segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Bandeira de Gala da Associação dos Oficiais da Marinha Mercante

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Percorrendo os jornais O Ilhavense de 1927, cheguei, em 20 de Março, a uma notícia que, pelo pormenor descritivo e sabor informativo da época, me seduziu.
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Ei-la, salteada:
(Sic) Sábado, 12 de Março.
Dia de sol e de animação na vila.
Pelas 5 horas e meia, sobem ao ar, em frente à Associação dos Oficiais da Marinha Mercante, foguetes e morteiros.
O que será, o que não será, e eis que dentro em pouco, corre de boca em boca, esta notícia:
 – Chegou uma bandeira nova para a Associação dos Oficiais Náuticos.
De facto assim sucedia (…). Há rostos onde se divisa uma alegria infinda. Há almas fortes de marinheiros audazes que mal podem exteriorizar a sua satisfação, de comovidos que se sentem.
Também fomos ver a linda bandeira, em quase tudo semelhante à antiga bandeira marítima, que tanta gente amiga tem acompanhado à última morada, que em tantos cortejos cívicos tem drapejado alegre e vistosa.
O novo símbolo da Associação dos Oficiais é toda de seda azul e branca, bordada a ouro fino, tendo ao meio, em alto relevo, uma galera de três mastros tecida a ouro.

Por cima, o dístico Associação dos Oficiais da Marinha Mercante. Por baixo da galera: Ílhavo – 1921 – 1926.


(…) A data de 1921 é a da fundação e 1926, a da confecção da bandeira. Foi executada pela casa Joaquim da Silveira Melo & Cª do Porto e importou em cinco mil escudos, segundo a factura apresentada.
(…) Sob a galera uma cercadura a ouro, em anéis circulares e pendentes desta, uma bóia de salvação, uma ampulheta, uma rosa dos ventos, os símbolos da Fé, Esperança e Caridade, uma roda de leme, um sextante e uma âncora.
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 Pormenor da bandeira…
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– Quando tencionam inaugurar a bandeira?
– Talvez para a Páscoa, com uma sessão solene.
– E à bandeira antiga, que destino tencionam dar-lhe?
– Ficará para acompanhar ao cemitério todos os seus sócios ainda existentes. A nova fica só para os sócios da Associação, seus pais e filhos, conforme resa o regulamento interno desta colectividade. 
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Já agora, que a Associação dos Oficiais já não existe, que opinariam estes, se lhes fosse proposto quotizarem-se, quase simbolicamente, para ajudarem a restaurar a sua bandeira, quase centenária e representativa da classe?

Segundo o nosso Jornal de 24 de Abril de 1927, a dita bandeira lá foi então inaugurada. Às 6 horas da tarde de Domingo de Páscoa, saiu da sede da Associação o cortejo constituído pelos sócios daquela colectividade, à frente dos quais ia a abandeira conduzida pelo Sr. Capitão Calixto António Ruivo e ladeada pelos senhores José Ançã Novo e João Francisco grilo (o Frade). No couce do acompanhamento, ia a Filarmónica Ilhavense.
Dirigiu-se o cortejo à igreja paroquial desta freguesia onde o Reverendíssimo Padre Manuel de Campos, revestido de sobrepeliz e estola rica, procedeu à bênção do lindo pavilhão, junto ao altar do Senhor Jesus dos Navegantes.
Após as palavras sacramentais: Per Christum Dominum nostrum. Amen, fez-se a aspersão da água benta.
(…) Finda a cerimónia religiosa, voltou o cortejo à sede da Associação onde dispersou, ficando a bandeira exposta ao público.


Apetitosa descrição e que grande reinação!

Parece que existe ou existiu uma foto do acto, que nunca tive o prazer de ver, para, agora, aqui, relembrar.
A quem a possuir, agradecemos o favor de a partilhar connosco, para enriquecer o processo documental.


Fotografias – Da autora do blog

Ílhavo, 28 de Novembro de 2011

Ana Maria Lopes
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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Apresentação da revista «Terras de Antuã», na Câmara de Estarreja

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Quem quiser tomar conhecimento da apresentação do nº 5 da revista «Terras de Antuã», no passado sábado, dia 19, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Estarreja, pode ver:

http://videos.sapo.pt/HmLd7QILKMrYQtYfY4KE

Este V volume é constituído por 14 artigos de vários autores, cujas temáticas vão desde a arqueologia, a arquitectura, a arquivística, a biografia, a construção naval, a emigração, a genealogia, até à  heráldica, entre outras.

