sábado, 31 de agosto de 2019

Recordando o «Chiadinho»


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Ontem, tendo passado pelo espaço de loja, com porta entreaberta e apelativo cartaz à porta, senti falta do «Chiadinho», de que era grande freguesa, na minha adolescência, cujo proprietário era José Neto Peixoto da Silva, nascido em Ílhavo, em Março de 1918.


Dos seus 90 anos de idade, 82 foram vividos na Costa Nova. Com 8 anos (1926), começou com a irmã Lucinda, com uma tenda do pai, que expunham à beira-ria. Com 12 (1930), o pai, que tinha uma loja em Ílhavo, abriu outra na Costa Nova. José Peixoto deixou de estudar para ir tomar conta da loja da Costa Nova.
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Começou no local do antigo Hotel-Casino Beira-Ria e, em 1943, estabeleceu-se naquele espaço que perdurou até ao fim… e que foi por todos conhecido de Chiadinho.
O Chiadinho? Um Chiado em ponto pequeno, que tinha de tudo e do bom – bonecas, brinquedos, carrinhos, fatos de banho, ténis Sanjo, lãs, linhas, cremes, livros, muitos livros. Camisas, camisolas, botões variados, óculos de sol. Enfim...um mundo, em reduzido espaço.Também se encarregava de mandar revelar rolos fotográficos e vendia postais ilustrados, até ao encerramento definitivo.
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Mal chegava à praia, lá ia eu comprar um óleo de protecção solar, dos primeiros que houve, que me deixava como que lambuzada em azeite. Era assim. À época, não havia mais ofertas. Mas, não ficava por aí. Àquilo a que hoje, as minhas netas, chamam de paez, eram, nesse tempo, uns sapatos de pano de cores garridas e sola de corda. Lá os havia variados e de cores diversas, como «os palheiros». Já agora, um livrinho para ler na praia, dentro da barraca listada e colorida, em tardes morrinhentas ou de nortada. E sempre que tirava fotos com amigas, lá ia mandar revelar os rolos, que esperava, ansiosamente.
De inverno, o proprietário tinha uma loja em Ílhavo e as feiras, que suspendia no Verão, para trabalhar na loja da Costa Nova.

José Peixoto incorporava-se, quando lhe era possível, nos picnics lagunares, onde embarcava com o seu saxofone e os colegas do «Rádio Jazz», com vista à animação do passeio.

Foi um ícone da Costa Nova, tendo feito parte do «mobiliário» imaterial da praia, durante 82 anos.

Costa Nova, 31 de Agosto de 2019
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Ana Maria Lopes-

Homens do Mar - Cap. Francisco Leite - 53


Cap. Francisco Leite

Numa tarde cálida de fim de Agosto, soalheira, luminosa, de maré cheia, eis que se plasma, longínqua, no horizonte, a imagem de um barco à vela, impulsionado por uma brisa suave e mansa, na Costa Nova. De casco envernizado, de linhas quebradas, dá pelo nome de OK (apa), duas letras também estampadas a negro, na vela branca, alumiada pelo sol poente reflectido na Gafanha da Maluca. É o dono eterno deste barco que, hoje, vem à baila, em Homens do Mar, a que, aos poucos, venho dedicando algumas horas do meu trabalho e do meu lazer.
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Além dos dados, que, oficialmente, pude recolher, dos que tenho conhecimento, foi a filha Teresa que, amavelmente, me cedeu alguns materiais que foram do pai e que conversou comigo, entusiasmada, saudosa e exuberante.
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Sempre aliei o nome do Cap. Chico Leite à pesca do bacalhau, porque foi, sobretudo, no Museu de Ílhavo que mais contactei com ele e muitas vezes lá foi, como amigo do Cap. Chico Marques, também. Por lá aparecia, com frequência.

Apenas durante 11 anos foi homem dos bacalhaus, se bem que tenha comandado durante bastantes mais anos, outros e diversos navios.
Sempre viveu entre mar e ria e dentro ou perto de navios e embarcações.
Francisco Manuel de Oliveira Leite, filho de José Gonçalves Leite Júnior e de Alzira Teiga Leite, nasceu em Ílhavo, a 27 de Agosto de 1929, um de três irmãos, no masculino e no feminino, tendo sido José Teiga Gonçalves Leite, irmão mais velho, digno oficial da Marinha Mercante.

