o Frade). No couce do acompanhamento, ia a Filarmónica Ilhavense.
Dirigiu-se o cortejo à igreja paroquial desta freguesia onde o Reverendíssimo Padre Manuel de Campos, revestido de sobrepeliz e estola rica, procedeu à bênção do lindo pavilhão, junto ao altar do Senhor Jesus dos Navegantes.
Após as palavras sacramentais: Per Christum Dominum nostrum. Amen, fez-se a aspersão da água benta.
(…) Finda a cerimónia religiosa, voltou o cortejo à sede da Associação onde dispersou, ficando a bandeira exposta ao público.


Apetitosa descrição e que grande reinação!

Parece que existe ou existiu uma foto do acto, que nunca tive o prazer de ver, para, agora, aqui, relembrar.
A quem a possuir, agradecemos o favor de a partilhar connosco, para enriquecer o processo documental.


Fotografias – Da autora do blog

Ílhavo, 28 de Novembro de 2011

Ana Maria Lopes
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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Apresentação da revista «Terras de Antuã», na Câmara de Estarreja

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Quem quiser tomar conhecimento da apresentação do nº 5 da revista «Terras de Antuã», no passado sábado, dia 19, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Estarreja, pode ver:

http://videos.sapo.pt/HmLd7QILKMrYQtYfY4KE

Este V volume é constituído por 14 artigos de vários autores, cujas temáticas vão desde a arqueologia, a arquitectura, a arquivística, a biografia, a construção naval, a emigração, a genealogia, até à  heráldica, entre outras.

Para nós, foi também gratificante participarmos,  através do singelo artigo relativo à construção naval, A Saga do Navio Maria das Flores, construído em 1946, num estaleiro no Bico da Murtosa, com um encalhe e desencalhe históricos.

Foi construído por José Maria Lopes de Almeida, construtor de Pardilhó, proprietário do referido estaleiro, para  João Carlos Tavares (de alcunha, João da Albina), residente em  Estarreja.

Grande parte da tripulação do Maria das Flores (1946-1958), como quase sempre, e seus dois únicos comandantes, como não podia deixar de ser,  foram ilhavenses.

 
Ílhavo, 21 de Novembro de 2011

Ana Maria Lopes
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domingo, 13 de novembro de 2011

Associação dos Oficiais da Marinha Mercante de Ílhavo

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Há dias, o amigo João Reinaldo, depois da procissão do Senhor Jesus dos Navegantes, confidenciou-me que tinha uma questão a pôr-me, relativamente à Bandeira dos Oficiais, porque haviam constatado que a insígnia estava algo danificada e que necessitaria de restauro.

Depois de nos informarmos acerca da peça (de que se revelou haver duas), uma mais antiga que a actual, observámo-las, para propor um possível restauro aos Amigos do Museu, cuja intenção seria participada à Unidade Directiva da instituição museológica.
Após a sua observação, começámos imediatamente por concluir que não seria uma, a original, e outra, a réplica, porque, embora os motivos bordados fossem os mesmos, os dizeres diferiam.

A primeira, cujo navio, à popa, desfraldava uma pequena bandeira monárquica, referia:

CLASSE MARÍTIMA
ILHAVENSE



A segunda, cuja bandeira, à popa do navio, já era republicana, rezava:

ASSOCIAÇÃO DOS OFICIAIS DA MARINHA MERCANTE
ÍHAVO – 1921 – 1926




A partir daqui, muitas dúvidas se puseram: o nosso amigo Vitorino Ramalheira, o menos jovem dos presentes, disse lembrar-se de ir a uma sede da tal Associação, pela mão do seu Pai, ali pela Praça da República.

Entretanto, em local, a meu ver, não muito adequado para conversas sobre bandeiras, em despedida de um colega Oficial à sua última morada, encontraram-se alguns dos mais velhos oficiais da nossa praça.

Chegaram-me alguns recados não muito elucidativos sobre o assunto, mas eu é que não descansei mais, no sentido de me informar melhor.
A origem da bandeira, por agora, passou a interessar-me bastante mais que o seu restauro.

