quinta-feira, 28 de março de 2019

Museu de Ílhavo adquiriu pintura por 3.500 contos


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Segundo o Jornal Regional de 29 de Março de 1994, há 25 anos, a Associação dos Amigos do Museu de Ílhavo e a Câmara Municipal, adquiriram um óleo sobre tela com 2x3 metros, do pintor Adriano de Sousa Lopes, que retrata Moliceiros em plena apanha do moliço.
Esta aquisição custou 3.500 contos, tendo a autarquia ilhavense pago 1.000 contos e a Associação dos Amigos do Museu contribuído com 2.5000 contos.
Entretanto, a AMI realizou uma subscrição pública de apoio à aquisição desta obra de arte. A esta distância de 25 anos, posso confirmar que realizou e com sucesso.
Sousa Lopes nasceu no ano de 1879 na região de Leiria, tendo sido discípulo de Luciano Freire e Veloso Salgado, em Lisboa e em Paris.
O seu primeiro trabalho foi uma pintura de inspiração poética, «Ondinas», exposto no Museu de Arte Contemporânea. Na sua primeira fase, dedicou-se a um impressionismo de cor e luz, pintando aspectos festivos e coloridos de feiras e romarias, apreciados na então capital da pintura, Paris. Afirmou-se como paisagista emotivo e marinhista pujante em trechos de praia ou de penedias ciclópicas, e em cenas movimentadas e saborosas da vida piscatória.
Foi director do Museu do Chiado.
Na sua última fase, Sousa Lopes dedicou-se a vastas composições murais, tendo viajado por Itália, onde estudou, de perto, a técnica fresquista do Renascimento.
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Moliceiros, de Sousa Lopes, adquirido em leilão
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A tela adquirida pelo Museu, de 1939, mostra de uma forma realista o grande esforço muscular dos homens, de dorsos bronzeados e luzidios e impressiona pelo seu ritmo poderoso e empolgante, numa preocupação de largo decorativismo, a faina do moliço na Ria de Aveiro.
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Ílhavo, 28 de Março de 2019
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Ana Maria Lopes-                           

domingo, 17 de março de 2019

Quem quer galeota?!.............



São 16 de Março.

Galeooooota!

Já há galeota – ouve-se.
É tempo dela! Pregão único, mas bem timbrado, prolongado e amiúde!

Dura, de um mês a mês e meio, a venda da galeota pelas ruas de Ílhavo e zona das Gafanhas, porta a porta. Recordo os pregões desde sempre, mas de ser, tão!..., tão miudinho, era peixito que nunca me cativou. Se bem que um petisco para muita gente! No início da safra, é sempre cara como fogo; pudera! há um ano que não se lhe chinca!!!! Mas à medida que se banaliza (por se ir transformando no lingueirão), o preço desce, permitindo que bolsas menos ricas lhe acedam.

Sempre mais preocupada com as embarcações e processos de pesca usados do que com os prazeres gastronómicos, ia frequentemente até à Costa-Nova (junto à Biarritz e San Sebastian), observar a sua apanha e ver as redes, bastante sui generis, nos trapiches, a secar. Pelos anos 80 recolhi os dados, que, agora, me dão um jeitão.
Hoje era capaz de já ter preguiça de andar, de botas de água pela borda da ria ou junto às coroas, para gravar conversas e bater chapas.
A rede da galeota é uma arte de cerco ideada especialmente para a captura daquele peixe.
Consta, essencialmente, de uma tira de rede, que adelgaça para os calões, tendo, no centro, um rectângulo de pano branco. Este pano, antigamente um lençol já puído, é, actualmente, substituído por um cortinado também fora de moda, de nylon, de textura adequada.
O comprimento da rede é de cerca de 30.00 metros e os calões medem cerca de 0,40 m. de altura. A arte é feita com rede usada, de traineira.

