Se bem que ao falar do mercantel ao serviço do transporte de
sal (saleiro), do peixe e de
passageiros, sempre cargas, vamos acabar a missão do mercantel como «o burro de carga da ria», no carreto de tudo e de mais alguma coisa.
Já
desde 1693 – data em que por alvará régio concedido por D. Pedro II, começou a ter lugar todos os dias 13 de cada
mês, a Feira da Vista-Alegre –
vinha dos mais variados pontos da ria, mensalmente, uma imensidão de barcos
alimentando com produtos transportados no seu bojo a intensa actividade das
trocas que se faziam na referida feira, uma das mais importantes da região.
Visitavam aquele sítio do canal do rio
Boco, não só gentes das regiões vizinhas, como também, estranhos interessados
na quantidade de produtos. Além do sal e do peixe, na «Feira dos Treze» havia
uma grande diversidade de produtos: lenha, animais, tecidos, artigos de
artesãos locais, tamancos, gabões, arados, que justificavam grande procura. A
maioria destes produtos, usava os mercantéis,
pelo canal do rio Boco, para seu transporte.
Desde
1824, no mesmo local onde se realizava a feira, nasceu e foi implementada a
Fábrica da Vista-Alegre.*
Para
os seus fornos eram trazidos toros com muita frequência, mas o caulino
utilizado na produção da porcelana, vinha de Ovar, pela ria, sempre que a
necessidade obrigasse. Os objectos de barro ovarense também se vendiam muito
pela região, quer na feira dos 13, quer em outras situações.
Após 1824, descarga nas traseiras da Fábrica da VA
Vinhos, trigo,
cereais, ervagens, gado materiais artesanais, tudo, os mercantéis transportavam, em rotas lagunares.
Na
Gafanha da Nazaré, o carregador lagunar
servia para tudo. Além de transportar madeiras e operários para os estaleiros,
transportava bacalhau de navios mais afastados para o cais, junto às secas,
junco, lamas para as marinhas, sacos de lona com as roupas dos tripulantes de
navios de bacalhau. Vi, realmente visto, à chegada do n/ motor Novos Mares, depois de o ter ido
receber e filmar à boca da barra, na campanha de 1964, atracarem a bombordo e a
estibordo, dois mercantéis, para os
quais eram descidos os tais sacos de lona que seriam distribuídos, muito mais
rapidamente, pela Torreira, Bico da Murtosa, Bestida, Pardilhó, Válega, Ovar.
Gafanha da Nazaré – transportes diversos
Pedra
para a construção do afamado «triângulo» na entrada da barra, pelos anos 30
de século XX, os mercantéis, de costado bem no
fundo, lá a suportavam.
Barra – Transporte de pedra para o triângulo
De
Ançã e, sobretudo, de Eirol – pedra de Eirol, presente nas obras da barra,
diversos monumentos, muralha de Aveiro, Farol e quejandos, mais uma prova fotográfica
curiosa.
Eirol – Ponte da Rata
E,
por ora, f1quemos por aqui…já chega. Outra rota diferente se seguirá, a seu
tempo.
-Nota *Sobretudo relativamente a este assunto, foi consultado o livro de Senos da Fonseca, Ílhavo – Ensaio Monográfico Séc. X ao Séc. XX, pp. 215-216.
-
Postais
e algumas fotos retiradas do Google e outras cedidas por amigos
-
Ílhavo, 25 de
Abril de 2015
-
Ana
Maria Lopes
-
2 comentários:
Quanto vamos vendo à distância, sobre esta Ria, é todo um manancial de etnografia . . . e beleza.
Congratulemo-nos.
Al bino Gomes
ps: neste momento estou a ler o livro em referência.
Caro Amigo:
Obrigada e um abraço.
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