Data de 1921, que fazer? Se coincide exactamente com o ano da criação do Jornal O Ilhavense, toca de começar a percorrê-lo (nesta época, há algumas faltas de números), pelo menos durante essa meia dúzia de anos.
A história – logo nos primeiros nºs entre 1922 e 23 – confirmou a existência de uma Associação de Oficiais da Marinha Mercante, em Ílhavo, fundada a 1 de Janeiro de 1921, com sede provisória no salão do «Club dos Novos». Fiquei a saber quem foi constituindo a sua Direcção e Assembleia Geral, bem como os assuntos pelos quais mais se interessava – a necessidade de um navio-hospital que acompanhasse a frota, proposta da criação da Escola Náutica, cumprimento da lei no que concerne a matrículas, etc.

Qual não foi o meu espanto, quando, ao chegar a casa me deu para teclar a referência em causa na Internet e me apareceram cerca de 70 páginas, em PDF, dignas de crédito, pois eram constituídas por documentação legal, vários Estatutos que se foram reformulando uns aos outros, uma acta e o rol dos 152 sócios, quase todos nomes que nos são familiares.

(Sic) São, então, aprovados os estatutos de uma nova associação de classe (é porque houve uma anterior, como indicia a existência da bandeira mais antiga), a constituir em Ílhavo, sob a denominação de Associação de Classe dos Oficiais da Marinha Mercante Portugueza.
Em acta da Assembleia Geral de 23 de Janeiro de 1927 (via Internet), num dos últimos pontos, é tratado o assunto da bandeira:
(Sic) A «Bandeira Marítima», por costume estabelecido entre os marítimos de Ílhavo, vai, todos os anos, na procissão do Senhor Jesus dos Navegantes. Essa bandeira vai ser substituída por uma nova da Associação.

Estaria esclarecida a questão da existência das duas bandeiras e a origem, pelo menos da segunda.
E quem a teria bordado? Leonilde da Velha, hábil neste tipo de labores? Seria uma hipótese, divulgada em desdobrável de uma exposição de trabalhos desta hábil Artista, em Abril de 1992, a meu ver, não muito viável.
Nota – Nem sempre os dados nos surgem quando os procuramos e, há uns dias, tive acesso ao Livro de Actas da AOMMI, aberto em 26 de Dezembro de 1920, para tal fim.

Antes da reunião da fundação (1921), já citada, houve uma reunião preparatória em 6 de Dezembro de 1920, no salão do «Club dos Novos», donde saiu a constituição de uma Comissão instaladora. Segundo os associados, esta AOMMI deveria ser independente, embora intimamente ligada à Liga de Oficiais da Marinha Mercante de Lisboa.
Numa tarde outonal de um domingo já frescote, fui perpassando os olhos pelo tal Livro de Actas, e constatei:

– (…) que só cerca de um ano mais tarde, a sede da Associação se transferiu do salão do «Club dos Novos» para um prédio alugado ao Senhor António Dias Afonso, na Praça da República, junto ao prédio pertencente ao Senhor Joaquim Machado (acta de 31 de Janeiro de 1921).
– (…) que a Direcção mandasse fazer uma bandeira de gala, própria, em vez de chamar a si a bandeira marítima que existe nesta vila ( acta de 8 de Fevereiro de 1921).
– (…) que a bandeira de gala tem um regulamento com onze esmiunçados artigos (acta de 8 de Dezembro de 1926).
– (…) que José de Oliveira da Maia Alcoforado ofereceu umas fitas da cor da Bandeira Nacional para a bandeira de gala da colectividade ( acta de 18 de Dezembro de 1932).

Esta é a última acta registada neste Livro de Actas, tendo restado ainda algumas folhas em branco.

(Cont).

Fotografias – Da autora do blog

Ílhavo, 13 de Novembro de 2011

Ana Maria Lopes
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sábado, 5 de novembro de 2011

O Barco Mercantel ou Saleiro - 2

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À medida que o barquinho ia crescendo, a minha caixa de memórias deixava escapar lembranças que nem eu sabia que lá estavam guardadas.
 
Primeiro apareceram os barcos da passagem da Bestida para a praia da Torreira. Como os recordava grandes e altos que até me faziam pôr em bicos de pés a espreitar por cima das falcas para ver correr a água! Depois vieram as viagens à Senhora das Areias em São Jacinto, nos barcos do Sr. Henrique Ramos, com música, cantadores e muitas cestas com merendas.
 
Entretanto, também lembrava os que chegavam cheios de cacos de telhas e de tijolos das fábricas de Aveiro, para descarregarem ao longo das secas da Cale da Vila desde os estaleiros até ao esteiro do Oudinot. Foram eles que pavimentaram o que seria a marginal limitada pela muralha que chegou depois, feita com pedras que os mercantéis igualmente iam buscar algures lá para o norte.


