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Das
vezes sem conta que passei pelos meus recortes do jornal “O Ilhavense”, desde a
sua fundação, sempre me deu na vista o título “O naufrágio do Palmirinha”, bem
evidente no jornal de 25 de Outubro de 1936, mas além do título, nunca li mais nada.
Chegou o dia de parar e ler.
Sem
grandes detalhes, o ”Palmirinha”, lugre de madeira, ex-“Palmira”
construído em Fão por José dos Santos Borda, em 1921 para a Parceria Marítima
do Douro, Lda., tomou o nome de “Palmirinha”, ao ter sido adquirido por Veloso,
Pinheiro & Cª. Lda., para a campanha de 1935.
Quanto
ao naufrágio, vou respigar uns apontamentos do tal “Ilhavense” de 25 de
Outubro de 1936.
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“No
dia 26 de Setembro começou de soprar um fortíssimo temporal. O “Palmiririnha” que
era comandado pelo Sr. João Francisco Bichão (Mano), encontrava-se ancorado na
Terra Nova, exercendo a sua faina, tendo pescado, até àquele dia cerca de 4.000
quintais de peixe.
Durante
a noite, o mar varreu o convés do barco, que começou a abrir água.
Na
manhã do dia seguinte rebentou a amarra fora do escovém umas quinze braças,
atravessando-se o navio ao mar, o que constituía um enorme perigo. Mandou então
o comandante que o navio fôsse pôsto de capa com a vela grande nos primeiros
rizes e triângulo, conservando-se assim o “Palmirinha” até ao dia seguinte.
Como o tempo amainasse um pouco, foi ordenado que se içasse mais algum pano e
se desfizesse a capa, notando-se então que a embarcação não dava pelo leme.
Investigado o motivo, verificou-se que êste estava partido por cima do primeiro
“macho”, estando apenas no lugar um bocado da “madre”. O momento era de grande
perigo. Tôda a tripulação corria o risco de morrer.
Providencialmente,
andavam os veleiros “Gaspar” e “João Miguel”, aos quais pelo código, foi comunicada
a situação embaraçosa do “Palmirinha”. Os capitães daqueles dois barcos, logo
que o tempo melhorou um pouco mais, foram a bordo do lugre em perigo, onde a
tôda a pressa se procedia á construção dum leme provisório com o qual o
“Palmirinha”, pudesse demandar o porto mais próximo.
Como
o tempo novamente começasse a piorar, os capitães visitantes tomaram o rumo dos
seus barcos, depois de combinarem com o capitão do “Palmirinha”, que se não
afastariam muito dele para o caso de um socorro de vidas que não tardou.
Colocado
o leme provisório no “caixão”, em breve começou a bater contra “o cadaste”,
abrindo o navio mais água e tanta, que a tripulação não pôde mais abandonar as
bombas.
Na
manhã do dia 29 de Setembro, após o emprego dos últimos esforços para salvar o
navio, como a vida de toda aquela gente corria iminente risco, pediu o seu
comandante ao “João Miguel”, que se aproximasse, dando então ordem para que se
fizesse o transbordo da tripulação, procedendo em seguida ao afundamento mais
rápido do “Palmirinha”, visto se perderem todas as esperanças de o salvar.
Quando o lugre sinistrado se afundou estava na latitude de 40º-30’ N e na
longitude de 49º-12’. Oeste, ou seja entre 15 a 20 milhas do Banco.
O
“João Miguel” recolheu com provas da melhor camaradagem os náufragos do
“Palmirinha” trazendo-os para a Figueira da Foz, donde retomou cada um a
direcção da sua terra natal, depois de irem ao Porto apresentar na Capitania o
respectivo protesto.
O
capitão veio directamente da Figueira para Ílhavo, visto o seu estado de saúde
ser melindroso.
Guarda o leito, sob os cuidados do Sr. Dr. José Santos.
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Ílhavo,
13 de Abril de 2021
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Ana
Maria Lopes
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