sábado, 9 de dezembro de 2017

Homens do Mar - João Simões Chuva - 39

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João Simões Chuva, o Anjo

É suposto saber-se que adoro clichés antigos da pesca do bacalhau. Valem o que valem, mas eu adoro-os. E quando consigo alcançar alguns, rejuvenesço, alegro-me. Que boa pescaria! – penso.
Não conheci e muito menos convivi com o Capitão Anjo, mas as fotos que um seu sobrinho me facilitou, a sua qualidade hollywoodesca e antiguidade falam por si e merecem que as enquadre num currículo marítimo alargado do fotografado, família e «seus navios», à época.
O Capitão João Simões Chuva, o Anjo, nado e criado em Ílhavo (6 de Fevereiro de 1901), morador na Rua Direita, era filho de António Simões Chuva, o Anjo e de Josefa Machado.
Do seu casamento com Carminda Maia Pinguelo, em 1928, nasceu a Maria Natércia, mais tarde, professora do Ensino Primário, de que me lembro bastante bem. Não deixou descendência.
O Cap. Anjo era portador, com dezasseis anos, da cédula marítima nº 14.940, passada pela Capitania do Porto de Aveiro, em 6.9.1917. Pertenceu a uma geração, transição de séculos XIX/XX, em que era hábito começarem a embarcar cedo com familiares ou amigos, mas disso não temos dados concretos.
Teria feito algumas viagens no comércio? – fica a dúvida.
Tive conhecimento, em nota de arquivo, de que exerceu actividade marítima desde 1928, não tendo tido colocação entre 1930 a 1932, anos de crise, o que aconteceu com outros oficiais.
O seu nome aparece, efectivamente, ligado à pesca do bacalhau, na Ficha do Grémio, em 1936, como piloto do Neptuno II, lugre de madeira construído em 1873 em Vila do Conde, comprado por Bensaúde & Companhia, em 1889, propriedade da Parceria Geral de Pescarias. Foi seu comandante Adolfo S. Paião Júnior, o conhecido capitão Adolfo.
Mais um ílhavo que fez a sua vida marítima, infelizmente não muito longa, pela Parceria Geral de Pescarias.
De saco e bagagens no convés, mudaram-se, ambos, nas campanhas seguintes de 1937 e 38, para o belo Hortense, com os mesmos postos de piloto e capitão
Iniciada a nova década, a de quarenta, ambos se transmutaram para o mítico Argus, navio de aço, de quatro mastros, mantendo os mesmos postos. Hermenegildo Rodrigues do Passo foi o imediato – natural  da Fuseta, que tanta gente forneceu para a pesca do bacalhau, sobretudo, pescadores.

No barbeiro, a bordo do Argus…, 1940

Na safra de 1942, logo surgem de novo, o piloto António Simões Chuva e o Capitão Adolfo, agora de salto para o lugre Creoula. Nesse ano, o imediato, Manuel da Silva Costa, também era de Ílhavo.
No ano de 1943, o então «piloto Anjo» passou a imediato do mesmo navio, com o mesmo capitão. Manuel da Silva Costa, também de Ílhavo, exercera o cargo de piloto.
E na campanha de 1944 e seguintes, até 48 (inclusive), João S. Chuva continuou de imediato, mas, agora do Argus, sempre com o capitão Adolfo. Nestes cinco anos, os pilotos foram: José Simões Negócio (44 e 45), António Remígio Sacramento Teiga (46) e João Fernandes Matias (48), todos de Ílhavo. Desde 1937 a 1948, João Chuva, piloto/imediato, e Capitão Adolfo Paião, sempre constituíram um dueto, que, numa dança de cadeiras, usual nas empresas, nunca saiu da mesma, apenas mudando de navio – considerando, à laia de conclusão.
E chegou o ano de 1949 em que o «nosso capitão» se estreou mesmo no comando do lugre-patacho Gazela Primeiro, que dispensa considerações e muito menos apresentações.

Com a mulher, a bordo do Gazela, em1949

E nova década, a de cinquenta, começa e ei-lo como capitão do belo e elegante Hortense, um cisne branco de asas ao vento. Durante estes anos, foram seus pilotos, que tenha conseguido fixar, Francisco Manuel de Oliveira Leite, mais conhecido pelo Chico Leite, em 1951, de Ílhavo.
 
A bordo do Hortense, no início da década de 50

Da esquerda para a direita, na foto anterior, a filha Maria Natércia, o piloto Chico Leite (51) e a mulher do capitão, Carminda Pinguelo.

A bordo do Hortense, no início da década de 50

Da esquerda para a direita, na foto anterior, a filha Maria Natércia, o Capitão Anjo e sua mulher.
E não encontrei mais notificações de embarques, nem na PGP, nem noutra qualquer empresa. Ficou-se pelo tal cisne branco, um dos mais belos e elegantes veleiros da época.

O belo Hortense, a todo o pano…
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E, cerca de dois anos depois, a 17 de Maio de 1956, com 55 anos, partiu para a tal viagem sem regresso, de forma inesperada, vítima de um colapso cardíaco.
Nada como a ajuda do amigo Marques da Silva, na identificação das fotos dos navios, que conheceu, por pormenores ínfimos, tal como as suas mãos. Do capitão Anjo, como lhe chamavam, testemunhou-me ter sido muito boa pessoa, muito afável, com quem se gostava de conversar.
O João Aníbal Ramalheira, seu sobrinho por via materna, chegou a conhecer o tio, a quem chamava Tibão, sendo o dono, ainda hoje, do palheiro que fora dele, na Costa Nova, na Avenida Belavista. Pessoa hábil e habilidosa, fez e arranjava relógios de parede, de que ele ainda hoje, afectuosamente, guarda dois.
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Fotos gentilmente cedidas por João Aníbal Ramalheira.
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Ílhavo, 16 de Novembro de 2017
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Ana Maria Lopes
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