Mas, havia ainda o torrão e o saibro com que os lavradores da Marinha Velha e da Cambeia fizeram dos caminhos de carro as estradinhas, que hoje são algumas das ruas da cidade da Gafanha da Nazaré.

Eram igualmente estes barcos que os descarregavam ao longo da borda nos locais das margens da Ria onde podiam chegar os carros de bois.

Para todos os lados se avistavam os mercantéis, incansáveis trabalhadores da Ria. À vara, à vela e até à sirga, acarretavam tudo o que era necessário à vida dos povos que cercavam este grande espelho de água e que para seu uso diário os idealizaram e construíram.


À vela, à sirga ou à vara…


Esguios e fortes, mas ágeis e bons de vela, quando governados pelas mãos práticas dos seus arrais, sulcavam não só os esteiros das salinas, mas ainda os estreitos canais da cidade.
 
Sem dúvida, era no trabalho das marinhas, carregando o sal que lhes deu o nome, que melhor se identificavam e se embelezavam com aquelas cargas cintilantes.



Postal – Ao serviço do sal…



Nasceram com esta missão específica e foi durante a faina da descarga do sal, feito pelas salineiras no canal de S. Roque, que os olhos perspicazes dos artistas os imortalizaram em telas por todos conhecidas.


Óleo de Cândido Teles


Foram estas memórias que fui revivendo durante as horas da construção do modelo que me fizeram ver como era notável a dignidade que transparecia desta embarcação. Não era vistoso o seu aspecto, mas irradiava segurança, força e altivez.

Na verdade foi um senhor da nossa Ria.

As suas medidas principais eram:

Comprimento……………..18.00 metros
Boca…………………....…..03.28 m
Pontal……………………...00.73 m
Escala………………………1/25

30.9.2011

António Marques da Silva


Imagens – Da autora do blog

Ílhavo, 5 de Novembro de 2011

Ana Maria Lopes
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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O Barco Mercantel ou Saleiro - 1

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Mais uma vez, aproveitando a onda dos modelos, tentei o amigo MS a miniaturizar a maior embarcação da laguna, e, eventualmente, uma das mais antigas (das maiores), que ainda faltava na sua colecção.

Acedeu com gosto à minha proposta e aproveitou, para base de trabalho, o barco mercantel, construído pelo Mestre António Esteves de Pardilhó, em 2001, que a Sala da Ria do MMI exibe.
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Tirou minuciosamente os seus apontamentos, por meados de Maio, estando pronto de casco, em bruto, em fins de Agosto. Pintura e vela, concluiu-as até agora, meados de Outubro.
E fotografá-lo tão dignamente como merecia? Sem estúdios, nem condições profissionais, nada como ir ao terreno e dar-lhe a provar o sabor da água da Ria.

Aproado na borda, espera a carga


Lá fomos até à Praia dos Tesos, no Jardim Oudinot, com todo o cuidado, fazer os «clichés» que nos aprouve. Abicou à borda e a suave aragem outonal encheu-lhe o pano, a nosso agrado.
E o Marintimidades não podia deixar de acolher este senhor da Ria.

Refere Marques da Silva:

Completada a pesquisa que efectuei acerca das bateiras da Ria de Aveiro, entendi que esse trabalho ficaria valorizado se, para termo de comparação de dimensões e formas, efectuasse um levantamento rigoroso do barco mercantel ou saleiro.

Aproveitando a oportunidade de ter na sala da Ria do Museu Marítimo de Ílhavo um magnífico exemplar destes barcos, recolhi em óptimas condições todas as medidas e pormenores de construção, necessários ao trabalho que me propunha executar.
Tal como fiz para as bateiras, desenhei com rigor um plano de formas do casco e um plano vélico, de modo a ter possibilidade de construir um modelo completo, seguindo as regras usadas pelos construtores, aplicando a escala de 1/25, como tinha feito para as anteriores.

Utilizei balsa para o fundo e madeira de choupo para os costados. Para o cavername, roda de proa, cadaste e bancadas, serrei ramos de limoeiro. No mastro, verga e varas, apliquei ramos de ameixieira. Na vela usei pano de algodão e nas ferragens do leme e na fateixa, arame de cobre.
Como acabamento apliquei bondex no costado e tinta branca nas caras de vante e de ré. A cobertura da casa da proa, a draga, a cinta e a porta do leme, pintei-as com tinta preta sem brilho e espalhei serradura fina nos locais adequados, simulando o que era costume fazer para dar aderência aos pés do barqueiro quando trabalhava com as varas.

