quinta-feira, 31 de agosto de 2023

O "anjinho" na procissão da Senhora da Saúde

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A minha mais antiga recordação deste arraial é uma fotografia, já postada, no terraço do meu palheiro, à época, com dois anos e um grande laçarote na cabeça. A armação da festa comprova a data – fins de Setembro de 1946. Vivia no coração da romaria.

Outra memória, bastante mais forte e de que ainda hoje me recordo vivamente, foi a minha integração na procissão, trajada de anjinho – a primeira e a única vez.

Cá perdura o boneco tirado à la minuta no meu baú, como mandava a tradição.

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O anjinho com 7 aninhos

 

Só que foi uma procissão complicada e agitada, porque durante o seu trajecto, deflagrou um forte incêndio na, à época, Pensão Pardal, na esquina norte da Estrada do Banho.

Alterado o percurso, o susto apoderou-se de todos. As chamas lambiam as outras casas e todos temiam que se propagassem às residências vizinhas. Foi um alvoroço.

Lá vieram os Bombeiros de Ílhavo acudir ao sinistro que poderia ter alcançado proporções gigantescas, dado que as casas da proximidade eram palheiros de madeira ressequida.

Na ausência de data na fotografia, lá fiz algumas diligências para situar a ocorrência no ano certo – foi no domingo da Festa de 1951 (in O Ilhavense de 10 de Outubro de 1951).

Costa Nova, 31 de Agosto de 2023

Ana Maria Lopes

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Projecto DE NOVO NA TERRA NOVA

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Faz exactamente, este ano de 2023, 25 anos que o NTM Creoula saiu para a Terra Nova, numa das missões mais expressivas que jamais cumpriu.

 

Regresso do antigo lugre aos mares da Terra Nova – in Jornal de Notícias de 9.8.1998


Canadianos e portugueses reaproximam-se

Creoula parte hoje para a Terra Nova – in Diário de Aveiro de 9.8.1998

 

Ílhavo “viveu” a partida do Creoula para a Terra Nova

O Presidente da República, Jorge Sampaio, no dia da largada do Creoula para a Terra Nova

Na tripulação segue grupo de jovens ilhavenses

Os votos são de boa viagem!... in O Ilhavense de 15.8.1998

 

Projecto De novo na Terra Nova junta Portugal e Canadá – in Diário de Aveiro de 15.8.1998

 

Assim se referiram ao acontecimento alguns jornais da época, e muitos mais o citaram. A 6 de Agosto, o NTM. Creoula entrara na nossa barra com diversos e importantes objectivos.

No dia 9 de Agosto, acudiram milhares de pessoas ao cais nº 10 do Porto bacalhoeiro da Gafanha da Nazaré, para viverem a saída do Creoula, com destino à Terra Nova. O Presidente da República, Jorge Sampaio, entre aquela massa humana, dirigiu-se ao navio para cumprimentar o Comandante Júlio Manuel Sajara Madeira, bem como todos os instruendos e Director de Treino de Mar, Capitão Francisco Marques, numa missão igualmente simbólica, já que havia sido o último Comandante do navio, enquanto lugre da pesca do bacalhau, no ano de 1973.

Também a Barra teve um movimento invulgar. A afluência ao Paredão e Meia-Laranja era fora de série. O NTM Creoula, de velas enfunadas, saía a Barra, relembrando as saídas dos antigos lugres com o mesmo destino. Só que a missão era bem diferente!

Muitas embarcações de vários tipos acederam ao convite de acompanhar o antigo lugre-motor, dando à entrada da Barra um aspecto comovente e arrebatador.

Tendo vivido este projecto muito por dentro e acompanhado a viagem muito de perto, inclusive no Canadá, como Directora do Museu, à época, não quis deixar passar a data despercebida, sem aqui soltar as minhas impressões – vinte e cinco anos são passados.

Recordo a divulgação do Projecto, a bordo do Creoula, em 31 de Março, a sua apresentação no Museu, a 15 de Julho, a chegada do navio a 6 de Agosto, a recepção dos participantes, na Câmara Municipal de Ílhavo, a 8 do mesmo mês (dia do 61º aniversário do Museu), e a missa, na Igreja Matriz, a abarrotar de gente, celebrada por sua Excelência Reverendíssima, D. Júlio Tavares Rebimbas, a 9 de Agosto.

Patrícia Dole, Embaixadora do Canadá, à época, lançou a ideia desta viagem, que recebeu o apoio dos dois países.

A 27 de Agosto, saiu, de Figo Maduro, num C 130, uma comitiva de cerca de 15 pessoas de que eu fazia parte, com intenção, de assistir à chegada do Creoula, a St. John`s, a 28 do mesmo mês, dia acinzentado pela morrinha. Durante a aprazível estadia de 4 dias, vários protocolos foram estabelecidos, nomeadamente com o Newfoundland Museum e com a Universidade, entre outros, com troca de lembranças. Recordo a recepção no Palácio do Governador e visita à Catedral.

