quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Modelo de traineira do MMI




Tendo tido conhecimento que o Amigo Marques da Silva restaurara o modelo em causa, trocámos impressões sobre o restauro. Disponibilizou-me este texto com que fez acompanhar o trabalho já recuperado.
Divulgo-o com todo o gosto junto dos apreciadores destas pequenas relíquias, pela qualidade que tem e pela dedicação que revela. Obrigada Capitão!

“Numa das últimas passagens pela sala de reservas do MMI, encontrei um modelo de traineira a vapor. Tratando-se de um modelo de traineira já desaparecido, mas que marcou o início da motorização das embarcações de cerco, entendi dedicar algum tempo ao seu estudo, fazendo também alguns trabalhos de recuperação.
Verifiquei que tinha sido reconstruído por pessoa muito conhecedora, pois todos os pormenores estavam religiosamente respeitados.

Embora o plano geométrico não tivesse sido seguido com rigor na construção do casco, as suas formas, na generalidade, eram aceitáveis.

Comparado com as medidas dos barcos deste tipo, referenciados na obra de Lixa Filgueiras “Traineiras”, pode considerar-se este modelo na escala aproximada de 1/40, estando, contudo, o pontal, um pouco exagerado.
Na p. 63 deste notável livro, uma boa fotografia mostra uma traineira precisamente igual à que inspirou o nosso modelista.

A Sra. Das Neves – Matosinhos


A máquina a vapor principiou em Portugal a ser aplicada nas traineiras a partir de 1920, havendo registo das primeiras adquiridas na Galiza, para Matosinhos, Peniche e Algarve.
Estava este modelo acompanhado da respectiva rede de cerco, armada por alguém muito conhecedor, que foi fiel em todos os pormenores.
Por esta razão, preparei uma base com dimensões que permitissem mostrar a traineira fazendo o lanço, no momento em que se aproxima da sua chalandra, para recolher os cabos com que vai fechar a rede.

Traineira a vapor fechando o cerco


A chalandra é largada de bordo, pela popa, levando os chicotes da retenida e do reçoeiro, cabo este que está ligado à extremidade da rede, onde começa o saco ou copejada.
Com o reçoeiro, fixa-se a parte superior da rede ou cortiçada.
Com a retenida, fecha-se a parte inferior, a chumbada, através de uma porção de argolas fixadas na tralha, orla inferior da rede. Este forte cabo deve ser virado rapidamente pelo guincho de bordo, para não deixar fugir o peixe que foi capturado.


O modelo estava electrificado, mas, os fios, em muito mau estado, tornaram impossível a completa recuperação sem afectar a construção.
Foi necessário fazer uma nova chalandra e uma nova âncora, porque estas peças estavam em muito mau estado.
Demos nova vida a este modelo com muito valor, por se tratar de uma embarcação bem conhecida, mas pouco representada com a dignidade que merece”.


A SAN SALVADOR



Por mera coincidência, a Agenda Cultural da CMI do corrente mês de Fevereiro, na rubrica Património, refere esta recuperação do modelo. Fornece alguns dados a que o Capitão Marques da Silva não teve acesso que completam o escrito, de acordo com o que ele opinara – o modelo foi construído e oferecido à Comissão do Museu em 1934 por Manuel Pinto da Costa, então Piloto da Barra do Douro e Porto artificial de Leixões.

Fotografias – Amavelmente cedidas pelo Capitão Marques da Silva e arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 18 Fevereiro de 2009

Ana Maria Lopes

4 comentários:

LUIS MIGUEL CORREIA disse...

Muito interessante como sempre. Não me lembro das traineiras a vapor, só já das que lhes sucederam, equipadas com motores Diesel...

fangueiro.antonio disse...

Bom dia.

Realmente um belo trabalho e sobre barcos de pesca imponentes como eram estas grandes traineiras antigas, "a fogo".
Tenho a sorte de possuir o livro "Traineiras" do Arq. Lixa Filgueiras, de grande valor mas infelizmente só com um plano geral duma pequena motora ainda armada com vela. Eram construídas em Vila do Conde nos anos 50 e para os modelistas será uma referência este livro. O dia virá em que iniciarei esse modelo da motora "Maria Bina".

Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt

J.pião disse...

Boa Noite a todos bem haja Dra Ana Maria .Que surpresa o Sra das Neves ,uma das traineiras a fogo que,nos anos 60 na minha primeira viagém ém 63 vinha-mos de chegada do bacalhau com rumo a Matosinhos e o Sre Capitão Vitorino Ramalheira ,então no Lugre Motor Aviz ,disse a rapasiada que na proa do Navio se encontrava ,que quem primeiro descortinasse o farol da boa nova tinha uma garrafa de vinho do Porto ! então todos os olhos éram na melhor direção ,más eis que alguém grita ,traineira a vista ? Que alegria a traineira a fogo tinha saido rumo a oeste para a pesca do carapau estáva calma branca e mar chão ,a Sra das Neves ,foi uma alegria vêr esta Sra,os tripulantes da mesma com as boinas na mão a assenar houve um ou dois que atiraram as boinas ao mar e nós do Aviz fizemos a mesma coisa ,dizendo ,boinas ao mar que vai o Neves a passar,pois foi bonito e que alegria ,são recordações do passado e que passado? Já agora Amigo Antóno ,o que sabe do nosso Argos ?Um Abraço saúdações maritimas Jaime Pião.

José Manuel Romão disse...

Bom trabalho de recuperação. A primeira traineira a ter motor era tipo vigo e estava em Peniche, mas não trazia motor.Passados 3 anos de construção, em 1914, voltou a Vigo para ser instalado um motor a gasolina de 15HP.Isto aconteceu, porque o dono da embarcação que era o meu avô Manuel Farto e tinha como tripulante o cunhado que nasceu em La Guardia, com familiares em Vigo, e conhecia a arte de pesca do cerco desconhecida pelos portugueses que utilizavam as chamadas armações. Portanto Peniche foi pioneiro tanto na primeira traineira motorizada, como também na arte do cerco, onde muitos pescadores do norte e do sul, vieram aprender a nova técnica para implantarem nos seus portos de abrigo. Foi uma revolução na arte de pesca.