Do casamento em 6 de Dezembro de 1958 com Joana Maria Peixe Rodrigues, nasceram duas filhas, a Ana Margarida e a Teresa Paula Leite.
Francisco Leite era portador da cédula marítima nº 116.148, passada pela Capitania do Porto de Lisboa, em 16 de Junho de 1949.
O facto de ser de Ílhavo, os genes familiares eram o suficiente para o terem levado para a Escola Náutica. Pertenceu a uma última geração de capitães-pescadores, que não acabou a sua vida profissional, na pesca do bacalhau, tendo-lhe dado, posteriormente, outro rumo.
A sua primeira viagem ao mar, em 1950, foi no arrastão Fernandes Lavrador, da praça de Lisboa, como praticante de piloto, apenas na 2ª viagem, sob o comando do ilhavense Fernando Oliveira da Velha.


Junto ao arrastão Fernandes Lavrador, à esquerda, em 1950
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Na campanha seguinte, de 1951, fez-se ao mar como imediato do belo lugre-motor Hortense, sob o comando do Cap. João Simões Chuva, o Anjo, também de Ílhavo.

E chegou o ano de 1952 para rumar, de saco e enxoval, ao convés do navio-motor de ferro, da praça de Viana, São Ruy, onde ocupou o cargo de piloto, tendo como capitão, José Pelicas Gonçalves Bilelo e imediato, João Araújo, de Viana do Castelo. Nos anos de 53 e 54, assim se manteve a oficialidade, com pequenas alterações – o capitão, sempre o mesmo, Chico Leite alternou o cargo de piloto com o de imediato, em 1953, sendo piloto, Orlando Brandão Vidal, nesse ano.
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Chegou-me às mãos uma relíquia da viagem de 1952, no São Ruy – agenda pessoal, pormenorizada, escrita pela mão do piloto, que li com grande interesse e entusiasmo, apesar de não ser um diário oficial.

O amigo Chico Leite continuou como piloto do São Ruy, até 1954, alternando o cargo com o de imediato, na safra de 1953, sempre sob o comando de José Pelicas Gonçalves Bilelo.
  
A bordo do São Ruy, em 2º plano, à direita. 1953

E numa «emposta», desta vez, para o navio-motor de ferro, Sam Tiago, construção dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC), em 1955, para a Sociedade Nacional dos Armadores do Bacalhau (SNAB), nos anos de 1955, 56 e 1957, sob o comando de seu irmão, José Teiga Gonçalves Leite, estreou-o como imediato, com o piloto Orlando Brandão Vidal, em 1955, Samuel Guerra Tavares Maia, em 1956 e Amândio Manuel da Rocha Pinguelo, em 1957.

