sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Uma janela para o sal - XIX

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A descarregar
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Navegando rumo ao seu destino, lá segue o barco saleiro transportando o precioso cristal.
Já o esperam no desembarcadouro, para a descarga do sal
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Depois de percorrer esteiros e canais, o pesado saleiro passa a comporta e navega cautelosamente em águas citadinas, transbordando de sal...
Manobras a bordo. Auxiliado pelo cabo da sirga, conduz o barqueiro o seu saleiro. De braço dado e a motor, a bateira impulsiona-o suavemente.

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De vara em punho, o homem do barco finca-a na ponte, guiando o pesado saleiro por estreita passagem. Bica recolhida, medidas tiradas, lá se esgueira o barco, túnel adentro...pelas entranhas da Ponte de S. João.
– É perícia?
– Sim, também, mas é muito frete de sal e muito saber de Ria – é o homem barqueiro.
 

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Roupas estendidas ao sol e ao vento, ainda quente, de fim de safra, indicam o fim da viagem.
No Canal de S. Roque mora a gente da Beira-Mar que bem sabe receber o sal da Ria que ali se descarrega.
Reflectido nessas águas calmas, o saleiro aguarda que o aliviem do carrego que o mergulha até aos bordos.
 

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Ali atracado no humilde cais, entre moirões já ressequidos e estruturas desordenadas, encosta os seus bordos à lama enrijecida pelas abordagens salineiras.
Bem perto, sobressaem os palheiros de madeira que recolhem estas cargas preciosas, o ganha-pão desta gente.
Vai-se descarregar o sal.
Abordam-no homens e mulheres, e dessa carga tomam conta. Ensacam o cristal de sal, ali mesmo sobre os seus costados. Outrora a lida era outra... nova época, novos costumes.
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Imagens | Paulo Godinho | Anos 80
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06| 05 | 2014
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Texto | Etelvina Almeida |Ana Maria Lopes
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domingo, 10 de agosto de 2014

AMI enriquece espólio pictórico do MMI

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A 8 de Agosto, em que o Museu de Ílhavo cumpriu as suas 77 primaveras, a AMI teve o prazer de enriquecer a colecção de pintura, que, desde o ano passado, se exibe em sala apropriada para o efeito, – o melhor dos nossos maiores e não só…. Temas marítimos ou lagunares, dentro de determinadas correntes que se consideram essenciais na colecção.
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Retrocedendo no tempo, sabemos que o Museu possui dois óleos que representam camponesas de Ílhavo, no seu trajar.
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O primeiro, de J. P. Ribeiro, pintura a óleo sobre madeira, Camponesa de Ílhavo, assinado, datado de 1869 (no reverso), 39x29 cm. Ei-lo:

Camponesa de Ílhavo, 1869

O segundo, Camponesa de Ílhavo (o mesmo título), revela-nos também o rico traje tradicional da camponesa de Ílhavo, em finais do século XIX. Esta mulher também enverga um chapeirão de feltro preto debruado a cetim, de abas bastante largas, soerguido por um lenço vermelho lavrado. Camisa branca de mangas folgadas, saia e colete, escuros. Este, de fazenda ou até mesmo de veludo, prende no peito por abotoadura de prata, de par.
Bonita algibeira debruada e brincos compridos de ouro dão um último toque ao vestuário que enobrece a camponesa, que, no entanto, se apresenta descalça. Cordão de filigrana ao pescoço completa o adereço.
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Camponesa de Ílhavo, 1875*
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É um óleo sobre metal de 1875, assinado, datado, 42,5x32 cm., da autoria de Francisco José Resende (1825 - 1893). Foi adquirido em 1958 pela CMI ao Sr. Albano Pinto da Cunha Ferreira, do Porto, por 2.500$00.
Pelo início dos anos 90, o Arquitecto Quininha, de quem fui amiga, trouxe-me, carinhosamente, um postal da Camponesa de Ílhavo, também reprodução de óleo de F. José Resende, que encontrara à venda no então MNAC. Guardei-o, mas agora, aprecio-o mais. O tal quadro vem citado, verifiquei, no Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses de F. de Pamplona.

