terça-feira, 13 de abril de 2021

O naufágio do "Palmirinha"

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Das vezes sem conta que passei pelos meus recortes do jornal “O Ilhavense”, desde a sua fundação, sempre me deu na vista o título “O naufrágio do Palmirinha”, bem evidente no jornal de 25 de Outubro de 1936, mas além do título, nunca li mais nada. Chegou o dia de parar e ler.

Sem grandes detalhes, o ”Palmirinha”, lugre de madeira, ex-“Palmira” construído em Fão por José dos Santos Borda, em 1921 para a Parceria Marítima do Douro, Lda., tomou o nome de “Palmirinha”, ao ter sido adquirido por Veloso, Pinheiro & Cª. Lda., para a campanha de 1935.

Quanto ao naufrágio, vou respigar uns apontamentos do tal “Ilhavense de 25 de Outubro de 1936.

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O “Palmirinha”, foto de autor desconhecido
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“No dia 26 de Setembro começou de soprar um fortíssimo temporal. O “Palmiririnha” que era comandado pelo Sr. João Francisco Bichão (Mano), encontrava-se ancorado na Terra Nova, exercendo a sua faina, tendo pescado, até àquele dia cerca de 4.000 quintais de peixe.

Durante a noite, o mar varreu o convés do barco, que começou a abrir água.

Na manhã do dia seguinte rebentou a amarra fora do escovém umas quinze braças, atravessando-se o navio ao mar, o que constituía um enorme perigo. Mandou então o comandante que o navio fôsse pôsto de capa com a vela grande nos primeiros rizes e triângulo, conservando-se assim o “Palmirinha” até ao dia seguinte. Como o tempo amainasse um pouco, foi ordenado que se içasse mais algum pano e se desfizesse a capa, notando-se então que a embarcação não dava pelo leme. Investigado o motivo, verificou-se que êste estava partido por cima do primeiro “macho”, estando apenas no lugar um bocado da “madre”. O momento era de grande perigo. Tôda a tripulação corria o risco de morrer.

Providencialmente, andavam os veleiros “Gaspar” e “João Miguel”, aos quais pelo código, foi comunicada a situação embaraçosa do “Palmirinha”. Os capitães daqueles dois barcos, logo que o tempo melhorou um pouco mais, foram a bordo do lugre em perigo, onde a tôda a pressa se procedia á construção dum leme provisório com o qual o “Palmirinha”, pudesse demandar o porto mais próximo.

Como o tempo novamente começasse a piorar, os capitães visitantes tomaram o rumo dos seus barcos, depois de combinarem com o capitão do “Palmirinha”, que se não afastariam muito dele para o caso de um socorro de vidas que não tardou.

Colocado o leme provisório no “caixão”, em breve começou a bater contra “o cadaste”, abrindo o navio mais água e tanta, que a tripulação não pôde mais abandonar as bombas.

Na manhã do dia 29 de Setembro, após o emprego dos últimos esforços para salvar o navio, como a vida de toda aquela gente corria iminente risco, pediu o seu comandante ao “João Miguel”, que se aproximasse, dando então ordem para que se fizesse o transbordo da tripulação, procedendo em seguida ao afundamento mais rápido do “Palmirinha”, visto se perderem todas as esperanças de o salvar. Quando o lugre sinistrado se afundou estava na latitude de 40º-30’ N e na longitude de 49º-12’. Oeste, ou seja entre 15 a 20 milhas do Banco.

O “João Miguel” recolheu com provas da melhor camaradagem os náufragos do “Palmirinha” trazendo-os para a Figueira da Foz, donde retomou cada um a direcção da sua terra natal, depois de irem ao Porto apresentar na Capitania o respectivo protesto.

O capitão veio directamente da Figueira para Ílhavo, visto o seu estado de saúde ser melindroso.

Guarda o leito, sob os cuidados do Sr. Dr. José Santos.

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Ílhavo, 13 de Abril de 2021

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Ana Maria Lopes

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