segunda-feira, 11 de julho de 2016

Homens do Mar - Júlio Pereira da Bela - 12

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Piloto do Rio Lima, entre 40 e 42
Através do conhecimento de seu neto, Capitão Júlio Bela, chegaram-me às mãos algumas fotografias e informações que me despertaram a curiosidade de complementar o currículo biográfico marítimo de seu avô, por via materna.
O Capitão Júlio Pereira da Bela, de alcunha o Salsa, ilhavense de gema, nascido a 17.12.1899, aqui faleceu com 66 anos, em Agosto de 1966.
Francamente não o conheci ou não me recordo dele, mas o interesse despoletou, como já referi, por outra via...
Portador da cédula marítima nº 14349, passada em 1916 pela capitania de Aveiro, começou pelo comando de navios de longo curso, tem enveredado, seguidamente, pela pesca bacalhoeira.
A partir do momento em que consegui informações credíveis, «pesquei» que teria embarcado como piloto no lugre Santa Luzia, pertença da Empresa de Pesca de Viana, a partir de 1929, durante essa mesma campanha, sob o comando do ilhavense Cap. João Cajeira.

Lugre Santa Luzia

Por hiatos do jornal da nossa terra e porque as fichas do Grémio (GANPB), apenas registam informação a partir de 1936, foi piloto nessa campanha, do lugre Infante de Sagres III, sob o comando do Capitão José Vaz.
Pilotou também, na viagem de 1937 o lugre Labrador, ex-navio dinamarquês Lydia, construído em 1919, sob o comando de António Simões Picado, onde haveria de voltar em muitíssimas mais campanhas.
E a sua vida de piloto continuou entre 1940 e 1942, no Rio Lima, lugre de madeira da praça de Viana do Castelo, aí construído em 1920, por J. Pereira Maiato. Foi seu capitão José Bolais Mónica.
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A bordo (à esquerda), com um amigo. Sd.
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Intercalou o cargo de piloto a que venho referindo pelo de capitão, na viagem de 1938, no lugre de madeira Bretanha, levando como piloto José Fernandes Pata (o Gil). Tal viagem não se chegou a realizar, pois o Bretanha, a 3 de Junho de 1938 naufragou com água aberta, no Mar dos Açores, quando em viagem para a Terra Nova. Segundo o jornal O Ilhavense de 4 de Junho, mais um navio que se perde, pois apanhou um grande temporal que lhe abriu água. Os marinheiros ainda tentaram conduzir o lugre até ao Faial, mas, baldado o seu esforço, o barco soçobrou, sendo a tripulação salva por um vapor que a entregou ao conta-torpedeiro Dão.
As viagens de 1943 e 44, fê-las de capitão no lugre Labrador, onde retornaria por uma longa estadia.
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Lugre Labrador. Anos 40
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Intervalou a vida da pesca à linha com uma viagem de piloto no arrasto, ao estrear o arrastão da SNAB, construído nos estaleiros da CUF, em 1945, João Álvares Fagundes, comandado por João Nunes de Oliveira Sousa e com João Simões Ré como imediato.
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Em 1945, construídos a par na Gafanha da Nazaré por Manuel Maria Bolais Mónica, os navios-motor Elisabeth e António Coutinho, eis que o Júlio Pereira da Bela faz as campanhas de 1946 e de 47, como imediato, sob o comando do capitão António Simões Picado, no António Coutinho.

1945. A par, o Elisabeth e António Coutinho

Depois de assumir o comando do lugre de madeira San Jacinto, em 1948 (o Ex-Encarnação, construído em 1919, em Pardilhó, por Joaquim Dias Ministro, nesta altura, propriedade da Empresa de Pesca São Jacinto, Lda.), passou para o comando do lugre Labrador, desta vez, definitivamente, de 1949 até 1958, inclusive, ano do seu naufrágio.
Supostamente neste navio, deliciem-se com esta fotografia, com o material diverso de bordo todo peado e catrafiado, em que o Capitão Salsa, de gorro de lã, na sua indumentária apropriada, calçando ainda botas de cano, de couro e sola de madeira, de espingarda em punho, acabara de caçar um ror de pombaletes, que também serviam de isco para a pesca do bacalhau. 

Boa fotografia, supostamente a bordo do Labrador
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O «nosso» jornal de 1 de Setembro de 1958 noticia: Na Terra Nova, naufragou o lugre Labrador (25.8.1958), com água aberta. Já é o segundo navio que naufraga naquelas paragens. Oficiais e restante tripulação de 39 homens estão a salvo, a bordo de outros navios. Só que, neste ano de 1958, naufragaram cinco navios.
A campanha de 1959, fê-la, de capitão, no navio-motor António Coutinho, onde já fora imediato.
No final desta viagem, teve o azar de partir um pé, pelo que foi eliminado temporariamente por doença e readmitido em Junho de 1960.
Nas campanhas de 1961, 62, 63, 64 e 65, voltou ao mar como imediato, respectivamente dos navios-motor Avé Maria, Soto-Maior, Elisabeth, do lugre Hortense e do navio-motor Vila do Conde.
E assim se passou, duramente, mais uma vida de um dos nossos ílhavos, vivida no mar.
Isto é que eram Homens!,  que bem merecem ser lembrados. Trabalhou até 1965 e faleceu em 1966. Nem a merecida reforma chegou a gozar…
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Fotografias – Arquivo pessoal e gentil cedência da Família do Capitão
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Ílhavo, 21 de Junho de 2016
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Ana Maria Lopes
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