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Mais
um ano, em Setembro, lá vamos à romaria lagunar! Tanto quanto me recordo, da
minha meninice, a Festa da Senhora dos Navegantes tinha a marcá-la, como
pormenor típico, uma procissão até ao mar, para além do que era habitual em
festas, com uma mistura de religioso e de profano.
Celebrava-se
na última segunda-feira de Setembro, depois do domingo da Senhora da Saúde, uma
das festas lagunares mais concorridas, a seguir ao S. Paio. Já foi! Nunca
troquei uma boa segunda-feira da Senhora da Saúde pela festa dos vizinhos, mas,
notava a falta de algumas tendas de bugigangas que já tinham «levantado ferro»,
para estarem presentes na festa da Barra (assim se dizia).
Depois
de algumas alterações e interregnos, a procissão lagunar em honra da Senhora
dos Navegantes é uma iguaria a não perder, aproveitando, ao mesmo tempo o grande
prazer que é marear na laguna, de moliceiro.
A noite foi agitada, com a preocupação da alvorada e com receio do tempo
nebuloso anunciado.
E,
pelas 8 horas, o dia acordou sonolento e embrumado. Uma cortina cerrada, qual
pano de cena, completamente corrido, impedia-nos de ver a paisagem, Vida de
marinheiro é assim!
PARDILHOENSE
Entre
céu e ria, de um acinzentado uniforme, o PARDILHOENSE, vaidoso, espelhava,
nas águas a sua esbelteza polícroma, na marina do Oudinot.
As
deambulações marítimas incluíam um almoço em restaurante ribeirinho de São
Jacinto, e, aí, então, o sol já tentava espreguiçar-se entre nuvens,
espraiando-se. Acordara, de vez, e inundara a paisagem de um cerúleo meigo e
escaldante.
Tinha
já acabado o agradável repasto, quando uma imagem, em andor de ria de tule rosa,
adornado de flores rosa e branco, entre verdes contrastantes, surdiu de uma
ruela, que corria do mar, acompanhada de pároco, acólitos com lanternas processionais
e alguns devotos.
Senhora das Areias
O
que seria? Sabia que a procissão em que nos íamos incorporar passava por S.
Jacinto, mas desconhecia que havia um encontro formal entre as duas virgens –
Senhora das Areias, a de S. Jacinto, a residente e a passante, Senhora dos
Navegantes.
De
máquina minúscula em punho, esforcei-me q.b., para recolher o melhor testemunho.
Uma bateira tradicional,
embandeirada, com um ar festivo, posicionada à beira-ria, estava preparada para
hospedar a imagem.
Senhora das Areias
Já
estalejava, ao longe, foguetório… Sinal de que o desfile religioso já saíra do
local acordado, na Gafanha da Nazaré? Nada de atrasos. Não convinha perder pitada. E lá partimos, ao seu encontro, numa
ria sedutora, prateada e cativante, quase outoniça.
Chegados
mais ou menos às instalações da antiga EPA, posicionámo-nos, para apanhar o melhor
ângulo de visão! Quando se transportam fotógrafos, a responsabilidade é
acrescida!
Já
se fazia sentir a marola forte, neste caso fruto dos motores das diversas
embarcações e da força da maré e de uma aragem amena. Manter a posição a bordo,
num misto de equilíbrio e agilidade não era «mel». Mas valia a pena. Ao longe,
já se avistava a começo do cortejo divino.
O
barco dos pilotos ESPINHEIRO, com pompa e
circunstância, com Virgem, irmandade, estandartes, lanternas e muitos devotos,
abria o caminho. Seguidamente, um pouco ao molho e fé em Deus, salve-se quem
puder, mas com cuidado e responsabilidade, outros sucediam-se.
Barco dos Pilotos
A
motora TRAVESSO transportava o
andor da Senhora da Nazaré, que não podia deixar de estar presente na festa.
TRAVESSO
Entre
diversas embarcações de recreio acompanhantes que se ultrapassavam umas às
outras, seguia, como vem sendo tradição, na traineira JESUS NAS OLIVEIRAS, a imagem da Senhora
dos Navegantes, a padroeira, com banda gafanhense a bordo, muitos crentes,
autoridades e enfeites diversos, desde palmas hirtas ou vergadas em arco,
muitas, muitas flores, código de sinais, algumas insígnias clubísticas até à
bandeira nacional. Tudo isto, sobre uma ria que faiscava prata, cegando-nos.
JESUS NAS OLIVEIRAS
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Como os homens não se medem aos palmos, como
sói dizer-se, também a devoção não se mede pelo tamanho das embarcações – a
pequena bateira de pesca, OS MANOS, transportava, numa
proa de flores, uma minúscula Senhora de Fátima e ocupantes, pejados de brio e
fé.
Brio e devoção...
Como a turbulência não era assim tanta, o «nosso arrais», este ano,
propiciou-nos a volta por S. Jacinto, seguida de uma visita à Praia Velha, do
Farol, em que veraneantes e pescadores aproveitavam as delícias de um sol incandescente
e candente de fim de Verão.
Entretanto, o desfile religioso também seguiu o seu percurso até à
Meia-Laranja, onde retornou, para dar início à recta final, entre paredões carregadinhos
de mirones.
Encerrava o desfile religioso, uma embarcação majestosa, pelo seu tamanho,
de colorido apelativo – o rebocador MONTE DO LEÇA.
Final do desfile
O momento alto, em que as embarcações acostavam em ancoradouro junto do
Forte da Barra, em frente à capelinha, para apear as divindades e irmandades,
aproximava-se.
Não faltaram
também à chegada as sirenes, as gaitadas agudas, o estridente ribombar dos
foguetes, que nos envolviam e estremeciam a alma.
Tudo isto
com um não sei quê de devoto, místico, profano, folclórico e etnográfico que se
entrelaça e confunde!!!!!!!!!!!!!!!!!
A chegada da padroeira
Senti a falta de o Santo Amaro oriundo da Capelinha da Costa Nova,
altaneiro no seu meia-lua, num mar de
flores. Faltou à chamada, pareceu-me.
Chegados
à marina do Oudinot, degustámos uma
saborosa merenda, enquanto os fiéis presentes participavam na divina
Eucaristia, transmitida por ruidosos altifalantes. Festa é festa, romaria é
romaria. E o Setembro já vai a meio. De meados de Setembro ao Natal, é um
saltinho de pardal – adaptemos.
Imagens –
Fotos da autora do blogue
Ílhavo, 17
de Setembro de 2013
Ana Maria Lopes
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2 comentários:
Muito bem escrito, como sempre, e acompanhado de belas imagens!
Parabéns!
Sempre atenta e em cima do acontecimento. Obrigada, Maria Emília, pela gentileza.
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