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Como já referi, muito mais do que pensamos, se perderam gentes ilhavenses no mar. Em qualquer dos mares, que é todo um.
Sabendo que dois amigos meus, irmã e irmão, perderam o Pai num naufrágio, há mais de 50 anos, na altura, não lhe dei o merecido valor da perda.
Agora, que pondero mais os factos e os aprecio mais, lembrei-me de ir revirar os jornais da época, para saber se a notícia tinha sido dada e com que profundidade a tinham tratado.
E no jornal «O Ilhavense» de 10 de Dezembro de 1965, está-se a aproximar o aniversário, dei de caras com o que pretendia.
Na primeira semana do corrente mês, há 53
anos, Ílhavo saiu enlutado de uma grande tragédia marítima.
Havia desparecido o velho cargueiro «João José I», naufragado ao norte do Furadouro, na
sua viagem de Lisboa ao Porto, nos fins de Novembro. Vapor onde navegavam 9
homens, que perderam a vida, sendo de Ílhavo, o cozinheiro, Manuel Francisco
Grilo, de 45 anos e o motorista, Leopoldo dos Santos Barreto, de 60 anos,
homens muito admirados e estimados pelos camaradas pelo seu profissionalismo e
capacidade de trabalho.
O cargueiro
«João José I», antigo Merwestein,
que o capitão João Cândido Cristiano comandou durante muitos anos, fazia
viagens de cabotagem sob o comando do capitão cabo-verdiano, Manuel da Silva.
O cargueiro
«João José I»
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Saíra de Lisboa para o Porto e a quatro
horas de Leixões ainda o capitão comunicava com a esposa, dizendo-lhe que o
navio estava a meter água. Nada mais se soube. E esta tragédia marítima poderia
ter ficado por aqui…
Teria sido melhor? Pior? Esperou-se um
dia, outro e outro, até que…
Cenas muito chocantes se seguiram.
Deu à costa, perto de S. Jacinto, o corpo
do desditoso cozinheiro ilhavense Manuel Francisco Grilo de 45 anos, casado com
Alzira Chibante.
O coração da família dos outros
tripulantes desaparecidos apertou-se mais um bocadinho, numa esperança … de
quê? Seria sempre uma má esperança, que talvez diminuísse um pouco a dor da
perda. Seria? Não faço ideia, nem opino sobre tal…
Na manhã do dia 6 de Dezembro, encontrado
por um pescador madrugador, apareceu arrolado o corpo de Leopoldo dos Santos
Barreto, na praia da Costa Nova, um pouco ao norte da casa do conhecido, à
época, Dr. Ferreira da Costa. O desafortunado motorista era casado com Júlia
Vidal Figueiredo (Mariazinha) e pai da Maria Alice e do Júlio Barreto, meus
amigos, e, ao tempo, respectivamente, professora do Externato de Ílhavo e
finalista do Instituto Superior Técnico de Lisboa.
Leopoldo Barreto
Perante a cena traumática e arrepiante e
cumpridas as disposições legais, o corpo, depois de colocado numa urna, foi
velado, na Costa Nova, na sala da casa «das Rolinhas», irmãs do capitão Salta e
daí para o cemitério de Ílhavo, em funeral, no dia seguinte.
Leopoldo Barreto andava há cerca de 34
anos no navio, que lhe havia servido de sustento para si e para a Família.
Nele, agora, encontrou a morte.
O jornal «O Ilhavense» lastimou o
sucedido, desejando que as famílias dos desditosos marinheiros encontrassem a
resignação para o desgosto que as feriu perante perda tão dolorosa.
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Ílhavo, 03 de Dezembro de 2018
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Fotos cedidas pelos filhos
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Ana
Maria Lopes-
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