Dos Postais
da CASA
do BICO que Senos da
Fonseca tem escrevinhado, no blogue Terra da Lâmpada, desde Fevereiro, não
há dúvida que, para mim, o último, que relata um parto
improvisado a bordo de uma bateira
labrega, seduziu-me mais profundamente. Todos eles têm o seu atractivo, porque
relatam histórias ficcionadas entre figuras características da Costa Nova, que,
por sua vez, lhe são hipoteticamente relatadas pela Zefa e pela Bernarda, em
encontros de passeios matinais.
Elogio no autor, a
capacidade criativa, a preocupação do registo dos nossos regionalismos, em
contexto, bem como o entusiasmo com que nos brinda com os seus relatos.
No entanto, a «estória» do parto da Joana Labrega
fascinou-me demais …Porquê?
Por ter a ria como
cenário, a bordo de uma bateira labrega,
de vela bastarda, com toldo espalmado (pata de rã)?
Por registar os tais
regionalismos (vertedouro, escalamões,
saltadouro, castelo da proa, traste, orça, etc.), sobretudo, de cariz
marítimo?
Por nos contar um parto
improvisado, o desabrochar de uma vida, com toda a sua emoção?
Eu, que assisti a partos
e, principalmente, fui mãe, sem os artifícios que envolvem os partos actuais, pensei,
depois de ter acabado de ler a história:
– há quarenta e tal anos, quase que preferia ter parido a bordo de uma labrega
que numa «cama de bilros», de pau-santo.
E fiquei ferrada naquele pensamento!!!!!!!!!! que
navegou comigo até de manhã. Que
beleza!
Costa Nova, 1 de Maio
de 2013
AML
2 comentários:
Um sonho lindo Ana Maria, numa linda história.
Também li a "estória"da Joana Labrega,e,de caminho,a designação "labrega"para a bateira,que,além dos "saltadouros"com a rede em espiral,e o "bater das varas"na borda da bateira,para ir encaminhando as taínhas pelo labirinto,eu via,fascinado,paradas,o pescador sentado no "paneiro da proa",na mão direita a "arte",constituida por uma vara flexível,tendo na ponta,enfiadas num fio e formando
como que um novelo,dezenas de "serradelas"(minhocas...)que o pescador,num movimento oscilante,ora mergulhava na água,ora retirava "de esticão",trazendo as mais das vezes,a enguia "agarrada" à bola de serradela,que,num movimento de esticão,o pescador atirava para as cavernas da pôpa...Daí seriam guardadas nas caixas triangulares,que,presas,nas águas da borda,a varas fixas,só saíam ou para o mercado,ou para as trazeiras da velha "Marisqueira"do senhor Otero,onde,mesmo no chão,eram amanhadas,utilizando,em vez de areia da praia,a própria terra do local...Ninguém morreu por causa disso!...Cumprimentos,"Kyaskyas"
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