Pormenor do interior da proa


(Cont.)

Ílhavo, 27 de Outubro de 2011
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Ana Maria Lopes
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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Ílhavo na «rota» do Titanic - 2

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Não é que umas casas adiante da minha, na mesma rua, residem mais talheres do Titanic, autênticos, com a mesma origem, há cerca de meio século? Fiquei ansiosa por vê-los, fotografá-los e ouvir a versão do achado, quase há cem anos.




Colheres de chá

Em tudo era concordante com a que toda a vida ouvira e alargou-me mais os horizontes, acicatando-me o espírito de pesquisa e a curiosidade inerente.

Garfos



Lembrei-me, só agora, de ir ao Arquivo do MMI consultar as fichas vindas do GANPB e certificar-me de dados mais concretos do suposto achadorJoão Grilo, de alcunha, Frade.

Se o nome da pessoa não for completo, não se consegue facilmente o objectivo, mas, com paciência e consulta de outros documentos, lá chegámos à ficha do Capitão João Francisco Grilo:


Ficha do GANPB


Fornece-nos muitos dados, entre os quais o local e a data de nascimento, Ílhavo, em 1894, e navios que comandou.

À época, 1912, capitaneava um primeiro lugre Trombetas, da mesma firma (Lusitânia Companhia Portuguesa de Pesca da Figueira da Foz) que o lugre Leopoldina, que João Francisco Grilo também comandou, mas não nesse ano.

À época, também da Figueira, comandava o meu Avô, nascido em 1885, o lugre Golphinho. Sendo aparentado e amigo de João Grilo, recebeu as colheres que este «pescara» e lhe oferecera, como relíquia do inafundável Titanic.


E com estas achegas, se vai cada vez mais o «puzzle» compondo.

Terei ou não razão no título deste arrazoado?


Quem quiser estar por dentro do verdadeiro espólio do Titanic, tem que colocar Ílhavo na «rota» do seu destino.


Ou por que não a RMS Titanic pensar em fazer um exposição, em Ílhavo? Nunca se sabe.


Rotas cruzadas – Viagem inaugural do Titanic e ida para os pesqueiros dos lugres da Pesca do Bacalhau.



Imagens – Arquivo da autora do blog

Ficha  do Grémio– amável cedência do MMI


Ílhavo, 24 de Outubro de 2011

Ana Maria Lopes
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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

10º Aniversário da Ampliação e Remodelação do Museu Marítimo de Ílhavo




PROGRAMA

21 de Outubro | Sexta-feira
: 10 h-18 h Dia aberto

: 10 h-17 h Jornadas do Mar «10º Aniversário»

                  Actividades do Serviço Educativo


22 de Outubro | Sábado


: 16 h Sessão Comemorativa do 10º Aniversário da Ampliação e Remodelação do MMI

: Apresentação do programa comemorativo dos 75 Anos do Museu Marítimo de Ílhavo

: Inauguração da exposição de pintura Álbum do Mar, de Costa Pinheiro

: Exposição da peça O Barco dos Apóstolos, depósito da Família do Tenente Alberto da Maia Mendonça e esposa Maria Casimira Gomes da Cunha

: Apresentação do Livro Bateiras da Ria de Aveiro: Memórias e Modelos, de António Marques da Silva e Ana Maria Lopes

: 17 h30 Quarteto de Flautas da Universidade de Aveiro (Marés de Música – Ílhavo 2011)


Fonte – MMI
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Ílhavo, 20 de Outubro de 2011
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Ana Maria Lopes
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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A famigerada bateira erveira de Canelas... no MMI - 2

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(Cont.)

E, então, a embarcação que agora relembro ao Sr. Manuel Pires, que ainda fotografei semi-abandonada no esteiro de Canelas (anos 80)?



Esta seria mais a verdadeira bateira erveira de Canelas, já sabia, aceito. Mais barata, menor, utilizada exactamente para os mesmos fins: comprimento, 9, 40 metros 2 metros de boca e 14 cavernas, não contando com as dos golfiões duplos. Preparada com traste, para aplicação de mastro. O seu acesso às medidas, á época, não foi fácil.

