quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Os «Vougas» - influência na paisagem lagunar


O lazer na ria - 3

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(Cont).
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Pelos anos 50/60, um passeio de Vouga era tão desejado, que até havia quatro Vougas, o Navegador I, II, III e IV, pertença do Senhor Francisco Tainha, murtoseiro, que fazia a época de veraneio, para aluguer, ao mesmo tempo que tinha também para o mesmo efeito, quatro bateiras – a Miúda, a Tildinha, a Fernanda e a Kiss me.
Se o grupo veraneante, não tinha quem comandasse o barco, um dos arrais mais a jeito (ganharia uns trocos e o prazer de velejar), era com frequência o Capitão Manuel Mendes, um rapazote, à época.
Segundo opiniões avalizadas, os Navegadores eram uns tamancos, pesadões, construídos de eucalipto, na Murtosa, sendo o Navegador IV, o mais aproximado de um verdadeiro Vouga.
Não há dúvida que aquela espécie de baía, que ali formava a ria, junto da última Mota (1941), onde atracavam as barcas da passagem, em verdadeira atracação à Labareda, era o coração da praia – a Milú, a Namy, a João Luís, as 8 embarcações de aluguer, a lancha Razalas, o Lena II, o Rio Vouga e algumas bateiras de pesca.

Postal em circulação nos anos 60 
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E tudo vento levou…
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Disseram-me, pois o barco era-me familiar, que, uma vez, um tal Major Ferrer apareceu junto do Mestre Gordinho com um barco mais pequeno, cerca de uns 5 metros de comprimento, de nome, Lena I, pedindo-lhe que lhe construísse um, idêntico, que resultou mais comprido (perto de 6 metros), com poço dividido transversalmente e se viria a chamar Lena II. Assim o fez, por volta de 1942. Este bote, dito «de linhas quebradas», porque de construção mais económica e mais fácil, em que as cavernas já não tinham a dificuldade do arredondado, não sendo inteiriças, seduziu o Mestre.
Uns anos mais tarde, entre outros, construiu um para si, o Rio Vouga, em 1948, que creio que ainda existe apto a navegar. Esta variante, embora coabitando com os Vougas mais puros, nunca foi considerada como tal.

ALBERTO. Barco familiar. Anos 40

Se o Vouga foi por excelência, um barco familiar, dada a sua constituição exterior, bem como um poço fundo e cómodo, defensor de algumas aragens mais agrestes, também serviu de barco romântico a duo, para um casal enamorado.
 
Vouga Zália com os proprietários a bordo

Também memorizei de uma forma muito nítida as tardes de lazer passadas individualmente, em ria calma, cheia e espelhada, do Engenheiro Ventura da Cruz, no Zália, do Senhor Taveira, no Bill e do Capitão Chico Leite, no Ok. Por vezes, a neblina do fim da tarde descia e envolvia o cenário, com uma beleza ímpar.

Eng. Ventura da Cruz, no Zália

Do lazer individual à competição, as suas características eram relevantes. E ponto alto, na Festa da Senhora da Saúde, era o panorama lagunar das regatas. Estonteante o espectáculo, apreciado de perto, durante tantos anos!

Antigamente, regata da Senhora da Saúde

Se passeava e muitas vezes o fiz, por terra, entre a Torreira e o Carregal, tínhamos o prazer de apreciar os ditos Vougas cabinados do norte da ria, pois aqueles grupos de amigos ficavam de um dia para outro na ria, entregues à caça, nos seus barcos cabinados – daí a justificação de uma coberta que os protegesse do fresco da noite.
Como esses passeios passaram a durar alguns dias e noites, os barcos deste tipo foram aumentando.
Segundo informação do Arq. Hélder Ventura, também aqui presente, que me cedeu estas imagens dos Vougas de Ovar – alguns ainda navegam e outros já desapareceram, como é o caso do «Jolinha». O primeiro destes Vougas foi encomendado a António Gordinho por Francisco Ramada em 1947.

O JOLINHA – barco de Ovar, cabinado

De seguida, construíram-se  mais embarcações deste tipo, algumas por  grupos de amigos que se associaram na «empreitada», como foi o caso do «Caster», do «Narceja» e do «Vouga». Estes dois últimos ainda existem e resistem.
Para além destes barcos existiam mais três ou quatro : o «Ria de Sonho» o «Ovarense» e outros dois por identificar,  que chegaram a envergar velas de carangueja.
Em sagrado e ameno  convívio, num dos primeiros Cruzeiros da Ria, tal como os moliceiros norteiros e os do sul, os matolas.
 
Um dos pimeiros Cruzeiros da Ria

Imagens – Fotos gentilmente cedidas por Jorge Ventura da Cruz, João Aníbal Ramalheira, Hélder Ventura e José Guerra.
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Ílhavo, 2 de Dezembro de 2015
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Ana Maria Lopes
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2 comentários:

Anónimo disse...

É sempre um prazer entrar"no Marintimidades. E aproveitar as excelentes fotografias...A da mota,encaixilhei-a,ao lado de outra,mais antiga,ainda com a "velha" Marisqueira.E já com a "Tildinha" e "Maria Fernanda"...
O nome RAZALAS,não sei se reparou,é SALAZAR ao contrário.Tenho ideia que seria de uns brasileiros "de torna-viagem"...Não garanto...Dávamos pouca atenção a esses pormenores.
Cumprimentos,"kyaskyas"

Ana Maria Lopes disse...

Obrigada, caro conterrâneo «Kyaskyas».

Cumprimentos.