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Saída
proveitosa! Tendo tido, ontem, de me deslocar às imediações de Cascais e tendo
sabido da inauguração no Museu Nacional de Etnologia, em Belém, da exposição
«Artes de Pesca – Pescadores, normas, objectos instáveis», logo pensei que de
«uma cajadada poderia matar dois coelhos». E assim fiz!
A
ansiedade de ver a exposição arpoava-me!
Saboreei-a
como quis, com vagar, apreciei, li as identificações, mas não havia ainda
catálogo nem textos on-line. Uma
falta.
O
espaço cénico apresentava-se moderno, apelativo, com muito boa iluminação e bem
concebido.
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Mas
«as artes», as verdadeiras artes,
essas, desiludiram-me um pouco.
Um
ensaio de sistematização das artes de
pesca é sempre mais um, mas nunca chega a ser completo, porque o número é
muito extenso e são instáveis.
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Mostrar
objectos que só se usam em meio líquido, em meio aéreo, é quase impossível. O
efeito não é o mesmo. Daí uma maior abundância de artefactos auxiliares das artes – varas, paus, agulhas, pandas,
pandulhos, bóias sinalizadoras, cabos, etc. As redes em si, desde as singeleiras aos tresmalhos, às de cerco e
às de arrastar são mesmo impossíveis de se deslocar do meio em que operam.
Perdem a funcionalidade, a viabilidade e a beleza.
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Daí
terem, na exposição, um papel preponderante artes
do tipo de «armadilha» usadas individualmente ou «em caçada»: covos, muregonas, alcatruzes diversos.
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Alcatruzes
As
mais compreensíveis, porque apresentadas ao vivo são os galrichos, os botirões, o xalavar, a cabrita, as dragas, as fisgas e
os diversos anzóis, com isco natural
ou artificial.
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Por
alguns sistemas de pesca, tenho um fascínio especial:
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- a arte xávega, só apresentada em filme,
claro, com o auxílio das juntas de bois! – Eixe! Oi! Eixe! Que algazarra,
naquele vaivém.
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- a mugiganga – muito tenho falado na mugiganga, ultimamente.
Além
de outras situações, a saber mais tarde, também foi uma arte com saco longo, panda mestra, duas mangas ou asas (com bóias e pandulhos), calões e cabos.
Assim
é apresentada em tamanho real, em suspensão, como sugere a imagem.
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Mugiganga
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- a tarrafa, a outra, não «a dos ílhavos».
Pode confundir. Ei-la, em suspensão:
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Tarrafa
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o salto ou parreira – para a tainha – deu-me que entender como poderia ser
representada. As redes, quer singeleiras,
muito compridas, no sentido da rabeira,
quer os tresmalhos, que formam o curral, todas enroladas. Sem varas, que constituem um elemento
fulcral do salto. Só o esquema era
compreensível, para quem já dele tinha uma noção.
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Salto ou Parreira
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a majoeira, porque é uma arte posta
por um ou dois pescadores, de emalhar,
no mar, frente à nossa costa. Tão simples e tão curiosa!
E
por aqui me quedo. Visitem e vejam o
resto.
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Majoeira
Muito
mais haveria que dizer. Mas, em vez de escrever, de rajada, enquanto bordejo o Tejo, fá-lo-ia durante toda a
viagem!
De
louvar a recolha de material, os registos sistemáticos junto de pescadores,
quer sonoros, quer videográficos.
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Algures,
entre Lisboa e Aveiro, 9 de Abril de 2014
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Ana Maria Lopes
1 comentário:
Não é que seja grande especialista,mas andava confundido com a designação de "tarrafa"para a das "ílhavas"...A que é mostrada nas imagens,de forma circular,de uso INDIVIDUAL,e lançada à água com um elegante gesto largo e rodopiante,era a que conhecia,cá e em África...O uso individual,e repetido até algum peixe "ca
ir ao engano" lembra-me (só nisso...)a pesca "à sartela"...
Cumprimentos,"kyaskyas"
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