A bordo do Sam Tiago, ao centro, com Orlando Vidal. 1955
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E nos anos de 1958, 59 e 1960, «saltou», desta vez, para o comando do Sam Tiago, com Amândio Manuel da Rocha Pinguelo, como imediato e com António José Ferreira da Costa, de Lisboa, como piloto, nos anos 1958 e 59.  Em 60, o piloto fora Fernando Duarte Vieira do Coito, de Lisboa.
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O ano de 58 foi um ano de pescas muito fracas, de muito mau tempo e de fortes ciclones. Só navios, naufragaram seis. Os de 59 e 60, pouco melhores.
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Uma vez que tive acesso aos «diários de pesca» do Sam Tiago, nestes três anos, o ano em que o navio deu à descarga maior quantidade de peixe foi o de 1958 15.000 quintais, sensivelmente.
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Passei-lhe os olhos com interesse, para ver se referia algo de especial, para além das datas, posições, ventos, estado do mar, estado da atmosfera, quantidade e qualidade de isco, hora legal de arriar e de chamar, nº de pescadores ao activo e quantidade de pesca diária. A saber:
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  entradas e saídas em St. Jonh’s e em que condições
  botes a aliviarem, sinal de razoável ou boa pesca
  a aproximação do navio-hospital Gil Eannes, sinónimo de assistência a bordo, na doença, abastecimento de diversos mantimentos, troca de encomendas, etc., etc.
  navios à vista, com os quais se mantinha bom relacionamento e um espírito solidário de interajuda, eram indicados, frequentemente. Cediam, se possível, uns aos outros, por empréstimo, isco, botes, remos, estrafego (linhas, anzóis…), mantimentos, etc.
o naufrágio do Maria das Flores, do capitão Vidal, que estava com água aberta, no dia 17 de Setembro de 1958, pelo que foi pedido ao Sam Tiago que se aproximasse, perto de Eastern Shoals, nos bancos da Terra Nova. 
Lá foram o Chico Leite, o irmão, José Leite, o Capote e o João Costa, tendo-se decidido abandonar o navio, posteriormente incendiado. Dele vieram para o Sam Tiago seis pescadores.
– o produto da «pesca ao pingalim», por vezes, superava o rendimento da «trawlada».
– à saída de Faeringerhavnen, nos baixios, na Groenlândia, encalhou neste ano de 1959, no dia 10 de Agosto, o Santa Maria Madalena, do cap. José Bolais Mónica, que já estava a ser assistido. Depois da recolha dos botes, o Sam Tiago dirigiu-se ao São Ruy para buscar seis náufragos: 1º maquinista, 2º motorista e quatro pescadores.
Na leitura do diário de 1960, para além das rotinas, melhores ou piores, de notar o naufrágio do navio Condestável, do comando do capitão Pascoal, com incêndio a bordo, a 30 de Agosto.  Uma amizade notória do cap. Chico Leite com um camarada e a perda de um homem da tripulação, chamaram-me peculiar atenção.
A amizade fui certificá-la numa visita ao capitão Manuel Machado, já que um navio que frequentemente era citado era o Avé Maria que sempre associei a este capitão. O amigo Manuel Machado confirmou-me toda uma grande amizade e simpatia pelo Chico Leite, – um bom camarada, um bom amigo, uma boa pessoa, competentíssimo – certificando o grande convívio que houve entre eles, nesta viagem de 1960, Francisco Leite, enquanto capitão do Sam Tiago e Manuel Machado do Avé Maria – os vários encontros, conversas, almoçaradas e jantares, a bordo de um dos seus navios.
Relativamente à trágica perda de um tripulante, entre as folhas do diário de pesca, um rascunho solto, dactilografado, que passo a transcrever, atraiu-me a atenção.
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RELATÓRIO

No dia 18 de Abril de 1960, encontrando-se este navio Sam Tiago na recolha dos botes, cerca das 16.30 horas locais verificou-se faltar um bote, pelo que eu, capitão do navio, mandei o imediato procurar com o binóculo, o bote em falta, tendo-se visto imediatamente uma vela bastante longe e para os lados de SW. Por faltar unicamente um bote, por não haver outro navio à vista e pela cor da vela, adquiriu-se a certeza tratar-se do bote em falta. Este foi-se aproximando do navio, mas a dado momento e quando ele já se encontrava próximo, deixou de se ver repentinamente. Imediatamente mandei suspender o ferro e segui a toda a velocidade cerca de dez minutos para barlavento para as proximidades do local onde havia sido visto pela última vez. Quando ainda navegava, avistei pela proa vários objectos a flutuar; calculando tratar-se de pertenças do bote, aproximei-me e verifiquei assim ser e avistando próximo o bote voltado de fundo para o ar. Imediatamente mandei arriar dois botes e a baleeira motorizada para tentar encontrar o náufrago e recolher os objectos que flutuavam. O bote encontrava-se com a vela içada e a escota amarrada à borda e com o cesto do trol amarrado à proa, tudo indicando que se tinha voltado quando seguia à vela. Também foi encontrado bastante peixe boiando. Recolheram-se todos os objectos à vista não se tendo encontrado o corpo do pescador.
O pescador desaparecido chamava-se António Simões Batista, de 33 anos de idade, filho de João Batista Camilo e de Felicidade de Jesus, era natural de Ílhavo, casado, inscrito na Capitania de Aveiro com o número 24806, em 15 de Fevereiro de 1945.
Foram expedidos no mesmo dia telegramas a informar o Grémio e os Armadores do navio.
Na altura, havia as seguintes condições atmosféricas: céu forrado, horizonte limpo, vento SW, força 2 a 3 e ondulação sudoeste moderada. Já se encontravam estas condições desde cerca de meio-dia.

