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Em Julho de 1959, domingo, Aveiro
comemorou o “Milenário” da
primeira referência, conhecida, à sua existência, expressa no documento da
doação feita em 26 de Janeiro de 959, pela Condessa Mumadona Dias, ao mosteiro
de Guimarães, por ela fundado. Aveiro contava-se entre as terras então doadas
ao referido Mosteiro.
Em simultâneo, na data referida, Aveiro comemorou o “Bicentenário” do registo da Carta de Provisão (26.07.1759), em que D. José outorga e faz mercê, que dessa data em diante, Aveiro fique erecta cidade.
A representação de Ílhavo nas festas
comemorativas do “Milenário e
Bicentenário de Aveiro”,
nomeadamente no Cortejo Folclórico, foi exemplar. Faz segunda-feira, portanto,
dia 26 de Julho, 62 anos…Era domingo, em 1959.
Dia de festa
Todos os concelhos do nosso distrito cooperaram, participando com os bonitos carros alegóricos representativos das suas actividades comerciais, industriais e agrícolas.
Ílhavo não poderia faltar. Não só
porque as histórias das duas povoações tiveram origens e percorreram caminhos
comuns até certo período da sua história, confundindo-se durante largo período
as suas gentes, já que Sá, sita no termo de Aveiro, pertencia a Ílhavo. Sujeitas
aos mesmos momentos de fartura ou de privações, e até catástrofes, conforme o
estado da laguna que era a circunstância destas gentes da borda. Mas a ligação
entre os dois agregados populacionais ainda se reforçou aquando da grande crise
de abastecimento da vila de Aveiro, verificada no séc. XVI. Ílhavo foi,
naturalmente, pelas ligações referidas, dos lugares vizinhos que mais
comparticipou para suprir as carências sentidas na vila vizinha, fazendo-o dos
mais variados modos, com os mais variados produtos em que o termo da vila era
rico. Forneceu pão, cereais (milho, trigo, painço), lenha, vinho e ainda carnes
e muitos outros produtos, de que Aveiro precisava para sustento da sua população
que teria crescido de um modo explosivo a partir do séc. XV, com a presença de
muitos mercadores estrangeiros, que ali se vieram fixar.
Por estes motivos, a participação do
concelho de Ílhavo, nas festas do Milenário, deveria ter uma dimensão muito
vasta e variada, na expressão e motivação.
Embora todo o concelho de Ílhavo tivesse uma representação à altura, é, do nosso grupo, de que eu e muitas das minhas amigas fazíamos parte, que tenho uma memória mais viva.
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A abrir, um dístico com a palavra ÍLHAVO, conduzido por dois autênticos
pescadores. A seguir, um friso de jovens pescadeiras, seguidas por mais seis
padeiras e outras tantas ceifeiras, vestidas a capricho. Um grupo de lindas
tricanas antigas e modernas, tendo havido o cuidado de, naquelas como nestas,
escolher lindos palminhos de cara, dentre as mais graciosas das nossas gentis
meninas. – in “O
Ilhavense “ de 1 de Agosto de 1959.
Pelo menos as ceifeiras entoavam alegremente a “Canção das Ceifeiras” que fazia parte do repertório da revista infantil “A Nossa Escola”, com letra do Prof. José Pereira Teles e música do vaguense Berardo Pinto Camelo.
Seguiram-se representações do Illiabum Clube, da Fábrica da Vista-Alegre, da Gafanha da Nazaré, da Indústria de Conservas de Peixe da Barra, o carro da Capelinha da Nossa Senhora da Saúde…
Fechava esta parte do cortejo um
carro com uma alegoria de Ílhavo (a vela não podia faltar), estruturada sob um
feliz desenho modernista de Emanuel Macedo e ladeada pelos Bombeiros
Voluntários de Ílhavo.
Segundo a fonte jornalística já referida, foi um cortejo que fechou com chave de oiro todas as festas mundanas do “Milenário e Bicentenário de Aveiro”.
E lembrar a azáfama que antecipou
todo este folclore?
O centro do mundo era a casa da
Senhora D. Dadinha Lé, pequenina, gordinha e gaiteira, com o bairrismo à flor
da pele.
Em cima da mesa da sala de jantar,
metros e metros dos mais variados tecidos (cetins, sarjas, veludos, chitas,
fazendas, feltros, etc.) e acessórios: chapéus, lenços, cestos, canastras,
faixas, xailes, foices e outros.
E as idas ao Porto àqueles grandes
armazéns de têxteis, em busca dos tecidos mais apropriados?
E as provas, que farra! Na nossa
juventude, queríamos apresentarmo-nos o melhor possível: o calçar da bota, da
meia riscada de vermelho e branco, o arriar do saiote, o içar da saia com a
faixa, o trilhar do avental, o ajeitar da blusa ao peito e o dobrar da aba do
chapéu da maneira que melhor condissesse com o rosto.
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Eram estas as gentis ceifeiras, da esquerda para a direita: Célia Ré, Ana Maria Lopes, Maria Manuela Vilão, Rosa Armanda Mano, Idalina Bela e Elisabete Moreira.
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Ílhavo, 21 de Julho de 2021
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Ana Maria Lopes
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