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Saída da comitiva do aeroporto de Figo Maduro
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Bote do Creoula, oferta dos AMI ao Museu de St. John’s
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No dia 1 de Setembro, partiu o navio com destino à Gafanha da Nazaré, onde chegou a 20 do mesmo mês. A emoção era muita, e um mar de gente esperava, saudosa, os seus entes queridos. O Ministro José Veiga Simão, à época, Ministro da Defesa Nacional, também aguardou a chegada do navio. Ao fim da tarde, tive a honra de fazer uma visita guiada ao nosso Museu, ao Ministro Veiga Simão e à Ministra da Cultura do Canadá, acompanhados por outros elementos da comitiva. E assim se passou um mês e meio de fortes emoções, sempre à espera de notícias e do passa-a-palavra.

Ao contactar “Os Amigos do Museu de Ílhavo”, Patrícia Dole, pedra-chave do Projecto, Embaixadora do Canadá, encontrou nela uma forte aliada e, a partir daí, constituiu-se uma Comissão Executiva, sediada no MMI., formada pela citada Associação (AMI), pela Universidade de Aveiro e pela C.M. de Ílhavo – assim se realizou o projecto DE NOVO NA TERRA NOVA.

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Ana Maria Lopes (in Jornal “O Ilhavense” de 15 de Agosto de 2023

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quinta-feira, 10 de agosto de 2023

Ainda o aniversário do Museu...

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O 86º aniversário do Museu, além da doação do óleo de Fausto Sampaio pelos AMI, foi celebrado com o regresso da “Barca dos Apóstolos”, depois de um exímio restauro na Universidade Católica do Porto e com a inauguração da exposição “Tenho Barcos na Cabeça” do artista ilhavense João Batel.

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Nesta exposição, o artista pretende mostrar a cultura regional através dos moliceiros, em que, segundo Senos da Fonseca, “o saber da construção lagunar empírica se fundiu com a arte”.

João Batel, natural de Ílhavo, é arquitecto pela Escola Superior das Belas Artes de Lisboa (ESBAL) e é também pintor. O seu precurso artístico conta com inúmeras exposições, individuais e colectivas, no país e vários prémios.

Faz parte do grupo “Aveiro/Arte” e é membro do conselho técnico da Sociedade Nacional das Belas Artes, Lisboa.

Muito criativo, eclético, utiliza variadíssimas técnicas, incluindo a digital, sobre diversos suportes. O conjunto é aliciante.

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Visita guiada pelo Autor, à exposição
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Gentileza de Etelvina Almeida
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Exposição a visitar até 19 de Novembro.

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Costa Nova, 10 de Agosto de 2023

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Ana Maria Lopes

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quarta-feira, 9 de agosto de 2023

AMI enriquece espólio pictórico do MMI, com um FAUSTO SAMPAIO

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Foi adquirido pelos Amigos do Museu de Ílhavo. um quadro de Fausto Sampaio, no Leilão do Palácio do Correio Velho, lote 684, em 19 de Dezembro de 2022.

É um óleo sobre tela, de 1940, em bom estado, datado e assinado; figurativo, o que não é vulgar no artista, e mede 35x47 cm.

Representa uma mulher da ria, simples, rude, tosca, mas de bonito e expressivo rosto, que se insere no espraiado da laguna. Por detrás, vislumbram-se moliceiros, reflectidos nas águas suaves e azulinas, rapando, mansamente, à ria, os seus belos cabelos verdes. Ao longe, montanhas com capelinha e casario de um branco puro.

A intenção era oferecê-lo ao Museu, neste 8 de Agosto de 2023, no seu octogésimo sexto aniversário e assim se cumpriu esse desígnio.

 

Mulher da Ria

Esta pintura veio aumentar o espólio do MMI., no que concerne a Fausto Sampaio, pois veio associar-se a dois óleos do mesmo autor, um que retrata a Costa-Nova antiga, zona de palheiros e ria, datado de 1933, também oferta dos AMI e outro, já existente há uns anos no Museu, e restaurado em 2005, também intitulado Costa-Nova, óleo sobre tela, de 1939, de tons róseos inebriantes e luzentes, que retrata a zona lagunar e os sempre elegantes e cromáticos moliceiros, que ressurgem da neblina.

Fausto Sampaio (1893-1956), natural de Anadia, surdo-mudo desde a infância, notável pintor contemporâneo, foi discípulo de Jules Renard, tendo frequentado as academias de Paris. Expõe, pela primeira vez, em Lisboa, no ano de 1930.

Fausto Sampaio distinguiu-se como grande paisagista. Exprimia profundos sentimentos pela natureza, brilhou pelo uso apurado da cor e pela predominância das atmosferas embaciadas ou luminosas. Foi inexcedível na representação das terras do Vale do Vouga e foi um dos mestres do pintor ilhavense Cândido Teles, a partir de 1939, que dele terá perfilhado o gosto pelas representações pictóricas dos coloridos moliceiros da Ria de Aveiro. Está representado em vários museus nacionais e famosas colecções particulares.

 

Costa Nova, 9 de Agosto de 2023

Ana Maria Lopes

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