Popa da bateira erveira e reflexo
(Anos 80)

As pessoas com mais posses, mais abastadas, preferiam mandar construir a primeira de que falámos, chamando-lhe barco, para distinguir.
Há pontos que lhes são comuns e de que não abdicavam: um par de golfiões à proa e outro à ré, bordo com cinta e draga, embreamento a negro, uso de casca de arroz a polvilhar os locais escorregadios, não sendo as pintas decorativas, obrigatórias.

Sondando o Mestre Pires relativamente a um convívio com os construtores de matolas, renegou-o, sul é sul e norte é norte, da Ria – revelou. Desconhecia onde o pai teria ido buscar os moldes de proa e ré, sobretudo, da famigerada bateira erveira de Canelas.
Tê-los-ia, muito mais idênticos, ali mais à mão, no estaleiros dos Mestres Garridos. Se não é bateira a nomenclatura mais correcta, mas poderá ser barco, matola é que nunca. Teriam de me convencer muito bem e, hoje, já não é fácil. Onde tem o matola, a elegância desta proa, além das outras diferenças já apontadas?
Pareceres...
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Sempre ouvi falar só num tipo de matolas, do que fui vendo há dezenas de anos pela Ria, e do que lia nos livros de registos da Capitania, que consultei na época. Eram-lhe atribuídas as seguintes medidas – comprimento, 13, 50 metros, 2, 50 m de boca, e de pontal 0, 45 m. E já mo confirmara o mestre do Seixo, ainda nos anos 80, conhecido carinhosamente por Mestre João Gadelha, pai do actual Evangelista Loureiro (também conhecido por Gadelha).

Este trabalho que agora reconheci em Canelas é para uma representação turística e sabemos que aí os barcos perdem alguma dignidade. Não vai ter mastro, nem vela, embora tenha  coicia, traste e uma minúscula enora. Não vai ter leme, nem fêmeas do leme tem, e a pá da borda não corresponde à traça correcta, pois não está ajustada para navegar.
Mantém as cavernas de arrancas de carvalho, como todos os barcos de Canelas, mais resistentes às águas doces e salobras da região.
Não teria sido mau que tivesse concluído que a embarcação em causa era um matola, mas não concluí. Serei livre de assim pensar, perante os diversos contextos por que fui passando.
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Foi frutuosa a visita ao galpão polivalente e improvisado de Manuel Pires: tinha de tudo que o tempo ainda não apagou: chão de terreiro, próprio para enterrar as estacas, teias de aranha pendentes dos travejamentos superiores, pipas de vinho, cabras à solta, moldes, paus de pontos, restos de madeira de pinho e de arrancas de carvalho. Fiquei razoavelmente elucidada, tendo gostado da clareza explicativa de Manuel Pires.

Imagens – Do arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 12 de Outubro de 2011
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Ana Maria Lopes
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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A famigerada bateira erveira de Canelas...no MMI - 1

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(Esclarecimento)

Sobre a famigerada bateira erveira de Canelas, como Senos da Fonseca a trata, no seu último blogue Arquitectura Naval Lagunar, Bateiras, II parte, pensei se lhe havia de responder, não concordando inteiramente com algumas das afirmações que faz. Ter dúvidas é  salutar; sabendo eu que gosta que haja opiniões discordantes das suas, eis as minhas, com as quais pode não concordar:
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Em primeiro lugar, não tenho nenhum cargo oficial ligado ao Museu, presentemente; são heranças do passado (não haja confusões), mas o Sr. Engenheiro saberá(?) que aquela classificação foi feita por mim, já em 1995, aquando da inauguração da Sala da Ria em 25 de Novembro de 1995. E continuou na actual, no edifício renovado e remodelado, tendo-me tudo passado pelas mãos.

É muito natural com o feitio que me conhece das impressões marítimas e livreiras trocadas, que logo tenha imaginado que eu não deixaria de ir ao terreno, saber e ver o que se estava a passar lá por Canelas. Poderia ter-me enganado, poderia a classificação de D. José de Castro de 1943, em Estudos EtnográficosAveiro, estudo notável que muito prezo, ter influenciado a opção da nomenclatura que adoptei. Errare humanum est

Mas, a bem da classificação do património, voltei a Canelas para falar com Manuel Pires (n. em 4.2.1952), que trabalha, por gosto e jeito, em reconstrução de caçadeiras, quando tem que fazer e lhe sobra tempo do seu emprego fixo na Portucel e da agricultura.

