quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Vamos ao junco?

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Na posse de um arquivo em diapositivos, cedido gentilmente por pessoa amiga, sobre mar e ria, pelos anos 70 (de 72 a 79), na zona da Torreira e Mira, muitas imagens seduziram-me.
Documentam fainas, que, felizmente, cheguei a conhecer, mas, que, em apenas dez anos nos foram praticamente roubadas… As fainas da ria atingiram uma dimensão espantosa e, hoje, são cada vez menos…
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Agora, é  da do junco que pretendo falar.
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Nos anos 80, quando pesquisei mais intensamente na ria, tive consciência perfeita que uma actividade alternativa dos moliceiros era a apanha e transporte de junco.

Ribeira de Aldeia. Pardilhó. Anos 80
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Não só de moliceiros e de bateiras erveiras, mas também de mercantéis, embarcações, por excelência, de carreto, da laguna.
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O junco, género botânico semelhante às gramíneas, desenvolve-se em terrenos alagadiços, naturalmente junto à ria, os juncais.
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Ao longo dos anos foi tendo várias utilizações:
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- os próprios palheiros, abrigos dos pescadores, daí o seu nome, foram inicialmente cobertos de junco
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- a cama do gado também era feita de junco, que à mistura, posteriormente, com os excrementos dos animais, resultava num proveitoso adubo para as terras
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- na maior parte das cozinhas de uso,  o chão, era de junco,  nas casas de lavradores, pelo  XIX
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- o junco alcatifava também barcos, em dias de romaria, para os tornar  mais confortáveis
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-servia para a feitura de esteiras, cestaria e outros artefactos congéneres
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Hoje em dia, continua a usar-se nas camas de gado, e, quando muito, no atapetado de ruas, em alguma procissão mais cerimoniosa.

Bem perto de nós, a denominação da ponte de Juncal Ancho (juncal farto, que ia do rio da Vila até à Ponte de Vagos), que separa Ílhavo da Gafanha de Aquém, aviva-nos a existência de juncais nas beiradas lagunares.
Se o uso do junco, ainda pelos anos 70 do século XX, possibilitou registos destes, o que não teria sido anteriormente?
Com estas imagens vos deixo. Dão vontade de exclamar:
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– Além do azul de céu e de ria, tudo quanto a vista alcança é o verde do junco!!!!!

Imagens – Gentilmente cedidas pelo Comandante Bento
Ílhavo, 15 de Outubro de 2014
Ana Maria Lopes
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3 comentários:

Tito Cerqueira disse...

Mais uma actividade económica lagunar que está bem presente nas nossas memórias mas que... "já era"!
Parabéns por mais este belo post (texto e fotografias).

Anónimo disse...

Fotografias("slides",se bem percebi...)excelentes,que já "capturei"para o meu disco...Deliciosa a referência à "cozinha de uso",em contraposição à "cozinha para vista",dignas de um tratado de sociologia das gentes da "beira-mar!"...
Cumprimentos,"kyaskyas"

Ana Maria Lopes disse...

Caros Amigos conterrâneos:

Obrigada pelos vossos amáveis comentários.
A base da imagem, é, de facto, o slide, muito bem conservado.

Cumprimentos
Ana Maria