quarta-feira, 4 de março de 2015

Postais da Costa Nova - 1

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Será que a Costa Nova terá sempre algo a acrescentar? Relativamente à «minha bíblia» sobre esta língua de areia que já nos deleitou muito mais, este postal não é novidade (p. 123 da obra já citada); só que, de tão diminuto que está, não permite apreciar toda a informação que nos faculta.
Há muito que vimos sentindo a falta de uma praia lagunar, num contacto aberto, solto, franco, doce e libertador, com as águas correntes lagunares. Além de nos ter sido afastada da vista, uma boa dezena de metros, a ria, ainda nos foi levado esse refrescar directo dos pés ou dos corpos, nas suas macias águas. Isto consegue-se na ilha, na dita «Ilha Branca» de formação recente (pelos anos 70), mas convenhamos que aí abicar, a quem não tem embarcação, não é fácil.
Desde que a nossa estância balnear se começou a afirmar como pousio de veraneantes, o Bico começou por ser a primeira praia lagunar de renome, aí, até aos anos 30 do século XX.
Quem sabe, hoje, o que foi o Bico?
Um espraiado de areia, mais ou menos defronte ao actual e degradado parque infantil, enamorado de sol, apaixonado de água e luz, onde as beldades chapinhavam em grupo, para se sentiram mais afoitas. Foi a praia lagunar do tempo dos meus pais, onde chegaram a ser montadas, algumas, não muitas, barraquitas riscadas, para aconchego dos grupos de jovens veraneantes e possível troca de vestimenta molhada.
A actividade piscatória na zona era muito razoável e as embarcações, ao longe, na ria, pontilhavam-na de marcas mates ou brilhantes, empasteladas no casario embaciado ou reluzente da Gafanha da Maluca.

Postal da Costa Nova (Banhos no rio) – o Bico

Ainda reconheci este Bico, já só com umas restos de areia e vegetação (tramagueiras), onde nos reuníamos, em tardes mais ventosas, para apanhar búzios e «concharinhas» para colares, para jogar as cartas, o prego, o encarreirar ou o ringue. O banho, mesmo para as mais afoitas, já era impossível, dado que ao caminhar pé ante pé, logo atolávamos num lodaçal que nos atemorizava.
No nosso tempo de menina e moça, usámos uma praia lagunar mais a norte (entre 1935 e 70), a que foi dado o pomposo nome de Biarritz (praia famosa do sul de França), frente a um casario que começaria a nascer e a desenvolver-se no redondo conhecido ainda hoje por esse nome.
A pé, de bicicleta ou de bateira, para aí nos dirigíamos em bandos, quais gaivinas ou gaivotas esvoaçantes.
Saboreávamos-lhe a areia branca, macia, em declive, o sol quente, luminoso e acariciador, bem como a água corrente, límpida, agitada ou calma, consoante o vento ou a ausência dele.
A ria era o palco de um sem número de malabarismos – mergulhos corridos, saltados, pinoteados, braçadas em diversos estilos (bruços, crawl, mariposa). Mas, para deleite mesmo ao sabor da corrente, fruindo o quentura do sol, nada como boiar directamente na água ou em colchões ou bóias insufláveis.
Pelos anos 50, os vários banheiros da praia (Sr. Portugal, Abreu e Maiaia) ainda dispunham na faixa de areal, as suas barracas riscadas e coloridas, onde, mediante aluguer, nos vestíamos, despíamos e abrigávamos da canícula, vento ou nevoeiro em excesso.

Na Biarritz, em 1963

E, por aqui, foram despontando os primeiros amores que, ainda hoje, deixaram as suas marcas.
Logo a seguir ao aparecimento da Biarritz, começou a moda de San Sebastian (praia do norte de Espanha), uns trezentos metros mais a norte, junto a uma antiga seca de Lavadores, que não chegou a gozar do brilho do primeiro espaço.

Na enseada, ao fundo, avista-se San Sebastian.1967

A rapaziada, que fruía de belos mergulhos de dunas altas para água límpida e profunda, era mais a clientela de San Sebastian. Ficava, mais ou menos antes da actual ponte da Barra, frente à actual moradia do arquitecto Cravo.
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Foram estas as praias lagunares da Costa Nova, até ao grande desfalque, a que foi submetida a ria, pelos princípios de setenta.
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Ílhavo, 4 de Março de 2015
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Ana Maria Lopes
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2 comentários:

Anónimo disse...

Que saudades!...Falei nisso há pouco tempo...Também nos deslocávamos,do Bico para a Biarritz,numa enorme câmara de ar (de avião de S.Jacinto,suponho...)que era do meu primo João Manuel Machado,mas que,não sei como,passou a estacionar na casa da Minha Avó.Sempre cheia,ia a rolar até ao Bico,aí entrava na água,na vazante,e, em "semicúpido",remando com as mãos,chegávamos ao destino.
Os banhos eram sempre no sentido da corrente,saindo da água a juzante,"a pedibus calcantibus" no retorno,repetindo-se a receita até fartar...
Cumprimentos,"kyaskyas"

Ana Maria Lopes disse...

Caro Conterrâneo:
Obrigada pelo seu saudoso testemunho. Cheguei a ver rapazes a deslocarem-se em câmaras de ar dessas, enormes,mas entretanto, passou-me...