No dia 9 de Janeiro de 2020, recebi a notícia,
para mim, inesperada, de que Reinaldo Topete “partira”, depois de um período em
que a doença já o martirizara o suficiente. A idade não perdoa e já tinha feito
82 anos, nesta caminhada.
Não contava, não fui ao funeral, mas achei
que lhe devia um agradecimento público, que nunca lhe regateei, ao tempo.
Tendo feito os estudos normais, em Ílhavo
e Aveiro, Reinaldo José Gomes Topete formou-se em História na Faculdade de
Letras na Universidade de Coimbra. Foi uma das primeiras pessoas, a “entregar o
cabedal” à guerra do Ultramar, o que psicológica e fisicamente, não fez bem a
ninguém.
Mas, culto, inteligente, voluntarioso,
leitor compulsivo, notava-se que tinha necessidade de ocupar o seu tempo
sobrante em algo mais do que à sua carreira docente.
Em meados dos anos 80, depois da
transferência conturbada do nosso Museu Municipal da Rua Serpa Pinto para o
edifício próprio que existiu na Avenida Rocha Madahil (e ainda hoje existe,
depois de reestruturado), deu uma grande ajuda na selecção de livros, escolha
temática, organização e catalogação da Biblioteca/Arquivo do mesmo Museu, em
consonância com a técnica de Bad, ao tempo, Maria do Rosário Vieira.
E em meados de 1990, aquando da minha
nomeação, para Directora do Museu, começámo-nos a encontrar com alguma
frequência e dei-lhe a conhecer a primeira exposição com que pretendia começar
a dinamizar o museu, “Retrospectiva João Carlos”, inaugurada 20 de Abril
de 1991. Um dia por semana colaborava comigo, sobretudo no pequeno, mas fiel
catálogo com o mesmo nome. Incentivava-me, entusiasmava-me, mais do que eu já
estava, acelerava-me, “picava-me”, deixava-me lembretes na caixa do correio, já
que éramos vizinhos. Enfim, um desaforo!... Levou-me a retomar uma informação
dos inícios do lançamento do Museu, neste jornal, intitulada, PELO
MUSEU, que ia dando conta aos leitores das ofertas à
instituição e das pesquisas que se iam fazendo.
Isso, porque enquanto decorria a primeira
dinamização, já estava no terreno, aquela que seria o sonho de uma equipa
entusiasta – “Faina Maior – pesca do bacalhau à linha”. E a terça
feira era o dia de pesquisa no exterior, a que o Reinaldo não faltava, depois
das aulas ou todo o dia, se, em férias escolares.
Foi o que aconteceu com a Parceria Geral
de Pescarias, em que saímos de casa com o nascer do sol e regressámos, já noite
escura, cheios de fulgor.
E entre o capitão Francisco Marques, a
Marta Vilarinho, eu e o Reinaldo Topete, estou a vê-lo, magro, esbelto,
pendurado sempre no seu cigarro, a trepar a mais uma prateleira, em busca de
mais uma forma, uma zagaia, uma singa, um saco de lona, uma dala, umas botas
de cabedal, um garfinho de samos, uma baila, etc. Fomos muito bem recebidos
pelo Sr. Helder Claro, e até o primitivo fogão da cozinha do navio “Creoula”
veio para cá, ainda hoje, em exibição. E que bela “bacalhoada”, saboreámos numa
grande sala frente ao Tejo, para ganhar forças para as pesquisas da tarde.
Em fins de Outubro, um pouco à revelia da
Câmara Municipal, o museu fez-se representar na I Feira do Mar, em Aveiro, com
o stand Dos Dóris… despojos dos homens e do mar e com uma brochura com o
mesmo título.
Com o estreitar do tempo, a equipa reunia com
frequência, à noite, no Museu, quando o Reinaldo me dizia: – quando vir a Faina
Maior, em todos os seus sectores, virtualmente projectada, nunca mais aqui ponho
os pés. Não acreditava, mas
realmente, o que o Reinaldo anunciava, assim o cumpriu. Ílhavo deve-lhe este entusiasmo,
não muito duradouro, mas muito intenso.
Num sábado à tarde, de Novembro, dia 28,
de 1992, o Museu abria as suas portas ao público que se reviu na Faina Maior.
E com muito sucesso! – sentiu-se, viveu-se!
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Ílhavo, 28 de Janeiro de 2020
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Ana Maria Lopes-
2 comentários:
Lembro com carinho o Professor Reinaldo,foi meu professor de Português na Escola Secundária Tomás Pelayo em Santo Tirso em 1969.
Digo com orgulho que foi o melhor professor de Português que tive.
Que descanse em paz
Tive o enorme prazer de ser aluno do Professor Reinaldo Topete. Foi meu professor de História no 5.º e 6.º ano em Albergaria-a-Velha. Enorme contador de histórias com uma cultura geral muito acima da média. Rígido, utilizava métodos antigos que hoje seriam impensáveis. A história das 1001 Noites nunca mais será a mesma depois dele. Descanse em paz.
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