segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Homens do Mar - Manuel dos Santos Labrincha - 16

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De visita ao famoso Argus. Foto de Alan Villiers, em 1950
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A roda gira e, desta vez, «está de quarto», o Capitão Salta, de nome, Manuel dos Santos Labrincha. Aquele a quem eu chamava de primo Salta, porque o era, de facto, nasceu em Ílhavo, em 5 de Dezembro de 1901 e partiu de vez, para mares ignotos e bastante mais distantes, a 5 de Setembro de 1978. O Capitão Vitorino Ramalheira tirou-me, algumas dúvidas e identificou-me novas imagens, conseguidas há pouco.
Há sempre mais uma pecinha a juntar ao «puzzle» da Faina Maior.

O Capitão Salta (ao centro), entre César Maurício (à esquerda) e Adolfo Paião e João F. Matias (à direita). A Campanha do Argus, 1950
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Iniciou vida no mar, como muitos do seu tempo, com 15 anos, sendo portador da cédula nº 12054, passada pela Capitania do Porto de Aveiro, em Março de 1914. Fez viagens de comércio para Cabo Verde, em navios que levavam sal e traziam gado.
Propriamente na pesca do bacalhau, começou em 1926, tendo sido piloto, no Esperança 2º, comandado por Francisco António Bichão, e noutros, da praça do Porto.
Em 1936 e 37, foi capitão do lugre com motor de madeira, Senhora da Saúde, ex- navio dinamarquês Helga, construído em 1920, adquirido para a campanha de 1935 pela Empresa Tavares, Mascarenhas, Neves & Vaz, com sede em Aveiro, que terá naufragado em 1952, na Groenlândia. Foi seu piloto João Fernandes Parracho.

Senhora da Saúde, à entrada no Douro. S. data
Ansiado regresso…
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De 1938 até 1947 (inclusive), comandou o lugre com motor, de madeira, Brites, construído por Manuel Maria Bolais Mónica, na Gafanha da Nazaré, em 1936 para a Empresa Brites e Vaz & Irmãos, da Gafanha da Nazaré.
Segundo o jornal da nossa terra de 15 de Outubro de 1938, este ano de 1938, tem sido fatídico para os pescadores do bacalhau. Um ciclone que soprou no dia 12, no oceano, fez mais umas quantas vítimas, como estragos, nos navios. Desta vez, entre outros, o lugre Brites também perdeu um homem, tendo sofrido também importantes prejuízos materiais. Era seu piloto José Simões Ré.
Outros pilotos/imediatos ilhavenses, durante este período de 1939/1947, do lugre Brites foram – Manuel Fernandes Matias (1942), António Fernandes Matias (Cajeira) (1943/44), Manuel Nunes de Oliveira (1946/47).
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Entre 1948 e 52, o capitão Salta comandou o lugre com motor, de madeira, Aviz, navio de 4 mastros, construído por Manuel Maria Bolais Mónica, na Gafanha da Nazaré, em 1939, para a Companhia de Pesca Transatlântica de Pesca, com sede no Porto.

O lugre Aviz, em construção. Gafanha, 1939

Aviz. Porto, cheias no Douro de 1962
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Foi entre 1948 e 52 que se cruzou o nosso capitão, no lugre Aviz, com António Morais Pascoal (1923-2014), como seu imediato.

Em North Sidney. Capitão Salta, à direita, Capitão Pascoal, ao centro, e Júlio Machado Redondo, à esquerda. S. data
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O Capitão Salta a partir de 1953 até ao final de sua vida activa (1959), exerceu o cargo de capitão no lugre com motor Condestável, de 4 mastros, construído por Arménio Bolais Mónica, em 1948, na Gafanha da Nazaré, igualmente para a Companhia de Pesca Transatlântica, do Porto.
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Lugre Condestável, em dia de bota-abaixo. 1948
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Eram habituais estas mudanças com a construção de navios novos e, em 1953, assim como o Capitão Salta passa para o Condestável, o Capitão Pascoal assume o lugar de capitão no Aviz, até 1959. Dança de cadeiras, a bordo… Em 1960, enquanto o primo Salta abandona o mar, com uma vida de ausências, o amigo Pascoal passa a comandar o Condestável, que perde, por incêndio a bordo, sem quaisquer perdas de vidas.

Lugre Condestável, em ano de transformação, 1957

O Condestável, de imponente lugre-motor que era, foi transformado, em 1957, em navio-motor com dois mastros.
Na inauguração da transformação, os presentes – o 1º motorista do navio (à esquerda), o Capitão Salta (ao centro), o gerente da Companhia de Pesca e o Capitão Vitorino Ramalheira (à direita) – testemunharam o acto.
 
No tombadilho dos botes, em Massarelos, Porto

O nosso bom amigo Vitorino Ramalheira, de 1954 a 1959, como imediato do Condestável teve a oportunidade de se cruzar com o capitão Salta.
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E assim se iam cruzando as vidas dos nossos homens do mar, entre terra e mar, lugres e navios-motor, entre benquerenças e inimizades, entre segredos e concorrências, saudades e sacrifícios.
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Imagens – Arquivo pessoal e gentil cedência da Família do Capitão
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Costa Nova, 10 de Agosto de 2016
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Ana Maria Lopes
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