sábado, 11 de outubro de 2014

Lugre com motor Luiza Ribau

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Alguns posts vão ficando em banho-maria durante largos tempos. Outros se lhes adiantam. Afazeres…prioridades…interesses…razões várias.
Com o aproximar do fim do ano, temos estado a tentar arrumar a casa para ver o que anda por aqui «a boiar» e que terá ainda cabimento. No Verão, a sedução da ria, das regatas, das romarias lagunares; hoje, voltemos ao mar, à dita Faina Maior que tem sempre que contar, tal qual a Nau Catrineta.
Sempre as imagens…São, sobretudo imagens apavorantes, não divulgadas, que me fizeram, articular a história de vida, de 20 anos, do Luiza Ribau.
Segundo O Ilhavense da época, do primeiro de Abril de 1953, foi lançado à água, em 16 de Março, na Gafanha da Nazaré, o lugre-motor Luiza Ribau, entregue por João Bolais Mónica, à Sociedade Gafanhense Limitada, Ílhavo.
 
Embandeirado em arco, ainda na carreira

Depois de ter provado as águas lagunares

Esta unidade foi o último lugre-motor de 4 mastros, construído para a Faina Maior.

Características principais: – 52 metros de comprimento, 10,90 de boca e 5,46 de pontal. Deslocava 712 toneladas brutas, com uma capacidade de pesca calculada em 13.500 quintais.
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Inaugurou-o como capitão, o ilhavense Francisco Fernandes Mano (n. em 1904), que o comandou até
1957, voltando a ele, de novo, na viagem de 1966.
Capitanearam-no, também, de 1958 a 1960, em 1965 e de 1970 a 72, Manuel Maria Branco Pata (n. em 1922), natural da Gafanha da Nazaré, Ílhavo, de 1967 a 1969, Orlando Brandão Vidal, (n. em 1927), ilhavense por matrimónio, ambos falecidos, e em 1973, Fernando Paulo Rodrigues Carrancho (n. em 1937), homem da Bairrada, oriundo de uma família de marítimos.
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Em Setembro de 1958, quando em rota da Groenlândia para a Terra Nova, suportou efeitos de mar provocados pelo violento ciclone Hélène, que acabou por lhe desfazer a ponte de comando, ficando com dificuldade de governo. Valeu-lhe o navio-motor Vila do Conde, do Porto, que o comboiou até demandar o porto de São João da Terra Nova, onde lhe foram feitas reparações e instalada uma casa do leme provisória, tendo chegado a Aveiro com um mau aspecto.
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Nada mais de muito especial para contar - depois de 1958, a rotina muito sofrida de sempre.
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Na sua última viagem (1973), em que naufragou, o seu capitão, Fernando Paulo Rodrigues Carrancho à época já  há 15 anos nestas andanças, conheceu o duro ofício, sem ignorar os seus riscos, até, porque já naufragara em Agosto de 1968, no Adélia Maria.
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Em Virgin Rocks, com um carregamento de 7.100 quintais, numa madrugada de Agosto, que parecia igual a tantas outras, quando se procedia à operação do arriar de botes, recorda ele, numa entrevista, uma voz dava a dimensão do inevitável – fogo a bordo, no paiol dos apetrechos de pesca!
Suspendeu-se o arriar dos dóris e tudo se fez para evitar a perda do navio.
Os esforços revelaram-se inúteis, já que as chamas alastraram velozmente. A alternativa era o abandono do navio, perante a extensão do sinistro. Os socorros foram imediatos, entre mau tempo com rajadas de 120 Km. Foram eles o Conceição Vilarinho, o S. Jorge, o Ilhavense, o Creoula e o Novos Mares.
Levados os tripulantes para bordo, foram transferidos para o Gil Eannes, que os conduziu a St. Jonh’s. Daí para Lisboa, foram transportados por dois aviões.
Nesse mesmo ano de 1973, igualmente naufragaram o Vila do Conde e o Rio Antuã.
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Para evidenciar a dimensão assustadora do fogo e as proporções aterradoras que atingiu, nada melhor que as imagens, já a cores, que, pelos anos 90, o saudoso Capitão Francisco Marques nos cedeu. Imaginamos que tenham sido registadas por ele próprio, visto que comandou o Creoula, na sua última viagem, tendo sido um dos navios que também colaborou, na assistência aos náufragos.
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Já há uns largos anos, Francisco Marques e eu achávamos as imagens que mostramos e outras similares, duma grandeza chocante e arrepiante. Era nossa intenção vir a realizar uma exposição fotográfica sobre naufrágios de bacalhoeiros o que não se realizou, por razões diversas. Outros poderão, eventualmente, aderir à ideia, apaixonadamente.
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O belo horrível!...
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Ílhavo, 11 de Outubro de 2014
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Ana Maria Lopes
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1 comentário:

César Lourenço disse...

Creio que a médio prazo poderíamos trabalhar juntos (a senhora e a Associação Bacalhoeiros de Portugal) nessa exposição que refere que não se realizou. Acho de grande interesse cultural e social pois muitos veriam o que só ouviram em histórias dos "velhos lobos do mar".
Cumprimentos e excelente trabalho.