Bordo, 18 de Abril de 1960
O Capitão
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Após esta viagem, por ter nascido a primeira filha e não querer estar longe da família, tanto tempo, Francisco Leite deixou a pesca do bacalhau, para estar em casa, com mais frequência. E, assim, teve uma longa carreira na Sacor Marítima Limitada, de onde se aposentou, em 1985.
Tendo feito, intervaladamente, algumas viagens de imediato no navio Sacor, com o capitão Ferreira da Silva, logo passou definitivamente a capitão do mesmo navio, até 1968.
  
A bordo do Sacor, à esquerda, em 1961
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Entre 1968 e 84, comandou o navio Bandim e, entretanto, supervisionou a construção do navio Galp Sines, entregue a de 2 de Abril de 1985, que, seguidamente, comandou, até à reforma.
Comandante muito competente e fortemente respeitado por colegas e superiores, recomendou a entrada de alguns oficiais ilhavenses mais jovens para a Sacor, sempre e apenas aqueles que considerava também competentes.
No princípio de vida do bacalhau, entre viagens, fez algumas de comércio nos navios Moçambique, Santa Rita I e Pátria, segundo consta da sua Cédula de Inscrição Marítima.
Depois da aposentação, passou a viver quase definitivamente na Costa Nova, entre ria e mar, em palheiro atípico, bonito, branco, listado de vermelho, na horizontal, nº 102 da Calçada Arrais Ançã, finamente decorado, comprado a Joaninha Ramalheira e marido, casal de portugueses, emigrados nos Estados Unidos.
Mas, mais algumas aventuras marítimas o esperavam, antes de, extemporaneamente, nos deixar.
Ligado familiarmente a viagens turísticas através da filha Ana Margarida, fez uma viagem de turismo, no renovado paquete Funchal com a mulher. Tanto perguntou, tanto colaborou, tanto se «meteu como o piolho pela costura», que foi convidado a fazer, e fez, algumas viagens nesse paquete, como comandante.
Saiu de Lisboa a 4 de Dezembro de 1991 para Salvador, Rio de Janeiro e Santos, após o que efectuou um programa completo de cruzeiros de Verão para o mercado brasileiro, tendo regressado a Lisboa a 21 de Março de 1992.
Anteriormente, no paquete Vasco da Gama, ex- Infante D. Henrique, já também fizera uma viagem de volta ao mundo, comandando o navio juntamente com o Comandante Kotrozos, grego, com saída de Génova a 7 de Janeiro de 1989 e regresso a 27 de Abril do mesmo ano, com 110 dias de viagem, com passageiros alemães (dados fidedignos e confirmados por Luís Miguel Correia). Ambos os paquetes navegavam, na altura, com registo e bandeira do Panamá, propriedade de empresas do armador grego Potamianos e geridos a partir de Lisboa, pela empresa Arcália.
Em viagem aos Estados Unidos, de recreio e de visita à filha Teresa, em Junho de 1992, correu tudo quanto era museu marítimo ou navio musealizado. Não poderia faltar o «nosso» Gazela, em Filadélfia, «dando cartas», ao descobrir e informar que a fotografia do irmão, José Teiga, que havia sido capitão (nº12) daquele mítico navio em 1950 e 51, não era a verdadeira imagem. No dia seguinte, acima de tudo, tornou-se clara, até para os curadores do Museu, a profundidade do conhecimento náutico que tinha –  paixão pelo mar, navios e pelos tempos do bacalhau. Depois de «dar uma lição de Gazela» aos conservadores do navio-museu, deixou-lhes a fotografia certa.


Junto ao navio-museu Gazela I, em 1992
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Pela Costa Nova, ensinou muitos jovens a velejar. Sobretudo, desde que mandou construir o OK(apa), em 1973, descobriu o «Cruzeiro da Ria», que,  para ele, era uma oportunidade de ir mais longe pela ria acima e de fazer amigos velejadores para além da Costa Nova. Adorava o convívio e a camaradagem dos costanovenses que se apoiavam na competição e na logística de levar e trazer os barcos, quando não havia ainda clube de vela. Foi sócio fundador do Clube de Vela da Costa Nova e participou activamente em regatas e eventos do clube, até ao fim.
Pela mesma altura, foi Presidente da Assembleia Geral da Associação dos Amigos do Museu de Ílhavo, desde 1994 até 2001, tendo colaborado imenso no evento, «De novo na Terra Nova», no Verão de 1998.
Depois de uma doença súbita e cruel, deixou-nos em 16 de Junho de 2001, com 71 anos de idade, levando-nos a recordá-lo com saudade.
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Fotografias cedidas pela filha Teresa Leite
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Ílhavo, 31 de Agosto de 2019
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Ana Maria Lopes-