É filho do construtor Arnaldo Domingues Rodrigues Pires (1921-1997), com quem conversei demoradamente por volta de 1985 e com quem estive mais vezes. O Ti Arnaldo trabalhou uns bons anos com o Mestre Luciano Garrido até 1970. Entretanto, estabeleceu-se num acanhado estaleiro onde me recebeu, ajudou a construiu muitos «barcos de Canelas» (longe ainda de eu estar no Museu), designação genérica por que também eram  conhecidos, em Canelas e Salreu.
Construiu a embarcação em causa em 1964 e ofereceu à própria instituição de Ílhavo, os moldes com que a construiu e que lá são exibidos. Dá a entender que o tipo de construção «encerrara», com a doação dos moldes.

A embarcação, na altura, estava no activo, mudava gado, transportava pessoal, transportava ervas, apanhava moliço e levava os seus proprietários até ao S. Paio. Mede 10. 00 metros de comprimento, 2.00 metros de boca e 0,48 m de pontal.

Barco de Canelas

Constatei que era emblemática em Canelas, porque não tendo nenhuma embarcação do «antigamente» que representasse o povo trabalhador, a Junta de Freguesia, em protocolo com a CME, mandou construir este exemplar, visitável,  a colocar, além, numas valas de água doce. Ainda permanece em casa do construtor, porque as valas, por agora, estão muito secas.

As suas medidas sofrem algumas alterações, devido à viagem que ele terá de fazer entre valas, e no resto, tinha umas ideias das construções do pai; já alguns moldes, os de roda da proa e popa construiu-os  novos, vê-se pelo estado e coloração da madeira e fez muita coisa a olho - testemunhou-me.



Portanto, as medidas sofrem um pouco do estado de conveniência do local para onde vai. Roubou-lhe, sobretudo ao comprimento, passou a ter 8, 82 metros, 2, 07 m de boca ,e de  pontal, 0, 55 m.

Nº de cavernas – 14 + 2 pares de golfiões elevados, à proa e à ré e outro par, à ré, à face, os do cagarete.

Tem bordo, com cinta e draga, para facilitar o percurso ao longo dele.

(Cont.)

Imagens – Do arquivo pessoal da Autora

Ílhavo, 3 de Outubro de 2011

Ana Maria Lopes

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Ílhavo na «rota» do Titanic - 1

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Talvez conduza os leitores amigos a concordarem com este título, à primeira vista delirante.

Em posts do mês de Fevereiro de 2009, dei-vos conta da predilecção que tinha pelas minhas colheres de sopa do Titanic e pelas «memórias» que as envolviam. Mito? Lenda? Realidade?

Tendo concluído que era uma história oral que «tinha pernas para andar», com um suporte real muito legítimo, lógico e credível, faltava-lhe uma autenticação por pessoa abalizada. Estará próxima, prometeram-me.

O que precipitou os factos? Coincidências ou destinos?

O Centenário em 2012 do fatídico naufrágio do luxuoso navio, com tudo de história, mito e lenda que em volta dele se gerou, aproxima-se.

E o Comandante, amigo e conterrâneo José Paulo Vieira da Silva capitaneou, no verão passado, um navio em que uma expedição da equipa RMS Titanic fez buscas ao local do naufrágio, com diversos e científicos fins.


No fundo do Oceano, presentemente

O Comandante deu a conhecer aos interessados a “estória” das colheres e, no regresso da viagem, viu e fotografou os talheres em causa, após entusiasmada conversa e troca de impressões.

Passou quase um ano e há pouco recebi um e-mail de Jérémie Marie, a perguntar-me se estaria interessada em contar a história, bem como em mostrar os «badalados» talheres, perante as câmaras, para um curto documentário francês acerca do Titanic, a rodar no ano do centenário.

Em princípio, concordei, vamos a ver se se realizará. A equipa de filmagens deslocar-se-á a Ílhavo para esse fim? !!!!! A ver vamos…

Neste último Agosto aparece também pela Costa Nova, trazido pelo Zé Paulo, outro especialista da RMS Titanic, interessado em conversar e ver as mesmas colheres – Christopher Davino, autor do Catálogo e Director Executivo da última exposição patente em Lisboa, no espaço Rossio (Julho 2009), Titanic The artifact exhibition.

Mas, como existem em Ílhavo? E há outras famílias que também possuem talheres, se bem que eu nunca os tivesse visto (a origem tinha sido a mesma).

