segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

E mais uma ida a Viana...


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Ontem, mais uma ida a Viana do Castelo, ao Gil Eannes, em agradável companhia de Amigos do Museu, desta vez, a terceira, desde que começou a saga do lançamento da obra do Capitão João David Batel Marques – A Pesca do Bacalhau – História, Gentes e Navios –, desta vez, o III volume, dedicado aos navios-motor.

É uma obra muitíssimo completa, uma Enciclopédia da pesca do bacalhau – como era de esperar, que foca aquela pesca que, na realidade existiu, nas suas várias vertentes, baseada em inúmeros documentos: jornais, fichas do grémio, documentos de capitanias, do Arquivo Central de Marinha, protestos, diários de bordo, todos estes elementos coadjuvados pela grande memória de João David e capacidade de cotejo.

Desde o primeiro volume, tenho sempre algum perto de mim, que folheio, que consulto, que confronto com avidez – havendo navios da minha preferência. Dos lugres, o lugre-patacho Gazela, o Golfinho, o Voador, o Ana Maria (o velhinho Argus), o Santa Maria Manuela, o Cruz de Malta, o Silvina, o Hernâni, o Laura, e o Novos Mares.  Entenderão as razões. Dos navios-motor, o Inácio Cunha, o Novos Mares e o São Jorge, porque dele fui madrinha com doze anos.

E o prazer que me dá identificar cada foto e saber, pelo menos, onde o Autor, a foi «pescar», nem que, por vezes, nem se saiba bem, quem foi o fotógrafo !? Cada um gosta do que gosta e esta é a «Faina Maior», por que me apaixonei e que ainda hoje me encanta, na dureza, na rudeza e na beleza daquela vida. Tanto a vivi, a ouvi, a pesquisei, que parece que fui sua protagonista. E vivi, vivi-a em terra, em Ílhavo e na Gafanha da Nazaré.

Claro, relativamente ao espaço, a – «Câmara dos Oficiais do Gil Eannes» – torna-se muito pequena para o número de frequentadores e apaixonados pelo tema. Enche depressa, os lugares sentados andam pela meia centena, mas, pelos vistos, se lá vamos é porque queremos e não nos importamos das condições menos boas.

Na «Câmara dos Oficiais do Gil Eannes»

Ontem, o programa da apresentação do livro foi abrilhantado pela exibição do documentário da campanha de 1952, no navio-motor São Ruy, da praça de Viana do Castelo. Ia «ògada» por apreciar filme e revisitar a pesca do fiel amigo.

Não destronou o pedestal, em que tenho «The White Ship», passado na campanha de 1966, filmado por Hector Lemieux, em que o capitão era Vitorino Ramalheira, com 37 anos, com a sua boina preta, um autêntico galã hollywoodesco.

O navio-motor São Ruy

Mas, neste caso, «A Campanha do São Ruy – 1952», atendendo ao facto do Capitão João Araújo não ser um profissional, deixou-nos, para memória futura, um excelente documentário – a precisão das cenas, a sua sucessão.  os timings certos fazem dele um filme excepcional para se apreciar o processo de registo de uma viagem redonda: o abastecimento de sal, a cerimónia da Bênção no majestoso Tejo, a saída da barra, a vizinhança de outros navios, a vida a bordo, a pesca, o processamento do peixe, a salga, a ida a terra para abastecimento, o reencontro de capitães amigos e o regresso. Por acaso ou não, tem uma forte intenção pedagógica, para que seja apreciado por escolas, por jovens descendentes ou não, de quem viveu essa vida.
O texto escrito pelo João David que comenta o filme é excelente, com um narrador presente, de primeira pessoa, visto que foi posto na boca de quem o filmou – o imediato, vianense, João Araújo. Do trio da oficialidade faziam parte o Capitão José Bilelo e o piloto, carinhosamente conhecido por Chico Leite, ambos de Ílhavo. Não haverá por aí, mais relíquias destas?
Cansada, mas de alma cheia, ainda fomos, ao fim da tarde, visitar a réplica da capela, do Gil Eannes, à ré, já que a autêntica se encontra no Museu de Marinha, bem como as belíssimas rodas do leme.
E até ao IV Volume!...
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Ílhavo, 4 de Fevereiro de 2019
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Ana Maria Lopes-

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