É um belo navio que tem mais de 60 metros
de comprido por 11 de largo. E foi admirável vê-lo entrar na água, no domingo
penúltimo, na Gafanha, em frente aos estaleiros com as suas bandeiras a
tremularem pela viração agreste do Norte.
Foi uma festa atraente a que não faltou a
concorrência numerosa e selecta e nem os hinos festivos de duas filarmónicas.
O embarque das pessoas convidadas a
assistir ao lançamento do navio à água, realizou-se na lingueta em frente à
alfândega, no lindo cais de Aveiro. O trajecto, feito à vela, foi rápido. No
barco que nos conduzia, viam-se as pessoas mais gradas da sociedade e da
magistratura aveirense, como os ilustres magistrados da Comarca, etc.
Na Gafanha, a multidão era compacta.
Tivemos o prazer de cumprimentar ali, o nosso velho e querido amigo e
conterrâneo sr. Manuel Rodrigues Sacramento, também sócio da empresa proprietária
do «Altair», que com a sua digníssima esposa tem estado nesta vila.
O último cabo que prendia o excelente
navio, que é a primeira embarcação de três mastros construída nos estaleiros da
Gafanha, estava destinado a receber o corte certeiro e inteligente do ilustre
capitão do porto de Aveiro, sr. Silvério Rocha, que, por uma deferência
honrosíssima, delegou num dos oficiais franceses, que estão em S. Jacinto, a
execução dessa formalidade.
Cortada, pois, a última amarração,
deslizou serenamente pela carreira, enquanto estralejavam nos ares dezenas de
foguetes, tocavam as duas filarmónicas e se prolongavam entusiasticamente os
vivas e as palmas. O lindo navio varou a margem da ria, como que uma gazela que
engalanada se quer pôr a descoberto, e, num instante, aparecia na cale, onde
lançava ferro a tornar sublime a paisagem. Houve um momento de verdadeiro
delírio, quando no castelo da proa da embarcação toda garrida de cores e ainda
a oscilar fidalgamente nas águas azuis-esverdeadas do nosso lindo Vouga,
apareceram muitos trabalhadores a saudar, descobertos, a multidão e a
maravilhosa obra d’arte que a mesma multidão admirava. Foi um momento de
indescritível entusiasmo, que se repercutiu no salão onde a Empresa «Boa
Esperança» ofereceu um delicadíssimo copo d’água aos seus convidados, entre os quais
o mais humilde éramos nós.
Felicitamos a Empresa do «Altair»,
desejando-lhe as maiores prosperidades.
(In
jornal Nauta, 12 de Maio de 1918)
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O lugre «Altair» na barra de Aveiro
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Ílhavo, 12 de Maio de 2018
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Ana
Maria Lopes
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1 comentário:
De Maio de 1918, no jornal «Nauta», a Maio de 2018, esta notícia do bota-abaixo do «Altair» tem, exactamente, um século.
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