Uma bateira vulgar (ou qualquer outro género de embarcação de fundo chato), é o tipo de embarcação utilizada neste processo de pesca.
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A rede junto ao calão
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Fica um pescador em terra aguentando o cabo do reçoeiro, enquanto a bateira se afasta da margem, largando a rede, a favor da corrente.
A partir do meio da rede, a embarcação dirige-se para a margem, completando o cerco, para o que fez um percurso, sensivelmente, em semi-círculo.
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A zona do pano branco da rede
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Abicada a bateira, os pescadores saltam para a água e, em conjunto com o que havia ficado na margem, alam a rede. Vão-lhe dando sacudidelas rítmicas, para espantar e conduzir o peixe para o pano. Percorrem a tralha da cortiça, até que ao chegar ao centro, com a galeota amontoada junto ao pano, levantam a rede fora de água, deitando o produto do lanço no quete da embarcação.
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Pescadores levantam a rede
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A galeota, quando perseguida, esconde-se na areia branca, enterrando-se rapidamente. A arte aproveitou engenhosamente esta particularidade, pois o pano branco consegue enganar a galeota, dando-lhe a ilusão de areia. Por vezes, apenas dois pescadores lançam a rede.
A época da galeota começa em meados de Março e prolonga-se até aos fins de Abril, variando ligeiramente com a influência das condições meteorológicas, das marés, da transparência e calmaria das águas.
A galeota mais apreciada pelos entendidos é a primeira, por ser mais pequena (a larva do lingueirão). Depois de crescida, já não é tão saborosa (dizem os degustantes).

Apanhado o petisco sazonal, é preciso fazer o seu escoamento imediato no mercado da Costa-Nova, nos restaurantes da zona, porta a porta, em grito estrídulo:
Galeooooota!

Compradoras aparecem às portas!
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Avia-se a freguesa…
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Curioso o processo de venda, no passeio ou à porta, medindo a porção a fornecer à cliente, pelas mais variadas e expeditas maneiras: a mais típica, a concha da mão, formada pelo indicador enrolado, circundado pelo polegar; o copinho de vidro, em alternativa ao pires da chávena de café e, modernamente, também, o copinho de iogurte.
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Peixeira lá vai  pelo passeio

E o pregão continua, estridente e bem-sonante: Galeooooota!

Regateia-se preço e medida; se a vendedeira é enganadeira, basta-lhe fechar mais os dedos, variando a capacidade da concha. Ou tenta pôr mais água enquanto que a freguesa prefere o peixinho a nadar menos. 
Em anos de fartura,   até se pode ajustar também ao quilo.
O petisco mais vulgar será a caldeirada; mas também há quem faça, posteriormente, uma papa rala de farinha de pau, recuperando a molhanca da caldeirada. Existe ainda uma receita mais sofisticada: as pataniscas (bolos) de galeota.
Galeooooota! Galeooooota! – Ouve-se cada vez mais ao longe!!!
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Era assim... e, este ano, ainda vai sendo. Parece que tem havido bastante.
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Fotografias – Cedência de Paulo Miguel Godinho
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Ílhavo, 17 de Março de 2019
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Ana Maria Lopes-

sexta-feira, 15 de março de 2019

O bota-abaixo do Rainha Santa


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Faz, hoje, 58 anos, que o Rainha Santa desceu na carreira…
Um dos últimos navios-motor a ser construído nos estaleiros do Mestre Benjamim Bolais Mónica, na Gafanha da Nazaré, para a firma Pascoal & Filhos, Lda., foi lançado à água no dia 15 de Março de 1961.
O navio, construído em madeira, tinha capacidade para 14 000 quintais de peixe.
O bota-abaixo aconteceu segundo os procedimentos habituais, mas já com bastante menos fulgor.
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O navio embandeirado em arco…
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Características – Comprimento, entre perpendiculares, 48, 91 metros, 10,47 de boca e 5, 35 de pontal. A arqueação bruta era de 829, 61 toneladas e a líquida, de 435, 33.
Albergava 21 tripulantes e 59 pescadores.
Foram seus comandantes, João Fernandes Parracho (Vitorino), de 1961 a 1965, João José da Silva Costa, de 1966 a 1972 e António Tomé da Rocha Santos, em 1973.

