Será
que a Costa Nova terá sempre algo a acrescentar? Relativamente à «minha bíblia»
sobre esta língua de areia que já nos deleitou muito mais, este postal não é
novidade (p. 123 da obra já citada); só que, de tão diminuto que está, não
permite apreciar toda a informação que nos faculta.
Há
muito que vimos sentindo a falta de uma praia lagunar, num contacto aberto,
solto, franco, doce e libertador, com as águas correntes lagunares. Além de nos
ter sido afastada da vista, uma boa
dezena de metros, a ria, ainda nos foi levado esse refrescar directo dos pés ou
dos corpos, nas suas macias águas. Isto consegue-se na ilha, na dita «Ilha
Branca» de formação recente (pelos anos 70), mas convenhamos que aí abicar, a quem
não tem embarcação, não é fácil.
Desde
que a nossa estância balnear se começou a afirmar como pousio de veraneantes, o
Bico começou por ser a primeira
praia lagunar de renome, aí, até aos anos 30 do século XX.
Quem
sabe, hoje, o que foi o Bico?
Um
espraiado de areia, mais ou menos
defronte ao actual e degradado parque infantil, enamorado de sol, apaixonado de água e luz, onde as beldades
chapinhavam em grupo, para se sentiram mais afoitas. Foi a praia lagunar do
tempo dos meus pais, onde chegaram a ser montadas, algumas, não muitas,
barraquitas riscadas, para aconchego dos grupos de jovens veraneantes e
possível troca de vestimenta molhada.
A
actividade piscatória na zona era muito razoável e as embarcações, ao longe, na
ria, pontilhavam-na de marcas mates ou brilhantes, empasteladas no casario
embaciado ou reluzente da Gafanha da Maluca.
Postal da Costa Nova (Banhos no rio) – o Bico
Ainda
reconheci este Bico, já só com umas restos
de areia e vegetação (tramagueiras), onde nos reuníamos, em tardes mais
ventosas, para apanhar búzios e «concharinhas» para colares, para jogar as
cartas, o prego, o encarreirar ou o ringue. O banho, mesmo para as mais afoitas,
já era impossível, dado que ao caminhar pé ante pé, logo atolávamos num lodaçal
que nos atemorizava.
No
nosso tempo de menina e moça, usámos uma praia lagunar mais a norte (entre 1935
e 70), a que foi dado o pomposo nome de Biarritz
(praia famosa do sul de França), frente a um casario que começaria a nascer e a
desenvolver-se no redondo conhecido ainda hoje por esse nome.
A
pé, de bicicleta ou de bateira, para aí nos dirigíamos em bandos, quais
gaivinas ou gaivotas esvoaçantes.
Saboreávamos-lhe
a areia branca, macia, em declive, o sol quente, luminoso e acariciador, bem
como a água corrente, límpida, agitada ou calma, consoante o vento ou a
ausência dele.
A
ria era o palco de um sem número de malabarismos – mergulhos corridos,
saltados, pinoteados, braçadas em diversos estilos (bruços, crawl, mariposa). Mas, para deleite
mesmo ao sabor da corrente, fruindo o quentura do sol, nada como boiar
directamente na água ou em colchões ou bóias insufláveis.
Pelos
anos 50, os vários banheiros da praia (Sr. Portugal, Abreu e Maiaia) ainda
dispunham na faixa de areal, as suas barracas riscadas e coloridas, onde,
mediante aluguer, nos vestíamos, despíamos e abrigávamos da canícula, vento ou
nevoeiro em excesso.
Na Biarritz,
em 1963
E,
por aqui, foram despontando os primeiros amores que, ainda hoje, deixaram as
suas marcas.
Logo
a seguir ao aparecimento da Biarritz,
começou a moda de San Sebastian (praia
do norte de Espanha), uns trezentos metros mais a norte, junto a uma antiga
seca de Lavadores, que não chegou a gozar do brilho do primeiro espaço.
Na enseada, ao fundo, avista-se San Sebastian.1967
A
rapaziada, que fruía de belos mergulhos de dunas altas para água límpida e
profunda, era mais a clientela de San
Sebastian. Ficava, mais ou menos antes da actual ponte da Barra, frente à actual
moradia do arquitecto Cravo.
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Foram
estas as praias lagunares da Costa Nova, até ao grande desfalque, a que foi
submetida a ria, pelos princípios de setenta.
-Ílhavo, 4 de Março de 2015
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Ana Maria Lopes
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Que saudades!...Falei nisso há pouco tempo...Também nos deslocávamos,do Bico para a Biarritz,numa enorme câmara de ar (de avião de S.Jacinto,suponho...)que era do meu primo João Manuel Machado,mas que,não sei como,passou a estacionar na casa da Minha Avó.Sempre cheia,ia a rolar até ao Bico,aí entrava na água,na vazante,e, em "semicúpido",remando com as mãos,chegávamos ao destino.
ResponderEliminarOs banhos eram sempre no sentido da corrente,saindo da água a juzante,"a pedibus calcantibus" no retorno,repetindo-se a receita até fartar...
Cumprimentos,"kyaskyas"
Caro Conterrâneo:
ResponderEliminarObrigada pelo seu saudoso testemunho. Cheguei a ver rapazes a deslocarem-se em câmaras de ar dessas, enormes,mas entretanto, passou-me...