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Pela
Páscoa, o Amigo Marques da Silva trouxe o modelo da bateira labrega, texto e tudo. Veio a papinha toda feita – só fui
fotografar, lanchar e cavaquear. Assunto, nunca falta.
Refere
MS:
Quando pela primeira
vez consultei a obra de D. José de Castro, Aveiro
– Estudos Etnográficos, foi com alguma surpresa que vi aplicado o nome de
bateira labrega a uma determinada embarcação da ria de Aveiro.
Não quero dizer
que tenha pretensões de conhecer todos os tipos de bateiras, mas conhecia
alguns e fiquei deveras curioso por nunca ter ouvido falar desta.
Será que tinha
desaparecido por completo?
Fui à Torreira e
procurei, perguntei, fotografei, mas não consegui encontrar o que procurava, nem
alguém que me desse dela alguma informação.
Verifiquei
posteriormente que tinha seguido o rumo errado, pois se tivesse procurado pela
Costa Nova, teria aí encontrado o esclarecimento para a minha ignorância.
A Dra. Ana Maria
Lopes não só sabia bem da sua existência, como tinha na sua colecção muitas e
boas fotografias de A PRETA,
bateira do Ti Tainha, pescador murtoseiro, que trabalhava com a armação da rede
do salto.
Como é notável a
descrição desta arte, feita pela nossa cara amiga, que embarcou nesta bateira e
fotografou todo o trabalho de uma maré desta pesca.
A labrega
do Ti Tainha
Surgiu então a
lembrança de procurar arranjar elementos fiáveis para construir o modelo desta
antiga embarcação.
A oportunidade despontou
através da Dra. Etelvina Almeida que nessa ocasião trabalhava na elaboração da
sua tese de Mestrado, em Design, que versava este assunto.
Havia um plano
de construção muito detalhado, da autoria do Sr. Arquitecto Fernando Simões Dias,
resultado do levantamento por ele efectuado a uma destas bateiras, talvez a
última ainda existente, encontrada na Murtosa, na praia da Bestida, de nome ROSINHA, com algumas adulterações.
Rosinha na Bestida
Foi assim que,
com o seu amável consentimento, comecei a construção da minha labrega, baseado
neste detalhado plano de formas.
Modelo de MS, em andamento
A bateirinha que
agora construí, que na verdade ainda faltava à minha colecção, vai chamar-se A PRETA e terá o número de registo A1440L.
É uma pequena
homenagem não só a quem soube conservar esta relíquia, como também a quem, com o
seu gosto e saber, soube preservar dela tão boas memórias.
Proa do modelo
Construí este
modelo tal como os anteriores na escala de 1/25 e utilizei madeira de limoeiro
nas cavernas e nas rodas, e choupo nos costados. Preparei os remos de tola, o
mastro, a verga e as varas de ramos de ameixieira, a vela de algodão, a rede de
gaze e a fateixa de arame de cobre.
O casco, o leme
e as dragas foram pintados de preto, por ser essa a cor usada pelo Ti Tainha.
O modelo, à vela
Verificando
agora com o é notória a semelhança desta embarcação com as bateiras da Afurada
e as dos Avieiros, sou levado a acreditar ter sido esta a que, no passado, foi
levada pelos emigrantes murtoseiros e ílhavos, na sua diáspora.
Pormenor do interior, à ré
As medidas reais encontradas são:
Comprimento……….
8,30 metros
Boca…………………1,70
Pontal……………….
0,50 metros
Nº
de cavernas……….12
Caxias, 18 de
Março de 2013
António Marques da Silva
Fotografias
– Arquivo pessoal da autora do blogue
Ílhavo, 13 de Abril de 2013
AML
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2 comentários:
Boa tarde Drª Ana Maria,
Vi, li, reli e adorei este "post" - adorei!
O Srº Capitão Marques da Silva tem realizado um trabalho maravilhoso sobre o tema - bateiras -contando sempre com a colaboração da Drª Ana Maria.
Honra-me muito, de alguma forma ter contribuído, em colaboração com o Arqº Fernando Simões Dias (durante a investigação que realizei no decurso da minha dissertação de mestrado sobre as embarcações tradicionais da Ria de Aveiro - numa análise pelo Design, na Universidade de Aveiro), com informação para este "novo" modelo de bateira, a "labrega".
Desejo-vos a continuação de um bom trabalho em colaboração, e parabéns por todos os resultados obtidos - um valioso contributo para a cultura da nossa região lagunar.
Cumprimentos,
Etelvina Almeida
Um excelente trabalho.
Tenho a sorte de conhecer a "Rosinha" e o seu arrais, que ainda se dedica à arte da "Peixeira" ou "Saltador", mas longe de mim imaginar que se tratava de um exemplar único, em toda a superfície lagunar.
Parabéns pelo fantástico trabalho de recolha.
Cumprimentos, Francisco
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