Trazia
no baú virtual duas imagens, já há uns anos, conseguidas num arquivo confiável,
cá em Ílhavo.
Vi-as,
apreciei-as, sorvi-as, mexi-lhes, toquei-as, em papel. Dá-me mesmo mais prazer.
O virtual tem os seus encantos, benesses, modernidades, mas o tradicional,
neste caso, a imagem em papel tem outra sedução.
Para
dissertar sobre elas, no Marintimidades, tinha a consciência
de que não sabia o suficiente e que tinha vivido uma infância mais singela,
mais caseira. Teria amigos/ que, uns anitos mais velhos/as, passavam e
repassavam pelos tais riachos e brincavam frequentemente por esses ribeiros e regueiros,
em que a vila de Ílhavo era fértil, todos com a mesma origem.
Lembro-me
muito bem de alguns lavadouros, sobretudo do da Fontoura, por onde passava com
frequência e há muito menos tempo, de um existente no fim de Alqueidão, para
quem levava o destino da Malhada.
Melhor
ainda me recordo termos tido, em tempos idos, uma lavadeira, que levava a
roupa, semanalmente, que, sem saber ler nem escrever, se entendia com o rol da
roupa, com toda aquela sinalética habitual, não trocando sequer uma peça. E não
estava marcada… A memória necessita ser exercitada…Grandes mulheres foram as
lavadeiras, elas, as verdadeiras artistas destes cenários.
Lavadouro da Fontoura. 1940
Mas,
as ditas imagens forneciam muitas informações e suscitavam muitas memórias.
O
seu destino foi, pois, o Facebook,
que uns renegam e outros muito apreciam.
Precisavam
de ser comentadas por muitas mentes e foi o que conseguimos, através de várias
participações, reminiscências e comentários, por vezes de maneira saudosista e
enlevada.
Portanto,
agradeço sinceramente todos os «likes» e todas as simples manifestações de
apreço. Atrevo-me a editar, já que o Facebook é público, as opiniões mais
informativas e/ou mais poéticas. Cada um sente como sente e escreve como
escreve.
Será
uma recolha escrita de «nós», ilhavenses.
Vamos a ver se tecnicamente, atino com isto. Foi um desafio posto a mim
própria, em dia pardacento, morrinhento e chuvoso, de poucos entreténs e
atavios. Tentando encadeá-las o melhor possível! O que nem sempre consegui na
íntegra, porque foram partilhadas e suscitaram comentários noutros locais.
Seria preciso entrar no âmago facebookiano.
Aprende-se sempre…
Vamos
a isso.
Optei
pela de aspecto menos antigo, para este primeiro exercício de pesquisa e
composição.
Ana Maria – A
propósito de um dos antigos Lavadouros de Ílhavo, tenho aqui uma imagem de
lavadeiras, no rio, com as suas tripeças, não datada. Alguém me consegue dar
umas dicas?
Alguém conseguirá identificar esta
imagem? Local e data possíveis?
Maria Dolores – Ui! Isto é muito antigo!
Etelvina Almeida – Belo registo... Deve ser muito antiga.
Ana Maria – É e é de cá. Coloquei-a a ver se alguém conseguia
identificá-la.
Carlos Oliveira – Já estive a olhar para a excelente fotografia alguns minutos.
Não consigo identificar o local. Mas posso especular com base no caudal de água
da levada e a geografia do terreno. Ou é na vala Madriz
ou vala real junto ao Soalhal ou é junto à Malhada,
caso seja do lado de Ílhavo. Se for do lado das Gafanhas não tenho a menor
ideia de onde seja. Mas pode muito bem ser do lado das Gafanhas pois consigo
identificar as árvores como sendo pinheiros e
austrálias, arvores estas que predominam sobretudo
nos areais.
Ábio
de Lápara – Não tenho memória deste trecho. A presença da Ria com aquela
dimensão e o rio com aquele caudal, desloca, na minha opinião, a imagem para
norte, já fora do nosso concelho. A época em que foi obtida, ronda a viragem do
século XIX para o XX. Como o tema é a tripeça, alguém sabe o porquê dos 3 pés?
Paulo
Silva Flautas –
Se não é aqui parece!
Quanto ao caudal, não sabemos o caudal da época nem sequer qual era a época, mas o caudal supostamente era muito maior no passado!
Quanto ao caudal, não sabemos o caudal da época nem sequer qual era a época, mas o caudal supostamente era muito maior no passado!
Vista aérea – Aponta a via da Malhada
Ana
Maria –
Obrigada pelas respostas. Não posso concordar nem discordar,
porque não sei. Ábio, explica lá a razão dos 3 pés. Pelo aspecto e vestuário,
aposto também na data que propões. Mais início do século XX.