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

A «estória» da Joana Labrega


Dos Postais da CASA do BICO que Senos da Fonseca tem escrevinhado no blogue Terra da Lâmpada, não há dúvida que, para mim, o último, que relata um parto improvisado a bordo de uma bateira labrega, seduziu-me mais profundamente. 
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Todos eles têm o seu atractivo, porque relatam histórias ficcionadas entre figuras características da Costa Nova, que, por sua vez, lhe são hipoteticamente relatadas pela Zefa e pela Bernarda, em encontros de passeios matinais.
Elogio no autor, a capacidade criativa, a preocupação do registo dos nossos regionalismos, em contexto, bem como o entusiasmo com que nos brinda com os seus relatos.

No entanto, a «estória» do parto da Joana Labrega fascinou-me demais …Porquê?
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Por ter a ria como cenário, a bordo de uma bateira labrega, de vela bastarda, com toldo espalmado (pata de rã)?
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Por registar os tais regionalismos (vertedouro, escalamões, saltadouro, castelo da proa, traste, orça, etc.), sobretudo, de cariz marítimo?
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Por nos contar um parto improvisado, o desabrochar de uma vida, com toda a sua emoção?
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Eu, que assisti a partos e, principalmente, fui mãe, sem os artifícios que envolvem os partos actuais, pensei, depois de ter acabado de ler a história:
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 – há cinquenta anos, quase que preferia ter parido a bordo de uma labrega que numa «cama de bilros», de pau-santo.
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E fiquei ferrada naquele pensamento!!!!!!!!!! que navegou comigo até de manhã. Que beleza!
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Costa Nova, 29 de Agosto de 2019

AMLopes-

sábado, 3 de agosto de 2019

Memórias - 30 anos a pintar a Ria - José Oliveira


Memórias – 30 anos a pintar a Ria. José Oliveira

Ontem, dia 2 de Agosto, fui à Murtosa, assistir à apresentação do livro «Memórias – 30 anos a pintar a Ria», que pretende homenagear o pintor José Manuel Oliveira, mais conhecido por Zé Manel, pelo seu trabalho e dedicação, sobretudo, à pintura de barcos moliceiros.
O Zé Manel surge numa fase de crise de decoração dos barcos lagunares, em que Avelino Marcela já não estava no activo e em que Jacinto Viera da Silva (mais conhecido por Jacinto Lavadeiro), nos tinha deixado precocemente.
Foi, pois, por esse tempo, que o Zé Manel começou o seu labor, seguindo a linha do Jacinto, não deixando de respeitar o mais característico e tradicional, mas soltando inovação e criatividade. E assim o foi fazendo, durante 30 anos, de 1989 a 2019.
Conheci-o, exactamente, nessa altura, à beira-ria, quando pintava o barco moliceiro A 2040 M – JOÃO MANUEL, um dos primeiros barcos que decorou.

Zé Manel, à direita, há 30 anos

Durante estes trinta anos, não deixei de ir acompanhando o seu trabalho, sempre que possível, registando os painéis que brochou, de duração efémera, como é natural.
De convívio bastante agradável, o Zé Manel sempre respeitou painéis de temática religiosa e patriótica, mas os brejeiros é que davam prémios nos Concursos. Oh! Quem o conhecer… que o compre! Tem a brejeirice à flor da pele! Mas, em seu dizer, os proprietários das embarcações é que são uns malandrecos, pois, nos seus painéis, «só querem gajas». Estes é que dão prémios!...
Muitos parabéns ao Pintor, que nos continue a brindar com as suas telas flutuantes, muitos parabéns à Etelvina Almeida, que, com o seu saber e competência, foi a coordenadora desta obra, parabéns ao Município da Murtosa, que, em boa hora a fez nascer, para ampliar o memorial da nossa laguna.
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Tema patriótico
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Tema religioso
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Alguns temas brejeiros

Costa Nova, 3 de Agosto de 2019

Ana Maria-