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Começar é fácil…e depois? Como transmitir tanta emoção? Faz hoje 51 anos.
Dia zarro, em que a ria estava encabritada, toldada pela mareta, que batida pela surriada vinha respingar nas vidraças das janelas da lancha. Nas caras de alguns convidados o balanço da embarcação quando entrou no canal, com a maré a bater-lhe pela amura e a sulada a bater-lhe pela amura de popa, registei algum empalidecer e até alguns gritinhos logo abafados, por vergonha dos restantes. Desembarcados no cais, lá foram os convivas, de procissão até à carreira, onde majestoso, pousado no seu berço de construção, o arrastão Inácio Cunha esperava a benzedura, o partir da garrafa na roda de proa para então deslizar, majestoso e apressado ao encontro da água por que há muito ansiava. Na sua construção gastaram-se mais de 365 dias (a quilha tinha sido assente em 6 de Novembro de 1968), até que as suas formas elegantes, lançadas, esguias e harmoniosas, ficassem, por fim, acabadas.
Bota-abaixo é sempre sinónimo de nascença, dia festivo a recordar na vida da embarcação, data que ficará para sempre gravada na sua ponte de comando. Essa satisfação ajudava os presentes, a suportar o dia invernoso de fins de outono, de fortes bátegas tocadas pelo vento.
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Dia 22 de Novembro de 1969. Faz hoje 51 anos. Pelas 15 horas, a maré não espera. O navio, cuja mostra das obras vivas tornava ainda mais imponente mostrando o arcaboiço apropriado para o desempenho da exigente tarefa que lhe estava destinada – o arrostar com as tempestades nos mares do Norte, quando não o abrir gelo num campo branco que teria de ser quebrado para sua passagem e libertação – não deixava de impressionar.
Em dia festivo não faltava o mariato, código sinalético expressamente colorido, vistoso, próprio para chamar a atenção ao receptor da mensagem, esvoaçando ao vento, que conferia um colorido da proa à popa.
O
Inácio Cunha, de seu nome, era uma
moderna unidade, arrastão de arrasto pela popa,
construído em aço, destinado à pesca longínqua.
Foi
a construção nº 83 do Estaleiro, tendo uma arqueação bruta de 1547 toneladas,
comprimento FF de 80,32 metros, boca
de 12,50 e pontal de 8, 09 metros.
Dois motores Diesel concediam-lhe a apreciável velocidade de 15 nós. O custo
foi de cerca de 50 000 000$00.
Recordo-me
de três dos seus comandantes – José Ângelo Ramalheira, António Manuel São
Marcos e José Alberto Senos Ramalheira. Muitos outros ilhavenses e, não só, aí desempenharam
variadas tarefas, com proveito assinalável, já que o Inácio Cunha iria ser um campeão da pesca ao longo da sua
vida.
Fornecidas as principais características técnicas, retomemos a que pretende ser uma emocionante narrativa.
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Junto
à proa, montava o estaleiro uma
espécie de tribuna ornamentada, onde recebia os convidados. No caso presente não
eram muitos, dado o recente falecimento do Sr. Silvério Amador, sócio da
Empresa proprietária, Testa & Cunhas, Lda.
Como
era hábito, a bênção foi dada pelo Pároco da Gafanha da Nazaré, Sr. Padre
Domingos Rebelo dos Santos, aspergindo-o e pedindo, para o navio e tripulação,
os bons ofícios do divino.
– Que Deus o acompanhe!!! e o traga de volta com todos os seus tripulantes. De boa saúde e fartas pescas, terminaria o Padre Domingues a sua prédica.
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A D. Adília Marques da Cunha Miranda, que já amadrinhara, em 1945, o navio-motor do mesmo nome, cortou então a fita que arremessava a tradicional garrafa de espumante contra a imponente roda da proa da nova unidade, fazendo-a em bocados, esguichando champanhe por todos os lados. Era o sinal para deixar correr o navio para a água.
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(Cont).
Ílhavo, 22
de Novembro de 2020
Ana Maria
Lopes
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