sábado, 14 de janeiro de 2023

Nevou em Ílhavo, há 36 anos...

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Faz, precisamente neste dia catorze de Janeiro, trinta e seis anos que nevou em Ílhavo.

O tema não é bem o habitual do Marintimidades, mas anda lá por perto – água em estado sólido.

Há quem nunca tenha visto o mar e fique horas a olhá-lo, pela primeira vez, na ânsia de transpor o horizonte. Nós, que temos a benesse de usufruirmos das dádivas do litoral, pelo contrário, não podemos apreciar, com frequência, o espectáculo da neve a cair e a matizar de branco, montes, vales, bosques, animais, praças e pessoas.

Com uma atracção por datas, o meu arquivo fotográfico não me deixou ficar mal. Procurei e, rapidamente, encontrei as imagens catalogadas de Neve em Ílhavo – 14.1.1987 – os tais 36 anos.

Pretendo fazer com que os ílhavos recordem este dia, pois não podemos ficar indiferentes ao temporal, frio, neve, e inundações, que têm assolado alguns países, inclusivamente o nosso, com cheias e inundações de que não me lembro ver.

Como há 36 anos, a minha agilidade para trepar aos telhados, em busca de imagens diferentes, era mais que agora, consegui alguns “clichés” de Ílhavo, menos vulgares. Ei-los, para quem não viu ou nem sequer era nascido. Onde estava nessa altura? Deu conta?

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Telhados da Rua João de Deus
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Telhados ao longo da Rua Ferreira Gordo
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As torres da nossa Igreja, ao longe…
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Flocos salpicam a Praça da República
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Ílhavo, 14 de Janeiro de 2023

Ana Maria Lopes

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quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

A construção da "ílhava" em exposição

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Abriu, há nove anos (11.1.2014.), a exposição fotográfica da construção da ílhava, exibida no MMI, aquando da apresentação pública desta nossa bateira.

Quem viveu a aventura desta recriação fê-lo com paixão. Para além do mais, acompanhou durante meses, a perícia, o gosto, a minúcia, a arte com que a Etelvina fez estes registos fotográficos para memória futura. São apenas 20 imagens de razoável dimensão, que fazem parte de centenas que clicou durante meses, desde o lançamento da tábua da quilha da embarcação, até ao seu regresso às origens – Ílhavo.

Quem acompanhou a montagem desta exposição, teve a sensação de que se trabalhou em arame de circo, por “contratempos” de vida que o empenho e a coragem superaram. Mas, valeu a pena! Foi unânime a opinião dos observadores – um apontamento de cariz etnográfico que embrulha muito de sociológico, de antropológico, de sócio-cultural e de histórico.

Melhor do que as nossas palavras, o texto introdutório da própria autora revela o que ela procurou e viveu, neste registo. Ei-lo:

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Bateira ílhava, uma embarcação secular

Uma embarcação com vínculo e apelido das gentes de Ílhavo.

Segundo dados históricos, esta embarcação é referenciada a partir do século XVIII, tendo-se extinguido no século XX.

Herdando o nome da sua terra natal, esta bateira terá sido criada com o propósito de servir as gentes da borda-d’água lagunar, passando posteriormente para o mar. Terá sido um artefacto de trabalho, uma ferramenta polivalente, servindo para toda a faina. Mais tarde, migrou para as águas do Douro e do Tejo, tendo-se ali extinguido, não deixando rasto.

Não restando exemplar físico da embarcação, alguns estudiosos desenharam e maquetaram um protótipo com base em documentos escritos, registos imagéticos e gráficos.

A ideia de construir uma réplica desta embarcação secular tem vindo a ser alimentada ao longo dos anos.

Em Junho de 2013, a Associação dos Amigos do Museu Marítimo de Ílhavo (AMI) formou uma equipa de trabalho para concretizar este sonho – reconstruir um elemento patrimonial identitário da região, já perdido.

Por iniciativa desta Associação, estudou-se, elaborou-se, supervisionou-se e custeou-se todo o projecto. Actualmente, pode-se apreciar o belo exemplar da bateira ílhava exposto na Sala da Ria deste Museu.

Construída na borda-d’água, em Pardilhó, num estaleiro naval tradicional, por um conceituado mestre, foi imperativo manter o processo construtivo, os materiais e acabamentos tradicionais, fidedignos com a realidade de outrora.

