A bulir e a quebrar…
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Alimentada
e botada a produzir, eis que ela se
cobre de um branco manto, cristalizado pelo sol
e pelo vento. Suas vestes pedem feitura
e será o seu dono a despi-la de tão precioso bem. Eis chegada a hora da colheita!
O
marnoto sai descalço ou protegido, se
a pele lhe pede. Leva consigo a razão e a emoção, porque a rasoila já lhe mora nas mãos. E lá vai ele juntar o seu oiro
branco, envieirando por esses meios, rapando aquilo que a Natureza
lhe deu. É marnoto vivido! Vem-lhe a
força da alegria, por ver «prenhes» as suas praias,
de brancos cristais.
A paisagem transmuta-se – já o branco sal transluz amontoado nas eiras, reflectindo-se sobre as crocantes superfícies dos parcéis carregados de salgado, que mais prometem...
O marnoto puxa e repuxa, junta e arrasta o rodo, rapando os férteis fundos.
– Quebra o sal, marnoto! Que incessante safra essa!
– Ai que boas moiras lhe deste, ai que sol e que vento abençoados, que criaram tão rico «pão!».
É o momento de quebrar as peles a essas já endurecidas superfícies, de deixar a moira respirar, evaporar ao sabor do tempo. É tempo de bulir com o longo e fino ugalho, movendo as águas «parideiras» sem ferir, amansando, cuidando...
É esse moço, já de saber feito, que agita levemente as espumosas águas – ora para lá, ora para cá, correndo os parcéis de par em par, com paciência e delicadeza, num corridinho cadenciado que lhe dará a pureza dos finos cristais, esses que em breve se hão-de colher.
Extrair o que o Homem preparou com a ajuda dos elementos, é uma bênção da Natureza.
É o Homem que amanha o seu «pão» e que, delicadamente, lhe cuida a feitura, gretando as mãos, ferindo os pés e tisnando a pele, sob agreste ambiente. É a colheita do fruto – bulindo, quebrando, rapando, dia após dia... Assim o faz, enquanto ela lho ofertar.
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Nota – Para esclarecimento de linguagem técnica, consultar GLOSSÁRIO de Diamantino Dias.
Imagens | Paulo Godinho | Anos 80
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15 | 10 | 2013
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Texto | Etelvina Almeida |Ana Maria Lopes
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