O município da Murtosa recuperou as antigas instalações da fábrica da Comur.
Já que não pude estar presente na inauguração do equipamento cultural para ver, apreciar e ouvir, tive de me valer da escrita e das imagens de amigas. Num futuro próximo, tenciono fazer lá uma visita.
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Há muito que a identidade e a vivência das gentes da Murtosa estão intimamente ligadas à indústria da conserva de enguias – a tradição de preparar e comercializar este peixe da ria remonta aos inícios do século passado e tem vindo a marcar várias gerações de murtoseiros. A partir de ontem, essa relação passa a estar devidamente destacada e perpetuada, com a abertura daquele que é o único museu nacional dedicado às conservas de enguias. O equipamento cultural, inaugurado pelo secretário de Estado do Mar, Manuel Pinto de Abreu, nasceu da recuperação das antigas instalações da Comur – Fábrica de Conservas da Murtosa.
«É muito mais do que a recuperação de umas antigas instalações fabris, é um espaço de memória e história do nosso povo», destacou Joaquim Baptista, presidente da Câmara da Murtosa, a propósito do equipamento que resultou de um investimento de 1,3 milhões de euros – montante que incluiu a recuperação do imóvel e a aquisição de equipamento.
Joaquim Baptista confessou ter expectativas elevadas quanto à afluência de visitantes a este museu – que mantém o nome da fábrica que já funcionou naquele edifício (Comur). «Existem, por esse país fora, muitas conserveiras e uma série de espaços museológicos associados à indústria conserveira, mas conservas de enguia, só mesmo na Murtosa», destacou o edil.
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E o que podem os visitantes ficar a conhecer neste novo museu? A história da fábrica e da comunidade onde ela se insere, vendo o desenvolvimento do processo conserveiro e as suas fases, através de uma museografia contemporânea, que alia design, conteúdos de qualidade e interactividade. Este espaço distingue-se pela sua capacidade pedagógica de envolver os diversos públicos na história de uma fábrica, dos seus trabalhadores e, no fundo, de toda uma comunidade, revelou ainda Joaquim Baptista.
Um dos destaques do discurso expositivo assenta na «apresentação de vídeos, com testemunhos emocionados, de quem nasceu e trabalhou na fábrica durante muitos anos», notou ainda o autarca, em declarações ao PÚBLICO.
-Uma história com mais de 70 anos
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Desde os inícios do século XX que muitas murtoseiras se dedicavam à fritura e venda da enguia nas feiras e romarias da região Centro, mais concretamente na Guarda, Mangualde, Oliveira de Azeméis, Trancoso, Viseu. «Aproveitavam um produto excedente e encontraram uma forma de o conservar através do molho de escabeche», enalteceu Joaquim Baptista.
A devastação da II Grande Guerra acabou por motivar uma enorme procura por alimentos, levando a que surgissem oportunidades de negócio para este produto tradicional da ria. Através de um agente comercial, de Itália, chegou à Murtosa uma encomenda para 2500 barricas de enguias.
Mas como «a lei exigia condições higiénico-sanitárias para a laboração» e a produção ainda era feita de forma «artesanal e caseira», produtoras e homens de negócio agregam-se e «a 7 de Novembro de 1942, por escritura pública, constituíram uma sociedade por cotas denominada Fábrica de Conservas da Murtosa, Lda.», recordou a autarquia murtoseira.
A empresa prosperou e foi ganhando notoriedade, exportando os seus produtos para os quatro cantos do mundo. Em 1997, a firma deixou a velha «Fábrica das Enguias», em pleno centro de Pardelhas – mudando-se para a Zona Industrial da Murtosa, onde continua a laborar actualmente –, espaço que está, agora, transformado em unidade museológica.
Aspecto exterior
O símbolo
Barrica, enguia e maquinaria
A saudade de um antigo operário
Encenação da preparação das enguias
Enguias fritas
-Imagens – Etelvina Almeida
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Fonte – Maria José Santana, Jornal Público
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Ílhavo, 22.2.2015
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AML
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