Apresentada ao público, no dia 11 de Janeiro de 2014, a réplica da bateira ílhava, uma peça única em ambiente museológico, transmite através do sistema construtivo, dos materiais, da sua forma e história funcional, um conjunto de elementos de cariz etnográfico, identitários da nossa região.

Recuperou-se um património imaterial, materializando-se nesta réplica. Um bom exemplo e um contributo para trabalhos futuros.

Esta breve exposição de fotografia tem como objectivo dar a conhecer, através de alguns apontamentos imagéticos, algumas fases do processo construtivo da emblemática embarcação.

Pretende-se, ainda, de forma sucinta, transmitir alguns momentos de rara beleza e encantamento vividos dentro de um estaleiro, durante a construção de um artefacto artesanal – luz, odor, textura, cor, brilho, pó... tudo isto se entranha na alma!

 

AMI, Presidente – Dr. Aníbal Paião

Equipa de trabalho – Capitão Marques da Silva, Eng.º Senos Fonseca, Dr.ª Ana Maria Lopes, coordenadora do projecto.

Construtor naval – Mestre António Esteves (o Pardaleiro)

Vela – Marco Silva e família.

Fotografia: Etelvina Almeida

Para amostra, fazendo crescer água na boca:

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Esculpindo…
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Em pose…
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Assentamento acrobático…
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Com ritmo…
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Vestida com vela içada… 

Texto introdutório e imagens – Etelvina Almeida

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Ílhavo, 11 de Janeiro de 2023

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Ana Maria Lopes

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segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

O "Capitão Pisco"... um destino

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Mais um primeiro de Janeiro, ontem,  e a memória voltou e até foi falada…

No primeiro de Janeiro de 1986, quando dava os últimos retoques à mesa, para o almoço de boas-vindas ao Ano Novo, toca o telefone… Está? O que acabei de ouvir, pela voz perturbada do Dr. Cunha?...

Sem perdas pessoais, até porque, na altura, não estava ninguém a bordo, o "Capitão Pisco" naufragara. Faz, exactamente, hoje, trinta e sete anos.

Como fora, como não fora…Todos comentámos que o Novo Ano (1986) estava a começar com “óptimas” entradas…

Junto à Marginal da Figueira da Foz, onde hoje é o porto comercial, durante a invernosa noite, o arrastão costeiro Capitão Pisco estava atracado por fora do Santa Mãe Laura, arrastão igualmente costeiro, pertença da empresa de pesca Sociedade Brasília.

Por força da corrente, na vazante, os cabos do Santa Mãe Laura partiram e os dois navios foram de enxurrada, com a força da correntia, pela barra fora, quais brinquedos de criança.

O "Santa Mãe Laura" estatelou-se nas pedras do molhe e partiu-se de imediato – era de madeira.

O "Capitão Pisco" saiu a Barra, contornou o molhe e foi encalhar no Cabedelo, a sul da Figueira da Foz.

O mestre pedira para o levarem para bordo, de helicóptero, a ele e ao motorista, mas, impossível, devido às péssimas condições de tempo e mar. Ali ficou, meses e meses, dado como perdido.

 

A mútua considerou a perda total do navio e indemnizou a empresa, tendo ficado com os salvados que vendeu.

Com o alvará, construiu-se, para substituição da unidade, no Estaleiro Naval do Mondego, na Figueira da Foz, o arrastão costeiro para crustáceos "Cygnus".

Fiquei, mais tarde, com um salvado de grande importância afectiva para mim, o sino, embelezado por um primoroso trabalho de marinharia.


Além de alindar a entrada da casa de praia, anuncia visitas e serve de mote a uma história “verdadeira” para os netos. Era uma vez… um barquinho verde, que, numa noite de mau tempo, …

No domingo seguinte, num soalheiro, mas gélido dia de inverno, eu e o Miguel fomos “ver para crer” e imortalizámos o naufrágio com estas “belas, mas impressionantes chapas que batemos”.

 

Comentários para quê?

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O Capitão Pisco encalhado
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No baixa-mar
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No preia-mar
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O belo horrível…
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Imagens – Arquivo pessoal da autora

Ílhavo, 2 de Janeiro de 2023

Ana Maria Lopes

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