sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Homens do Mar - António de Morais Pascoal - 17

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A bordo do Aviz, em 1948

A partir do momento em que o Sr. Capitão Pascoal passou a comandar o n/m Novos Mares, estabeleceu-se entre as duas famílias, uma certa afabilidade e estima, dando-nos bastante bem, de tal modo que as duas filhas mais novas, ainda crianças, as gémeas Graça e Teresa foram minhas damas de honor, a 11 de Setembro de 1965. Como o tempo tem corrido…
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António Morais Pascoal, nascido em 30 de Abril de 1923, exerceu os cargos de piloto, nos lugres Lusitânia III e Milena, respectivamente, nos anos de 1945 a 1947, sob o comando, respectivamente, de Carlos Fernandes Parracho (1945) e Tude de Brito Namorado (1946 e 1947).

No cais, junto ao Milena. Ao centro, A. Pascoal e, à direita, o Capitão Tude Namorado. Entre 46 e 47.
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De 1948 a 52, serviu o lugre e Aviz, como imediato, comandado pelo Capitão Manuel dos Santos Labrincha (Salta), com a excepção do ano de 1949, em que fez 2ª viagem do arrastão João Corte Real, sob o comando de Manuel Gonçalves Viana, de Ílhavo.
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António Pascoal, a bordo do Aviz, em 1948
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De 1953 a 1960, comandou o dito lugre Aviz, da praça do Porto, tendo tido como imediatos, de Ílhavo, João Evangelista Gonçalves (1953) e Ernesto Emanuel dos Santos Pinhal (de 1956 a 1959).
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No Aviz, quetes cheios. Boa pesca.
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Na campanha de 1960, passou para o comando do Condestável, da mesma empresa, ano em que naufragou, sendo seu imediato, de novo, Ernesto Emanuel dos Santos Pinhal.
O Condestável, de imponente lugre-motor que era, resultou, em 1957, em navio-motor com dois mastros, após modernização.
O jornal O Ilhavense de 10.9.1960 noticia o naufrágio do Condestável. Sem perda de vidas, mas uma unidade a menos na valorização da nossa frota e mais 10.000 quintais de bacalhau que se desperdiçaram. O navio/motor, juntamente com o Aviz que ainda se encontrava a pescar pertenciam à Companhia de Pesca Transatlântica, Lda., do Porto, tendo sido a causa do naufrágio um incêndio que irrompeu na casa das máquinas, originado por um curto-circuito, às 9 horas do dia 30 de Agosto. A tripulação, composta por 72 homens foi salva pelo Gil Eannes e dividida pelos arrastões que estavam prestes a regressar a Portugal. Faziam parte da tripulação, de Ílhavo, o capitão, António de Morais Pascoal, o imediato, Ernesto Manuel Pinhal dos Santos, o contramestre José dos Santos Pereira, o cozinheiro, José Lucílio Ramos e o ajudante de cozinheiro, Júlio Pereira Verdade.
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Na campanha de 1961, voltou à praça de Aveiro, como capitão do navio-motor, Novos Mares, até 1974.
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Por coincidência, o Novos Mares, construído nos estaleiros de Manuel Maria Mónica, da Gafanha da Nazaré, para a empresa Testa & Cunhas, lambeu, pela primeira vez as águas da ria, no dia 19 de Março de 1958, em substituição do lugre-motor de mesmo nome, naufragado na campanha de 1956.
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Já flutuava…em 1958
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Pilhas de botes…no Novos Mares, em campanha de 69
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Ora o Novos Mares, em 1974, depois de ter passado o 25 de Abril ancorado no Tejo, ainda seguiu para a Terra Nova, ano difícil para a campanha do bacalhau. Regressou em fins de Julho por ordem da Secretaria de Estado das Pescas, uma vez que se haviam malogrado todas as tentativas de conciliação com os tripulantes, que reivindicavam melhores remunerações e outros benefícios. O ano era «quente», tendo regressado à Gafanha da Nazaré… com os porões vazios e greves a bordo.
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Manifestação em St. Pierre, em 1974
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Tornara-se um navio-histórico, pois fora o último barco da chamada Frota Branca a navegar no estreito de Narrows, com os seus dóris cautelosamente alinhados no convés (in Disasters & Shipwrecks of Newfoudland and Labrador, Vol. 3, de J. P. Andrieux, p.121 e 122).
Uma longa vida dedicada à pesca do bacalhau à linha, que, após uns pares de anos em terra, terminou em 10 de Março de 2014.
Nestes longos anos de capitão do n/m Novos Mares, o amigo Capitão Pascoal teve como imediatos ilhavenses, Ernesto Emanuel dos Santos Pinhal (1961), Libânio Tibério Paradela (1962 a 64), Carlos Manuel Vieira Torrão (de 1971 a 73). Em 1974, António Armando Pereira Verdade.
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No ano de 1964, a entrada do navio, para mim, foi peculiar, pois, filmei-a, na minha velhinha Bell and Howell, em circunstâncias especiais, indo em lancha da empresa, esperar o navio, à boca da Barra.
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Que grande azáfama, a bordo! Indescritível… Perante a ansiedade dos beijos e dos abraços, no cais… As bonecas canadianas, em todo o seu esplendor, em grandes caixas, eram a lembrança preferida, dos pais marinheiros para as suas filhotas. E Cruxifixos para casa, também não faltavam. Do navio para os botes e dos botes para o cais. Mas a presença era o melhor dos melhores presentes.

Cap. Pascoal, na ponte, em observação dos trabalhos. 1964. Foto extraída do filme.
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A grande tristeza da saída era compensada pela grande alegria da chegada. Dizia-se…
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Pequenas estórias de uma grande história!
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Fotos – Arquivo pessoal, cedência de J. P. Andrieux e do Sr. Capitão Pascoal
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Costa Nova, 2 de Setembro de 2016
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Ana Maria Lopes
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