Postal do MNAC

Este óleo sobre tela, de 66x47 cm, datado de 1867, representado no postal, que é suposto estar nas reservas do actual Museu do Chiado, enriqueceria um pouco mais a nossa colecção, mas as pertenças de cada museu são para serem respeitadas, salvo raras excepções de depósito ou cedência. Algumas semelhanças e algumas diferenças.
Talvez pelas cores empasteladas de uma luminosidade sombria, e pela elegante posição da figura em causa, é de uma nobreza e beleza extraordinárias. Parece demasiado rica e nobre para camponesa. No entanto, também está descalça… trajando de modo perfeitamente idêntico.
O grande pintor Francisco José Resende interessava-se mesmo pelo traje da camponesa de Ílhavo – pelo menos, são-lhe conhecidos três quadros, sobre o mesmo tema…
Até agora, tudo esclarecido, quanto às camponesas… Qual terá sido, então, a surpresa dos AMI, pra o MMI?
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Recuemos a Dezembro de 2013… Ali pelo dia 13, fui informada por uma mensagem privada de FB, por alguém sabedor, que a pintura de José F. Resende intitulada Costume de Aveiro-Vareiro ia ser vendida no lote nº 146, na leiloeira Cabral Moncada Leilões, no pretérito dia 16 do referido mês. Com as dimensões de 55 x 40,5 cm., é assinada e datada do Porto, Fevereiro de 1863. A base de licitação oscilava entre os 1.800 e os € 2.700.
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O informador, sabedor, mais dizia que se tratava de uma pintura iconograficamente importante para a região, vendo-se um homem com o tradicional gabão e barcos moliceiros na ria (?). Mais dizia que existiam pinturas do mesmo autor Camponesa de Ílhavo-Vareira, no Museu do Chiado em Lisboa e no Museu Marítimo de Ílhavo.
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E tudo isto era verdade. Mas, que fazer?
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Sozinha, diante do computador, nem tugi nem mugi. Entupi. Não disse nada. Quem não tem dinheiro não tem vícios, como sói dizer-se, e a situação económica da AMI, às voltas com a vinda da bateira ílhava para o museu, da sua oferta e do seu pagamento não era das mais folgadas. Pensei «cá com os meus botões» – talvez não se venda e volte a ir a leilão, numa altura mais solta, para nós, Amigos do Museu.

O Homem do Gabão, 1863

A preocupação e a azáfama com a bateira eram grandes e, olha…, o quadro ficava entregue ao destino – é que o «homem de gabão» não era mais nem menos do que um ílhavo e os barcos que se viam eram tão só umas silhuetas de umas ílhavas (a situada em último plano, com pormenores de velame muito curiosos) brochadas a negro pelo pincel do pintor de oitocentos.
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Com as contas mais revigoradas, por Fevereiro, soubemos, com enorme surpresa, que o quadro tinha sido retido, para uma aquisição posterior. E assim foi, mais um rombo na economia da associação, mas o homem de Ílhavo, de gabão castanho, de barrete escuro, de manaias e de camiseta esbranquiçadas, era «nosso».
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Além do mais, iria acasalar com a mulher de Ílhavo, há décadas, celibatária.
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* Entretanto, o óleo em causa recolheu a reservas, para ser sujeito a um restauro minucioso, o mais brevemente possível, a expensas dos Amigos do Museu.
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Ílhavo, 10 de Agosto de 2014
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Ana Maria Lopes
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sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Mais um aniversário do Museu Marítimo de Ílhavo - o 77º

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No dia 8 de Agosto, o MMI celebra os seus 77 anos de vida. Oferece ao público uma programação criativa e diversificada que inclui um imperdível concerto da Orquestra Filarmonia das Beiras, que se realizará ao ar livre, junto ao Aquário dos Bacalhaus.
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Música marítima de grandes compositores, edições de livros do mar, confecção e prova de iguarias marinhas, uma noite no Museu e performances salgadas são motivos suficientes para participar na festa.

Programa

8 de agosto, sexta-feira
10h-19h Dia Aberto
10h-19h Feira do Livro
11h/15h Visitas especiais - As Reservas do Museu: Conservador por um dia *

18h Sessão comemorativa
·         Apresentação da edição Fainas do Mar (reedição de obra de Frederico Cruz)

·         Apresentação de Diário de bordo da bateira da ílhava – A construção, de Ana Maria Lopes


Capa do Diário


21h30 Concerto pela Orquestra Filarmonia das Beiras
22h30 Uma Noite no Aquário
(ingresso: € 5,00 | para jovens dos 6 aos 12 anos | limitado a 20 jovens)
9 de agosto
10h-19h Feira do Livro
10h-19h Demonstração e workshop de Modelismo (dinamizado pela TEAM)
11h/15h Visitas especiais - As Reservas do Museu: Conservador por um dia*
14h-19h Bacalhau no Prato - workshops de cozinha *
·         Chora por D. Anabela Pequeno

·         Patanisca de Bacalhau por D. Maria Júlia

·         Punheta de Bacalhau por Sr. Jorge Pinhão

16h Histórias e Novelas Marítimas*
18h Conversas de Mar - A economia do Mar é o futuro por Miguel Marques, economista, sócio da PWC e presidente do Comité Temático LIDE Economia do Mar.

21h30 Sermão de Santo António Vós sois o sal da terra! *

*inscrições limitadas | marcação prévia: 234 329 990 | museuilhavo@cm-ilhavo.pt
Costa Nova, 1 de Agosto de 2014
Ana Maria Lopes
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