Quantas mais embarcações ainda faltarão? Muito poucas. Eis o texto com que Marques da Silva faz acompanhar o seu último modelo:
A mercantela, embarcação que foi muito usada na Ria de Aveiro, não é mais do que um barco mercantel ou saleiro, mas de menores dimensões.
Aplicava-se no transporte de mercadorias e pessoas, entre as diferentes povoações banhadas pelas águas da ria. Navegava à vela ou à vara, não possuindo qualquer dispositivo para aplicação de remos.
Recordando o meu tempo do Liceu de Aveiro, estou a ver o Canal Central cheio de mercantelas e moliceiros, que, na época das cebolas e depois na das melancias, enchiam o cais com estes produtos, que ali mesmo eram vendidos.
Também nos dias da Feira dos Vinte e Oito, nas margens do Canal do Cojo, estas embarcações descarregavam os produtos que os lavradores traziam para vender, carregando depois os artigos que eles compravam para suas casas.
Era ainda possível ver as mercantelas a trabalharem como berbigoeiras, moliceiras ou barcas de passagem.
Travessia nos anos 80
Foi neste último trabalho que se ocupou a que estamos a recordar e que tinha por nome Os Velhotes, os irmãos Ti Adelino e Manel Ameixa.
Construída toscamente no Seixo de Mira pelo Sr. Evangelista Loureiro (o Gadelha), tinha a matrícula A738TL. Transportou pessoas e coisas entre os embarcadouros da Gafanha da Encarnação e da praia da Costa Nova, quase até aos nossos dias. Foi, então, adquirida pela Câmara de Ílhavo que a implantou na placa central da rotunda da Estrada da Mota.
Verificando que já era muito reduzido o número de mercantelas que se podia observar, resolvi ir a esta rotunda e, aí recolher, apesar do mau estado da embarcação, todas as medidas e informações que me permitiram fazer um plano para execução do seu correcto modelo.
Comprimento sem leme…………....… 11, 58 metros
Boca…………………………...….…….….2, 27 m
Pontal…………………………...………….0,72 m
Número de cavernas……..………......……...22
O modelo
Construí a minha mercantela na escala de 1/25, aplicando madeira de tola no fundo e de choupo nos costados, paneiros, bancadas e leme. Nas cavernas, rodas e traste, usei ramos de limoeiro. Para o mastro e verga, ramos de ameixieira. Para a vela, pano de algodão e para as ferragens e fateixa, arame de cobre.
Pormenor do interior da proa
Procurei fazer a pintura com as cores originais e as ornamentações o mais parecidas que me foi possível.
Caxias, Novembro de 2010
António Marques da Silva
Para além do valor desta pequena miniatura, com o peso que agora vai tendo nos Museus o modelismo náutico, não poderia deixar de divulgar esta pequena «jóia» do maquetismo.
Ainda consegui arranjar mais um trabalhinho para o Amigo Marques da Silva. Por que não uma bateira de recreio, apitorrada, própria para filhas de Capitães de Ílhavo, a que me liga tanto afecto? A ver vamos.
Fotografias da autora do Blog
Ílhavo, 10 de Dezembro de 2010
Ana Maria Lopes
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3 comentários:
Querida amiga, preciosidades com que nos brinda. Parabens ao ao "mestre" Capitão Marques da Silva pela partilha de saberes.
omo posso fazer para ter uma igual?
Boa noite:
Refere-se ao modelo, certamente. A pessoa que a fez, o Sr. Capitão Marques da Silva, não faz modelos para fora. Lamento. Não tenho mais informações. Cumprimentos.
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