A propósito do incêndio que houve, na noite de 23
para 24 do passado mês de Novembro, em 2015, há 5 anos, no chamado Palacete dos
«Cartaxos» e, tendo lido que ele, possivelmente, teria sido mesmo sede do
Sindicato dos Mareantes, andei a catar este texto de Diniz Gomes (que sabia
existir), que agora respigo. Tardou, mas apareceu:
Ílhavo – terra essencialmente
marítima, possuindo cerca de cento e cinquenta oficiais náuticos e mais de três
mil indivíduos que do mar tiram o seu sustento num árduo e arriscado mister tão
cheio de riscos e privações, quer tripulando a maioria dos nossos navios costeiros
e de longo curso, quer ocupando-se no trabalho da pesca nos bancos da Terra
Nova, nas armações de Setúbal, Sesimbra, Matosinhos e ainda nas companhas de
arrasto das costas do litoral – devia possuir também uma associação de classe
marítima para acompanhar o movimento associativo dos tempos modernos e ter quem
pugnasse pelos interesses e regalias dos homens do mar.
Assim o entendeu um grupo de patrícios nossos e, no desejo de verem realizado o ideal almejado com tanta ansiedade e preenchida a lacuna que tanto se fazia sentir, lançou mãos animosas à obra, em princípios do ano de 1899.
O esforço foi coroado do melhor êxito, congregando-se todas as vontades, reunindo-se os melhores elementos e unificando-se todos os alvitres, por forma a que, no dia 19 de Março daquele ano, era inaugurada a nova associação com o título de Grémio Marítimo Ilhavense.
Em 11 de Março do ano corrente, a convite da Liga Naval de Lisboa, o Grémio ligou-se àquela importante corporação, seguindo assim o exemplo de outras agremiações congéneres do país. As vantagens desta fusão são incalculáveis, porquanto ninguém ignora a importância e influência política e social da Liga e os recursos de toda a natureza de que ela dispõe, benefícios de muita valia que se reflectem nas juntas locais. Disso são testemunho eloquente os trabalhos, com resultados práticos, do último Congresso Marítimo, brilhantemente levado a cabo ultimamente pela Liga, em Lisboa.
A Junta Local de Ílhavo encontra-se actualmente florescentíssima, com vida desafogada e futuro animoso, possuindo, no melhor prédio da vila, uma magnífica instalação, cuja estampa hoje se publica.
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Sede da Liga Naval em Ílhavo
-É grande e distinto o número dos seus associados, que, pela reforma ultimamente introduzida nos estatutos, podem ser de todas as classes sociais. Desta arte, ali se reúnem num fraternal convívio – postos de parte estultos preconceitos de desigualdades de nascimento e posição – desde as pessoas mais gradas da terra, ao mais rude e modesto homem do mar. E não é consoladora e simpática esta confraternização de todos os nossos patrícios?
Ílhavo… mais pobre, além de outras valências que o prédio teve. Ílhavo, 21.10.1903
DINIZ GOMES
Cliché do periódico Mala da Europa Ílhavo, 18 de Dezembro de 2020 Ana Maria Lopes
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