Naquele período, a vida era bastante intensa no porto bacalhoeiro da Gafanha da Nazaré e, sempre que tocava a sirene, em Ílhavo, e constava que o incêndio era a bordo ou em alguma seca, uma tal correria despontava para lá, com interesse na observação do acidente.

Foi o que aconteceu no dia 25 de Fevereiro de 1974. Sireeeeene…toque de fogo!!!!!!!!!!! Incêndio no Rainha Santa! E numa debandada, muita gente acudia, num misto de curiosidade e pavor.
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Incêndio a bordo…

Um grande incêndio deflagrou a bordo, devido a curto-circuito na casa das máquinas – era notório. Colossal azáfama – bombeiros das corporações de Aveiro e de Ílhavo, assistentes, curiosos – um corrupio.
Segundo informação colhida no momento, o navio, dificilmente poderia ser recuperado para a pesca e, sobretudo, para a campanha próxima, para a qual se preparava. Milhares de contos de prejuízo.
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À época, não foi muito badalado o destino do navio. Abandonado no cais durante uns tempos, esteve perto de ser desmantelado, mas acabou por ser procurado por um empresário de Avanca, segundo informação colhida na zona, Sr. José Resende, que o adquiriu à empresa proprietária com a intenção de o preservar. Projectos destes nunca foram muito acessíveis.
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Acabou por ter sido recuperado parcialmente e ter feito, a reboque, as últimas milhas, através do Canal de Ovar da Ria de Aveiro, em inícios dos anos 80, tendo acostado junto ao chamado Monte Branco (Torreira), transformado em restaurante/bar. Outra vida, em que também não teve grande sucesso…
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Imagens da Foto Resende
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Ílhavo, 15 de Março de 2019
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Ana Maria Lopes-

sexta-feira, 8 de março de 2019

O arrastão Cidade de Aveiro... adornado

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O Cidade de Aveiro adornado

Quem não foi ver? Quem não se emocionou? Uma tragédia plasmada e reflectida nas águas calmas da nossa ria, ali, na Gafanha da Nazaré.

Percorrem-se arquivos, relêem-se jornais da época, aviva-se a memória e monta-se o «puzzle». Faz hoje cinquenta anos.

Ao amanhecer do dia 8 de Março de 1969, tocou insistentemente a sirene dos Bombeiros. O sono foi mais forte, mas de manhã, o que aconteceu, o que não aconteceu…era um burburinho por todo o Ílhavo. O Cidade de Aveiro, tinha-se virado, de noite, na Gafanha da Nazaré.

O Cidade de Aveiro? Aquela bisarma! O melhor, o mais recente e o mais moderno navio de pesca jamais construído em Portugal, o primeiro daquele tipo de arrasto pela popa, tinha-se voltado?.... Era um espectáculo, se bem que emocionante, a não perder. Sem condições adversas, sem ilhas de gelo, sem interferências externas, sem temporais, o que teria acontecido? Nunca foi muito bem aclarado, creio; ou, pelo menos, não veio a público. Provavelmente, também não conviria.

O Cidade de Aveiro, pertença da empresa João Maria Vilarinho Sucr., Lda., tinha sido construído nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo e entregue ao armador, em Abril de 1966, a cujo bota-abaixo tinha assistido o Ministro da Marinha.
  
O Cidade de Aveiro no dia do bota-abaixo, no Estaleiro de Viana – 1966

Aquando do acidente na Gafanha da Nazaré, era seu Capitão o Sr. Joaquim Manuel Marques Bela, de Ílhavo, já falecido, que o comandou de 1967 até 1979.

Então, como já referi, tombou para EB, o Cidade de Aveiro, mesmo juntinho ao Cais dos Bacalhoeiros, no baixa-mar.