Para nós, foi também gratificante participarmos,  através do singelo artigo relativo à construção naval, A Saga do Navio Maria das Flores, construído em 1946, num estaleiro no Bico da Murtosa, com um encalhe e desencalhe históricos.

Foi construído por José Maria Lopes de Almeida, construtor de Pardilhó, proprietário do referido estaleiro, para  João Carlos Tavares (de alcunha, João da Albina), residente em  Estarreja.

Grande parte da tripulação do Maria das Flores (1946-1958), como quase sempre, e seus dois únicos comandantes, como não podia deixar de ser,  foram ilhavenses.

 
Ílhavo, 21 de Novembro de 2011

Ana Maria Lopes
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domingo, 13 de novembro de 2011

Associação dos Oficiais da Marinha Mercante de Ílhavo

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Há dias, o amigo João Reinaldo, depois da procissão do Senhor Jesus dos Navegantes, confidenciou-me que tinha uma questão a pôr-me, relativamente à Bandeira dos Oficiais, porque haviam constatado que a insígnia estava algo danificada e que necessitaria de restauro.

Depois de nos informarmos acerca da peça (de que se revelou haver duas), uma mais antiga que a actual, observámo-las, para propor um possível restauro aos Amigos do Museu, cuja intenção seria participada à Unidade Directiva da instituição museológica.
Após a sua observação, começámos imediatamente por concluir que não seria uma, a original, e outra, a réplica, porque, embora os motivos bordados fossem os mesmos, os dizeres diferiam.

A primeira, cujo navio, à popa, desfraldava uma pequena bandeira monárquica, referia:

CLASSE MARÍTIMA
ILHAVENSE



A segunda, cuja bandeira, à popa do navio, já era republicana, rezava:

ASSOCIAÇÃO DOS OFICIAIS DA MARINHA MERCANTE
ÍHAVO – 1921 – 1926




A partir daqui, muitas dúvidas se puseram: o nosso amigo Vitorino Ramalheira, o menos jovem dos presentes, disse lembrar-se de ir a uma sede da tal Associação, pela mão do seu Pai, ali pela Praça da República.

Entretanto, em local, a meu ver, não muito adequado para conversas sobre bandeiras, em despedida de um colega Oficial à sua última morada, encontraram-se alguns dos mais velhos oficiais da nossa praça.

Chegaram-me alguns recados não muito elucidativos sobre o assunto, mas eu é que não descansei mais, no sentido de me informar melhor.
A origem da bandeira, por agora, passou a interessar-me bastante mais que o seu restauro.

Data de 1921, que fazer? Se coincide exactamente com o ano da criação do Jornal O Ilhavense, toca de começar a percorrê-lo (nesta época, há algumas faltas de números), pelo menos durante essa meia dúzia de anos.
A história – logo nos primeiros nºs entre 1922 e 23 – confirmou a existência de uma Associação de Oficiais da Marinha Mercante, em Ílhavo, fundada a 1 de Janeiro de 1921, com sede provisória no salão do «Club dos Novos». Fiquei a saber quem foi constituindo a sua Direcção e Assembleia Geral, bem como os assuntos pelos quais mais se interessava – a necessidade de um navio-hospital que acompanhasse a frota, proposta da criação da Escola Náutica, cumprimento da lei no que concerne a matrículas, etc.

Qual não foi o meu espanto, quando, ao chegar a casa me deu para teclar a referência em causa na Internet e me apareceram cerca de 70 páginas, em PDF, dignas de crédito, pois eram constituídas por documentação legal, vários Estatutos que se foram reformulando uns aos outros, uma acta e o rol dos 152 sócios, quase todos nomes que nos são familiares.

(Sic) São, então, aprovados os estatutos de uma nova associação de classe (é porque houve uma anterior, como indicia a existência da bandeira mais antiga), a constituir em Ílhavo, sob a denominação de Associação de Classe dos Oficiais da Marinha Mercante Portugueza.
Em acta da Assembleia Geral de 23 de Janeiro de 1927 (via Internet), num dos últimos pontos, é tratado o assunto da bandeira:
(Sic) A «Bandeira Marítima», por costume estabelecido entre os marítimos de Ílhavo, vai, todos os anos, na procissão do Senhor Jesus dos Navegantes. Essa bandeira vai ser substituída por uma nova da Associação.

Estaria esclarecida a questão da existência das duas bandeiras e a origem, pelo menos da segunda.
E quem a teria bordado? Leonilde da Velha, hábil neste tipo de labores? Seria uma hipótese, divulgada em desdobrável de uma exposição de trabalhos desta hábil Artista, em Abril de 1992, a meu ver, não muito viável.
Nota – Nem sempre os dados nos surgem quando os procuramos e, há uns dias, tive acesso ao Livro de Actas da AOMMI, aberto em 26 de Dezembro de 1920, para tal fim.

