Dias invernosos,
chuvosos, húmidos e ventosos, como os que têm estado, favorecem as trocas de
impressões, à distância, entre amigos que têm gostos afins – navios.
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Depois de umas
visitas e arrumações no meu baú virtual,
tendo-me já ocupado no Marintimidades dos
naufrágios na barra de Aveiro de que consegui elementos fidedignos, verifiquei
que o encalhe do lugre Ilda ficou em branco.
Outros
bloguistas mais adiantados já o fizeram, mas o lugre Ilda, encalhado a sul do
Farol, não podia ter ficado ausente. Estamos a tempo de o repor.
Aproveitei o
desafio.
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O lugre Ilda cujo
construtor foi António Dias dos Santos, de Fão, em 1906, tinha uma arqueação bruta de 225,27 toneladas e 189,30, de
arqueação líquida. Era pertença do armador Daniel Silva, de Angra do Heroísmo,
com registo em Aveiro.
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O Ilda,
de três mastros, não era bacalhoeiro,
mas muita da sua tripulação, que se salvou, era de Ílhavo. Como o soube? Claro,
pelo jornal O Ilhavense, de 19 de Agosto de 1934, em busca aturada que
tenho vindo a fazer, com parcimónia.
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Respigando a
notícia: – «há perto de um mês desceu do ancoradouro da Gafanha para a boca da
barra o lugre Ilda, propriedade do Sr. Daniel da Silva (…) que, por não poder
sair, ali ficou aguardando o dia seguinte. Quando o seu capitão, António de Oliveira
da Velha, procedia a manobras, verificou que o barco estava em seco.
Rebocado ora por
um, ora por outro rebocador, no dia 13 do corrente mês (Agosto), conseguiu
safar-se do banco de areia, tomando a direcção do mar. Quando ia na pancada da
vaga, foi apanhado por um valente estoque de água que o arrastou para sul do
Farol, onde encalhou».
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Ficou como se
vê, com um acesso fácil, através de escada improvisada, aos proprietários,
tripulação e seguradores e, sempre que assim acontecia, era um tal arraial de voyeurs, em vaivém, para ver realmente visto aquilo que, de
facto, acontecera.
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O capitão,
piloto, Sr. José Russo, e outros tripulantes, como já referi, oriundos de
Ílhavo, foram salvos por barcos de pescadores, assim como a maior parte da
carga constituída por sal, cal, louças e fósforos.
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O navio estava
seguro numa companhia inglesa por 110 contos, que tomou conta do barco e, em
dias seguintes, fez a venda dos salvados em hasta pública.
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E assim a acabou
a romaria à Barra, pelo menos sem
perdas de vidas humanas. E logo em Agosto!...
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Fotografias – Arquivo Digital de
Aveiro.
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Ílhavo, 1 de
Janeiro de 2016
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Ana Maria Lopes
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