Alguns posts
vão ficando em banho-maria durante
largos tempos. Outros se lhes adiantam. Afazeres…prioridades…interesses…razões
várias.
Com o aproximar do fim do ano, temos estado a
tentar arrumar a casa para ver o que anda por aqui «a boiar» e que terá ainda
cabimento. No Verão, a sedução da ria, das regatas, das romarias lagunares;
hoje, voltemos ao mar, à dita Faina
Maior que tem sempre que contar, tal qual a Nau Catrineta.
Sempre as imagens…São, sobretudo imagens apavorantes,
não divulgadas, que me fizeram, articular a história de vida, de 20 anos, do Luiza Ribau.
Segundo O Ilhavense da época, do primeiro de
Abril de 1953, foi lançado à água,
em 16 de Março, na Gafanha da Nazaré, o lugre-motor Luiza Ribau, entregue por
João Bolais Mónica, à Sociedade Gafanhense Limitada, Ílhavo.
Embandeirado em
arco, ainda na carreira
Depois de ter
provado as águas lagunares
Esta unidade foi o último lugre-motor de 4
mastros, construído para a Faina Maior.
Características principais: – 52 metros de
comprimento, 10,90 de boca e 5,46 de pontal. Deslocava 712 toneladas brutas,
com uma capacidade de pesca calculada em 13.500 quintais.
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Inaugurou-o como capitão, o ilhavense Francisco Fernandes Mano (n. em 1904), que o comandou até
1957, voltando a ele, de novo, na viagem de 1966.
Capitanearam-no,
também, de 1958 a 1960, em 1965 e de 1970 a 72, Manuel Maria Branco
Pata (n. em 1922), natural da Gafanha da Nazaré, Ílhavo, de 1967 a 1969, Orlando
Brandão Vidal, (n. em 1927), ilhavense por matrimónio, ambos falecidos, e em 1973, Fernando Paulo Rodrigues Carrancho (n. em 1937), homem da Bairrada, oriundo de uma família de marítimos.
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Em
Setembro de 1958, quando em rota da Groenlândia para a
Terra Nova, suportou efeitos de mar provocados pelo violento ciclone Hélène, que acabou por lhe desfazer a
ponte de comando, ficando com dificuldade de governo. Valeu-lhe o navio-motor
Vila do Conde, do Porto, que o comboiou até demandar o porto de São João da
Terra Nova, onde lhe foram feitas reparações e instalada uma casa do leme
provisória, tendo chegado a Aveiro com um mau aspecto.
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Nada
mais de muito especial para contar - depois de 1958, a rotina muito sofrida de sempre.
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Na
sua última viagem (1973), em que
naufragou, o seu capitão, Fernando Paulo Rodrigues Carrancho à época já há 15 anos nestas
andanças, conheceu o duro ofício, sem ignorar os seus riscos, até, porque já
naufragara em Agosto de 1968, no Adélia Maria.
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Em
Virgin Rocks, com um carregamento de 7.100 quintais, numa madrugada de Agosto,
que parecia igual a tantas outras, quando se procedia à operação do arriar de botes, recorda ele, numa
entrevista, uma voz dava a dimensão do inevitável – fogo a bordo, no paiol dos
apetrechos de pesca!
Suspendeu-se
o arriar dos dóris e tudo se fez para evitar a perda do navio.
Os
esforços revelaram-se inúteis, já que as chamas alastraram velozmente. A
alternativa era o abandono do navio, perante a extensão do sinistro. Os
socorros foram imediatos, entre mau tempo com rajadas de 120 Km. Foram eles o
Conceição Vilarinho, o S. Jorge, o Ilhavense, o Creoula e o Novos Mares.
Levados
os tripulantes para bordo, foram transferidos para o Gil Eannes, que os
conduziu a St. Jonh’s. Daí para Lisboa, foram transportados por dois aviões.
Nesse
mesmo ano de 1973, igualmente
naufragaram o Vila do Conde e o Rio Antuã.
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Para
evidenciar a dimensão assustadora do fogo e as proporções aterradoras que
atingiu, nada melhor que as imagens, já a cores, que, pelos anos 90, o saudoso
Capitão Francisco Marques nos cedeu. Imaginamos que tenham sido registadas por
ele próprio, visto que comandou o Creoula, na sua última viagem, tendo sido um
dos navios que também colaborou, na assistência aos náufragos.
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Já há uns
largos anos, Francisco Marques e eu achávamos as imagens que mostramos e outras
similares, duma grandeza chocante e arrepiante.
Era nossa intenção vir a realizar uma exposição fotográfica sobre naufrágios de
bacalhoeiros o que não se realizou, por razões diversas. Outros poderão,
eventualmente, aderir à ideia, apaixonadamente.
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O belo horrível!...
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Ílhavo, 11
de Outubro de 2014
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Ana Maria Lopes
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Creio que a médio prazo poderíamos trabalhar juntos (a senhora e a Associação Bacalhoeiros de Portugal) nessa exposição que refere que não se realizou. Acho de grande interesse cultural e social pois muitos veriam o que só ouviram em histórias dos "velhos lobos do mar".
ResponderEliminarCumprimentos e excelente trabalho.