Antes da reunião da fundação (1921), já citada, houve uma reunião preparatória em 6 de Dezembro de 1920, no salão do «Club dos Novos», donde saiu a constituição de uma Comissão instaladora. Segundo os associados, esta AOMMI deveria ser independente, embora intimamente ligada à Liga de Oficiais da Marinha Mercante de Lisboa.
Numa tarde outonal de um domingo já frescote, fui perpassando os olhos pelo tal Livro de Actas, e constatei:

– (…) que só cerca de um ano mais tarde, a sede da Associação se transferiu do salão do «Club dos Novos» para um prédio alugado ao Senhor António Dias Afonso, na Praça da República, junto ao prédio pertencente ao Senhor Joaquim Machado (acta de 31 de Janeiro de 1921).
– (…) que a Direcção mandasse fazer uma bandeira de gala, própria, em vez de chamar a si a bandeira marítima que existe nesta vila ( acta de 8 de Fevereiro de 1921).
– (…) que a bandeira de gala tem um regulamento com onze esmiunçados artigos (acta de 8 de Dezembro de 1926).
– (…) que José de Oliveira da Maia Alcoforado ofereceu umas fitas da cor da Bandeira Nacional para a bandeira de gala da colectividade ( acta de 18 de Dezembro de 1932).

Esta é a última acta registada neste Livro de Actas, tendo restado ainda algumas folhas em branco.

(Cont).

Fotografias – Da autora do blog

Ílhavo, 13 de Novembro de 2011

Ana Maria Lopes
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sábado, 5 de novembro de 2011

O Barco Mercantel ou Saleiro - 2

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À medida que o barquinho ia crescendo, a minha caixa de memórias deixava escapar lembranças que nem eu sabia que lá estavam guardadas.
 
Primeiro apareceram os barcos da passagem da Bestida para a praia da Torreira. Como os recordava grandes e altos que até me faziam pôr em bicos de pés a espreitar por cima das falcas para ver correr a água! Depois vieram as viagens à Senhora das Areias em São Jacinto, nos barcos do Sr. Henrique Ramos, com música, cantadores e muitas cestas com merendas.
 
Entretanto, também lembrava os que chegavam cheios de cacos de telhas e de tijolos das fábricas de Aveiro, para descarregarem ao longo das secas da Cale da Vila desde os estaleiros até ao esteiro do Oudinot. Foram eles que pavimentaram o que seria a marginal limitada pela muralha que chegou depois, feita com pedras que os mercantéis igualmente iam buscar algures lá para o norte.


Mas, havia ainda o torrão e o saibro com que os lavradores da Marinha Velha e da Cambeia fizeram dos caminhos de carro as estradinhas, que hoje são algumas das ruas da cidade da Gafanha da Nazaré.

Eram igualmente estes barcos que os descarregavam ao longo da borda nos locais das margens da Ria onde podiam chegar os carros de bois.

Para todos os lados se avistavam os mercantéis, incansáveis trabalhadores da Ria. À vara, à vela e até à sirga, acarretavam tudo o que era necessário à vida dos povos que cercavam este grande espelho de água e que para seu uso diário os idealizaram e construíram.


À vela, à sirga ou à vara…


Esguios e fortes, mas ágeis e bons de vela, quando governados pelas mãos práticas dos seus arrais, sulcavam não só os esteiros das salinas, mas ainda os estreitos canais da cidade.
 
Sem dúvida, era no trabalho das marinhas, carregando o sal que lhes deu o nome, que melhor se identificavam e se embelezavam com aquelas cargas cintilantes.



Postal – Ao serviço do sal…



Nasceram com esta missão específica e foi durante a faina da descarga do sal, feito pelas salineiras no canal de S. Roque, que os olhos perspicazes dos artistas os imortalizaram em telas por todos conhecidas.


Óleo de Cândido Teles


Foram estas memórias que fui revivendo durante as horas da construção do modelo que me fizeram ver como era notável a dignidade que transparecia desta embarcação. Não era vistoso o seu aspecto, mas irradiava segurança, força e altivez.

Na verdade foi um senhor da nossa Ria.

As suas medidas principais eram:

Comprimento……………..18.00 metros
Boca…………………....…..03.28 m
Pontal……………………...00.73 m
Escala………………………1/25

30.9.2011

António Marques da Silva


Imagens – Da autora do blog

Ílhavo, 5 de Novembro de 2011

Ana Maria Lopes
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