Tinha chegado há pouco dos pesqueiros com 18 000 quintais de peixe, que estava a descarregar, quando, inesperadamente, assentou no lodo do fundo, tendo virado.
Os prejuízos causados, apesar do seguro, foram vultuosos, não tendo podido o navio fazer a viagem seguinte.
As entidades competentes procuraram saber a causa da ocorrência, mas pelo menos, exteriormente, nunca se souberam os verdadeiros motivos: deficiente amarração do navio?... Estabilidade insuficiente?.... Teria sido descarregado o peixe dos porões e teriam sido deixados no convés, por descarregar, muitos tambores de óleo?

Após esforços avultados de técnicos experientes, as operações de salvamento foram coroadas de êxito, já que não se acreditava na capacidade de o navio voltar a flutuar.
Uma draga cavou um fosso junto à quilha do navio, em todo o comprimento. Com molinetes a puxá-lo da outra margem do canal, em consonância com as marés, ao fim de muito esforço, a quilha assentou na cova feita pela draga e o navio começou a endireitar-se. 

Volvidos mais de dois meses, voltou ao Tejo, a reboque dos rebocadores Praia da Adraga e Praia Grande, da Sociedade Geral, para receber as reparações necessárias, arrematadas pela firma H. Parry & Son, no valor de 15 180 contos. Com os trabalhos complementares, a despesa do salvamento do navio ficou em cerca de 19 000 contos.
Tinha pela sua frente mais uns anos de pesca, poucos, com bons carregamentos, já que a sua existência foi efémera.
  
O arrastão Cidade de Aveiro, nos anos 70

Na fatídica tarde do dia 3 de Outubro de 1979, quando o navio navegava em condições normais, já de regresso, no mar dos Açores, uma explosão na casa das máquinas, que provocou um violento incêndio a bordo, atirou-o para as profundezas do Oceano. A tripulação abandonou o navio nas baleeiras de bordo, que foram socorridas por um navio russo, que os transportou para Leixões e por um cargueiro francês, que seguiu viagem até ao Havre. Infelizmente, o mar e as suas contingências não perdoam e o segundo maquinista, João Alberto Ramos Filipe e o terceiro, João Valente Sardo, ambos da Gafanha da Nazaré, não resistiram às queimaduras sofridas na explosão e acabaram por morrer. Triste sorte! O mar foi, é, e será sempre o MAR!!!
Perdeu-se, assim, o arrastão Cidade de Aveiro, com uma existência sobre as águas do mar e da ria, nada tranquila, com a perda irreparável de duas vidas!
Serão bem-vindos comentários de quem saiba mais pormenores.
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Ílhavo, 8 de Março de 2019
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Ana Maria Lopes-

quarta-feira, 6 de março de 2019

São Jorge, uma relíquia de peça...