Acharam a história encantadora e fascinante e perante a exequibilidade dos factos, prometeram que atestariam a autenticidade dos objectos.
Aguardemos…
Mas as coincidências não ficaram por aí…. Em banalidades de rua…, chegou-se aos talheres do Titanic e, imaginem, caso para dizer que santos de casa não fazem milagres.

(Cont.)

Imagens – Arquivo da autora do blog

Ílhavo, 27 de Setembro de 2011

Ana Maria Lopes
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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Procissão lagunar, em renovada honra à Senhora dos Navegantes

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A tradição secular voltou a cumprir-se e a Gafanha da Nazaré, este fim-de-semana, foi palco das Festas em honra da Nossa Senhora dos Navegantes, com a habitual romaria e procissão, pela Ria de Aveiro (a XIV, sob organização do Grupo Etnográfico da Nazaré e da paróquia local).

O cortejo formou-se, pelas 14 horas, junto do Cais dos Bacalhoeiros, a partir do Stella Maris, em direcção ao cais n.º 3, onde começou o desfile pela Ria.

Em dia soalheiro, um norte muito agreste fez com que participasse, a meu ver, um menor número de barcos.

No entanto, constitui sempre um espectáculo fulgurante, na diversidade de embarcações, na presença de muito devotos agasalhadíssimos e encapuçados, de muita cor, na presença de códigos de sinais que embandeiravam os navios em arco, nas bandeiras portuguesas e, claro, em algumas insígnias clubísticas que não podiam faltar.
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Flores multicolores, muitas, muitas flores, palmas hirtas ou vergadas em arco e outros enfeites adornavam o cortejo religioso.

As opas coloridas e esvoaçantes das irmandades também animavam o cenário, ao som dos acordes de uma banda gafanhense, que o vento ajudava a propagar.

Tudo isto tem um não sei quê de devoto, místico, profano e folclórico que se entrelaça e confunde.

Não tendo tido possibilidade de acompanhar a própria procissão pela Ria, resolvemos abrigarmo-nos na «ponte» do arrastão costeiro Cruz de Malta, acostado frente da empresa.
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A recato do vento e do sol e com óptima visibilidade, apreciámos embarcações, divindades e criaturas, em todo o seu esplendor.

A Ria agitada pelo próprio vento e pelo tumulto dos motores, numa marola de espuma, emoldurava a paisagem.

E nós próprios, a bordo, também éramos suavemente embalados por uma ondulação atrevida, que nos tonteava.
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Pena é que os alvos e abundantes montes de sal da paisagem de outrora se fizessem sentir! Sinais dos tempos!!!

Integraram o desfile as imagens de Nossa Senhora da Boa Viagem, de Nossa Senhora da Nazaré, a padroeira da freguesia e de Nossa Senhora dos Navegantes, a homenageada.

Este ano, a procissão contou, ainda, com a presença de uma imagem vinda da Capelinha da Costa Nova, que imediatamente reconheci – o Santo Amaro, altaneiro, embarcado na sua «xávega», num mar de flores, transportada na embarcação ESPERANÇA NO FUTURO.

ESPERANÇA NO FUTURO


Abriu o desfile a pomposa Lancha dos Pilotos DUAS ÁGUAS, seguida da motora TRAVESSO com a Senhora da Nazaré.


DUAS ÁGUAS



TRAVESSO

O ponto alto foi a embarcação de Adelino Palão JESUS NAS OLIVEIRAS que transportou, além do principal andor, os elementos da Filarmónica Gafanhense, várias irmandades e convidados.



JESUS NAS OLIVEIRAS

Barcos mercantéis adulterados, da MT, também transportaram pessoas devidamente autorizadas, a que se juntaram, ainda, barcos de recreio, barcos de pesca artesanal, lanchas, botes e outros, com proprietário, familiares e amigos.
O possante rebocador MERCÚRIO, no seu gritante alaranjado, encerrava o desfile.

Todo o agrupamento rumou a São Jacinto, saiu em direcção à barra, sempre emblemática, até à Meia-Laranja, para seguidamente voltar e acostar ao Cais do Forte. Aí, a minúscula e típica capelinha de Senhora dos Navegantes acolheu a imagem, seguindo-se a celebração de missa Solene.

Imagens – gentilmente cedidas por Etelvina Almeida


Ílhavo, 19 de Setembro de 2011

Ana Maria Lopes
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