Senos Fonseca – Eu olhei vezes sem conta para esta foto. Estou convencido que
foi a que antecedeu o lavadouro ao fundo de Alqueidão, abaixo da Fonte dos
Amores. Não vejo que outro local possa ser. Esta fotografia anda por várias
mãos, e nunca se adiantou muito.
Ana
Maria –
Somos todos muito novos, pelos vistos, mas «postei» uma outra,
em que as lavadeiras têm lenços e chapéus. Procura lá e opina...
João
José –
Lavadouros em Ílhavo só me lembro do da Fontoura e o do Casal.
Ana
Maria –
Lembro-me de um lavadouro, em Ílhavo, no final da rua de
Alqueidão, já ali mesmo pertinho da Malhada.
Ábio de Lápara – Percorri a memória dos vales que desaguam na ria ao longo do
nosso concelho. A começar pelo que fica a nascente da Coutada. Terminava nas
marinhas e o fundo paisagístico poderia ser o da foto. O vale a poente da
Coutada não tem bacia para aquele caudal. No verão servia para fazermos
"poisos" para armar as "palmas" de caçar os pardais
sequiosos do trigo comido nas searas. Os locais mais notáveis eram o poiso do Mastrago
e o da Maluca. O vale seguinte é o que atravessa Ílhavo,
que desce da Légua, percorrido por vários ribeiros onde, aí sim, se lavava
muita roupa ao longo dos seus cursos. Mas duvido que em algum desses pontos o
fundo paisagístico da foto pudesse ser aquele. Depois só o vale do Soalhal, que
desce de Vale de Ílhavo, poderia corresponder àquela imagem. Fiquemos pois no
que nos parece porque a investigação está cara!
Já agora, respondendo à pergunta lá de
trás, as tripeças tinham 3 pés, porque 4 eram demais, e dois eram
insuficientes! Na verdade, 4 pés no fundo irregular do ribeiro deixariam a
tábua sempre instável com um pé mal assente. Três nunca falha!!!
Maria Sílvia Eu – «Inda» agora aqui
cheguei, e gostei do que vi e li. O tema reportou-me à minha meninice,
recordando um ribeiro que deslizava, suavemente, ao longo de toda a Avenida 25
de Abril. Quem se lembra desse tempo sem o Atlântico-Cine-Teatro, sem a Garagem
Vizinhos & Vieira, enfim, em toda a extensão da Avenida corria o «rio»,
onde, desde o Colégio até onde hoje se encontra a Farmácia Moderna, as tripeças
abundavam, (sem que suas donas receassem o seu furto) e, até ainda lembro, do
sabão nelas deixado. A sua preocupação residia em que, esta presença, lhes
garantisse o lugar para a tarefa do dia seguinte. Frequentando a minha 1.ª
classe, por aqui passava todos os dias e, embora pequenina, reparava na
resistência destas pobres mulheres quando, de Inverno, em águas tão geladas,
ali as via metidas! Porém, quando de regresso a casa à hora do almoço, ao
atravessar o Jardim Henriqueta Maia, já ouvia o som de suas timbradas vozes cantando,
ora, triste, ora alegremente, o Melhor de AMÁLIA!!! Tempos idos em que, de
saudade só me trazem a alegria da minha infância! Era triste a vida das
lavadeiras, e elas bem a deixavam estampada nos lindos mas tristes fados que,
tantas vezes cantavam!......
Ana
Maria – Observou, realmente. Ficou-lhe gravado todo esse processo.
Obrigada, cara Sílvia. Memórias que não esquecem!
Maria do Rosário Celestino – Adorei o seu
relato, Maria Sílvia! Desconhecia a existência de tal ribeiro e de todos os
outros pormenores que abordou! Muito obrigada, pela informação, que me deu! Fico
encantada a ouvir todos estes relatos do passado!
João Simões Xis – Maria Sílvia, pois
nesse tempo onde fica a garagem dos Vizinhos e, em frente, onde está a Galera e
ainda na Travessa da Gruta eram sítios onde lavavam as roupas pois passei parte
da minha meninice por esses lados, enquanto a minha mãe lavava a tal dita roupa
para ganhar alguns patacos.
Amélia Marabuto – No Rio Pereira também havia um lugar onde se lavava a roupa. E
bem me lembro de ver as pessoas com as bacias de zinco à cabeça com a roupa
lavada! Também me lembro de ouvir dizer que iam lá lavar as tripas dos porcos,
mortos pelo Sr. Ismael! Tempos idos...
Continuarei, relativamente à outra imagem, se tiverem gostado.
-
(Cont.)
-
Ílhavo, 7 de Dezembro de 2014
-
Ana Maria Lopes
Continuarei, relativamente à outra imagem, se tiverem gostado.
-
(Cont.)
-
Ílhavo, 7 de Dezembro de 2014
-
Ana Maria Lopes
Sem comentários:
Enviar um comentário