Segundo várias fontes bibliográficas, dentre as quais Palheiros do Litoral Central Português de Ernesto Veiga de Oliveira e Fernando Galhano (1964), na p. 73, por volta de 1808, o arrais Luís dos Santos Barreto (Luís da Bernarda), de Ílhavo, com a maioria das gentes que iam pescar a S. Jacinto, decide arriscar a sua sorte, em busca de pescarias mais proveitosas, a sul. Acaba por se estabelecer na dita Costa Nova, em frente ao Prado da Gafanha.
Também, por volta de 1808, o seu irmão José da Silva Barreto arriba com a sua companha composta exclusivamente por ílhavos, ao areal da Cova, em terras de Lavos. A companha dos «Luizes» rapidamente povoa o local, chegando a erguer uma exígua capela perto da Gala e a instituir a festa de S. Pedro, como padroeiro dos pescadores.
O que acontece é que esta data de 1808, actualmente, é posta em causa pelo pesquisador Hermínio de Freitas Nunes, que indaga junto dos assentos paroquiais.
Segundo me informou: (Sic) A fundação da primitiva povoação dos palheiros da Cova pelo José dos Santos Barreto não passa de uma lenda inventada por quem não conseguiu, ou não soube, chegar mais longe. O José dos Santos Barreto, quando saiu da Costa Nova para Sul, foi casar a Lavos com uma filha de um ílhavo que já lá estava há mais de duas décadas, juntamente com outros, todos casados com mulheres naturais da freguesia de Lavos.
Quando chegou à Costa de Lavos – o José dos Santos Barreto – já existiam ali palheiros e viviam lá pescadores. Só que, como depois alcançou relativa fortuna e chegou a dono de companhas, ganhou o estatuto de protagonista da história.
Os documentos são teimosos e contam uma outra história... a verdadeira: a dos homens e mulheres simples, pescadores e pescadeiras que, esses sim, escreveram a verdadeira história da colónia de pescadores das praias da Cova, Costa de Lavos e Leirosa.
Devoções idênticas com a presença na procissão dos oragos locais de barcos processionais, havia também na Costa da Caparica e na Ericeira, dentre outras, porventura.
E tradição semelhante continua, com o desfile processional actual, na Costa Nova, com o Santo Amaro, em barco do mar, aos ombros de pescadores.
Senhora da Saúde de 2011
Mas, propriamente da obra de arte em causa, pouco mais sabia do que para trás colijo.
Era indispensável contactar com uma pessoa da família Maia Mendonça; para me facilitar esse conhecimento, foi fortuito, mas proveitoso, um encontro com a esposa do Senhor Dr. Pires da Rosa, em que veio a lume a vontade manifesta da Família de depositar o Barco de S. Pedro no Museu, desde que todos os elementos da Família concordassem.
Lá lhe indiquei os passos a seguir e ninguém melhor para encabeçar o assunto que o próprio Dr. Pires da Rosa com quem vim a falar, colocando-lhe todas as questões que urgia saber e que seriam úteis e habituais na incorporação de uma peça em Museu.
Quem o teria construído? Quando? Desde quando residiria, ali, no nº 15 da Rua de Espinheiro, morada que foi do Sr. Tenente Alberto Mendonça e sua esposa Maria Casimira Gomes da Cunha?
Depois da cerimónia de depósito da peça no MMI, no dia 22 de Outubro de 2011, a intervenção simples e sentida do senhor Dr. Pires da Rosa, que O Ilhavense de primeiro de Novembro transcreveu na íntegra, testemunha tudo que ele sabe e viveu, junto desta peça da Família, que nesse dia entregou à guarda do MMI.
Estes registos de memória são o meu enlevo.
À proa…na sua nova residência
Cumpre-se assim uma vontade também expressa pelo Dr. Rocha Madahil, em 1933, primeiro Director do Museu, e do Sr. Américo Teles, grande impulsionador da criação do mesmo e que creio que chegou a ir ver o barquinho, ali a casa, há uns anos muito largos.
Como ilhavense, como vizinha da Família, como elemento dos Amigos do Museu, os nossos agradecimentos ao gesto louvável da Família Tenente Mendonça.
Pormenor à popa
Fotos da autora do blog.
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Ílhavo, 26 de Dezembro de 2011
Ana Maria Lopes
Ana Maria Lopes