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O
lugre “Silvina”, registado em Aveiro, foi construído na Gafanha da Nazaré, em
1919, por Manuel Maria Bolais Mónica, com o nome de “Águia”, para a Companhia
Aveirense de Navegação e Pesca, tendo sido o bota-abaixo a 4 de Outubro de 1919.
Era um lugre com três mastros, de madeira, proa
de beque, popa de painel e um pavimento.
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Dia de bota-abaixo do lugre “Águia” (1919)
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Media
de comprimento, entre perpendiculares, 35,50 metros, 8,80 m. de boca e 3,60 de pontal. Tinha uma arqueação bruta de 212, 33 toneladas e líquida de
169,88.
Não
tinha motor auxiliar e a tripulação era, em média, de quarenta homens.
Em
1920, foi comprado por 75 000$00, pelo Sr. João Bola, para a Empresa de
Navegação e Exploração de Pesca, em Aveiro, para quem já efectuou a campanha em
causa, com o nome de “Silvina”.
Surge
com características ligeiramente diferentes: 40, 42 metros de comprimento,
fora a fora, 34,67, entre perpendiculares, 8,92 m. de boca e 3,62 de pontal. A arqueação bruta era de 207,76 toneladas e líquida de 152,65.
Foi vendido à empresa Agualuza & Batata, Lda., de Aveiro, em 1927, ficando este contrato anulado, face à compra da totalidade dos bens do armador pela firma Testa & Cunhas, ainda durante o ano de 1927, tendo-lhe sido atribuído o valor de 250 000$00 (escritura em 20.12.1927).
De 1920 a 1926, foi comandado por Manuel Simões da Barbeira (Capitão Pisco, de alcunha) e em 1927, por António de Souza.
Já na posse de Testa & Cunhas, foi capitão em 1928, Ambrósio Gordinho, e em 1929, António de Souza (ou, eventualmente, Manuel dos Santos Lanbrincha).
Curiosidades:
Nos anos de 1928, 1929 e 1930, o navio foi à Terra Nova com 37, 37 e 36 tripulantes, respectivamente, tendo utilizando sempre 32 dóris. Nestas campanhas de fracas capturas, foram apurados apenas 1.148, 1.400 e 835 quintais de peixe e 1.100, 2000 e 1.200 kgs. de óleo de fígado de bacalhau. O valor conseguido com a venda foi de 140.000$00, 172.000$00 e 102.000$00 (escudos), certamente muito abaixo das melhores perspectivas, resultando daí um considerável prejuízo.
Daí resultou o navio não ter feito as viagens seguintes.
Na acta de 7 de Dezembro de 1932 da firma Testa & Cunhas, Lda., os sócios resolveram quais os navios que deviam ir à pesca do bacalhau nas futuras safras de 1933 e 34, tendo assentado apenas na ida do “Ernani” e “Cruz de Malta”.
Decidiram ainda anunciar a venda do navio “Silvina”, entendendo que o podiam dispensar. Todos concordaram, desde que se pudesse efectuar em boas ou regulares condições, ficando a gerência autorizada a promover a sua venda.
Segue:
Depois de elaborado o presente relatório (acta de 11 de Agosto de 1934), chega-nos a notícia infeliz do desaparecimento do nosso lugre “Ernani” nos bancos da Groenlândia. Ignoramos pormenores. Uma dificuldade surge.
Como suprir a baixa daquela unidade?
Três soluções se apresentam:
1ª – Reparar e apetrechar o “Silvina”
2ª – Adquirir um navio já feito
3ª – Mandar construir um navio novo
Resolveu-se reparar o lugre “Silvina”, de modo a estar pronto para a futura safra (para o que foram gastos cerca de 50 contos), obtendo a Gerência informação dos barcos que se ofereçam em boas condições, quer no país, quer no estrangeiro e ainda de um orçamento para um barco novo.
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Foto do “Silvina”,
frente à seca
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Acentuava-se na empresa, a necessidade de procurar uma nova unidade. Segundo acta de 28.11.1936, deram-se início a todas as diligências para a aquisição de um novo lugre. Quem oferece melhores garantias de técnicas é o Senhor Manoel Maria Mónica, que tem dado provas da sua competência e idoneidade. A proposta foi construir um lugre segundo o modelo do “Brites” (1936), com a introdução de algumas alterações, com empreitada de lavôr e materiais com o construtôr, pelo preço de 640 contos. A aquisição do motor Diesel ficaria a cargo da gerência.
Encomendado
em fins de 1936, o “Novos Mares”, de quatro mastros, beijou as calmas águas da ria,
para satisfação de todos, a 16 de Abril de 1938, na Gafanha da Nazaré.
O “Silvina” foi prosseguindo a sua difícil missão, comandado por Joaquim F. Agualuza (de 1935 a 1937) e José Cachim Júnior (de 1938 até 1941), até que viu o seu fim em trágico incêndio, no Grande Banco da Terra Nova, a 25 de Maio de 1941.
Quem quiser recordar, pormenorizadamente, este acidente, poderá ler as páginas a ele dedicadas (103 a 116 da reedição de 2007), escritas por Jorge Simões, em prosa da época, “O Silvina em chamas”, no livro “Os Grandes Trabalhadores do Mar”. O jornalista fez a campanha de 1941, a bordo do “Groenlândia”, para a observação da faina e recolha de dados.
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Ílhavo,
02 de Março de 2021
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Ana Maria Lopes
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