Era uma vez um São Jorge… e então? Que se segue?
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Num sábado, 10 de Março de 1956, com 12 anos, fui madrinha do navio-motor São Jorge, propriedade da Empresa Testa & Cunhas, construído na Gafanha da Nazaré, nos estaleiros de Manuel Maria Mónica. Passados 63 anos, ainda é um assunto que me toca, de que tantas vezes já falei. E esta vai ser mais uma.
As cerimónias de bota-abaixo fascinavam-me. Não me imaginava personagem principal do que para mim, com aquela idade, era um conto de fadas…
Um belo dia, apareceu-me ali em casa, no Curtido de Baixo, o Sr. António Cunha, então gerente da Empresa, a convidar-me para madrinha do São Jorge, que estava, então, em construção.
Porquê eu? Que sensação! Madrinha de um navio? Parecia-me convite só para gente importante e crescida!
O nervosismo e a ansiedade intensificavam-se à medida que a data se ia aproximando…
No sábado escolhido, o dia estava bonito, mas com um ventinho norte a soprar com alguma intensidade.
Aguardava a hora da maré o São Jorge, na carreira, donairoso e altaneiro, na imponência da sua altura, de cores claras, hasteando o mareato colorido, da proa à popa, esvoaçando ao vento.
Um bota-abaixo na Gafanha era sempre um acontecimento festivo: no estaleiro e em todos os caminhos em redor via-se muita gente para assistir ao sempre emocionante espectáculo. Ansiedade! Emoção! Expectativa! E na ria, toda a frota bacalhoeira, embandeirada em arco pela «camaradagem» de mais um barco que a ia enriquecer.
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Na carreira, antes do bota-abaixo
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O São Jorge era um navio-motor que deslocava mil toneladas com capacidade para catorze mil quintais de pesca.
E a razão do nome?
São Jorge é um nome que anda ligado à História de Portugal, desde que Portugal nasceu. Era o grito de guerra – «S. Jorge e Portugal!» – que levava vitoriosamente os nossos exércitos até à derrota dos inimigos. Quis a empresa dar-lhe esse nome como um símbolo e eu, como madrinha, ofereci-lhe uma bonita imagem do Santo a cavalo, de espada em riste, a lutar com o dragão, que sempre viajou durante dezenas de anos, a bordo, na câmara dos oficiais, desde 1956 até 1972, ano em que a empresa o vendeu. Era hábito que esta câmara tivesse uma imagem ou fotografia alusiva ao nome do navio e, neste caso, foi esta.
Nessa altura, chamou-me o Dr. António Alberto Cunha, à empresa, para me entregar a dita imagem do santo que, como madrinha, ofertara ao navio. Passou a fazer parte dos meus bibelots de estimação, para que olhava com enlevo.
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Aquando da montagem da exposição Faina Maior, propus ao grupo de trabalho que tal peça fosse incorporada no painel «câmara dos oficiais», por empréstimo. Aí esteve nove anos, até que, quando deixei a direcção do museu, trouxe a minha peça comigo, para ocupar o lugar que ficara vazio, na minha casa.
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À direita, em cima, confirma a presença, na exposição dos anos 90
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Mas, o tempo passa, já lá vão quase 20 anos e comecei a sentir que o lugar ideal para aquela peça era mesmo a câmara dos oficiais da exposição Faina Maior, no MMI.
Noutro dia, em conversa com a conservadora do Museu, Catarina Resende, veio à baila o sempre tão delicado assunto da doação ou do depósito de peças em museus, desde que o donatário exija a exposição definitiva, e contei-lhe, entusiasmada, esta história, com o pedido que fizesse chegar a quem de direito, a minha intenção de oferecer a peça, a imagem e respectiva peanha, tão vividas, que tanto balanço suportaram a bordo do navio, em alto mar.
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São Jorge, em peanha, adequada ao balanço marítimo
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Tendo sido a resposta positiva, assim a entreguei no museu, para que viesse a ser recolocada na câmara dos oficiais da Faina Maior, como tinha acontecido nos anos 90. E, desta vez, foi de vez.
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Ílhavo, 06 de Março de 2019
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Ana Maria Lopes-

domingo, 3 de março de 2019

Os meus carnavais ... do antigamente


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Gostava da época de Carnaval, sem dúvida. Uma paragem de aulas, uma época de folia.

Mas nunca fui de muitas folias. O meu Carnaval era mesmo à séria. O meu sortilégio começava exactamente logo no início de Janeiro com a feitura, reciclagem ou compra da vestimenta. Tudo a rigor, sim, gostava e defendia – figuras, na moda, em novelas (Dona Beija), frágeis mulheres, personagens de belas óperas (Madame Butterfly) e trajes, sobretudo, etnográficos (noiva do Minho, nazarena, tricana com traje de museu, etc.). Ditava os riscos, comprava os tecidos e experimentava, sempre que necessário. Gastava o espelho… Espelho meu!... Espelho meu!...
Desfilava individualmente, entre grupos, nos corsos ilhavenses, em anos que já lá vão (anos 80/90).

Com os meus quarenta anos e sangue na guelra, sempre adorei o traje, a arte de trajar, cada um a seu jeito.
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Por Ílhavo, recordo o Só Ca Boca, figura característica, que evocava o pescador do bacalhau, de rabana e sueste, oleados, tentando os garotos que se esforçavam por apanhar só com a boca, um figo pendurado de um pau e fio, em agitado movimento.
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E o Homem do Gabão? De nada mais precisava do que um típico gabão de burel, atado à cintura com uma corda, uma máscara e umas luvas, para que algumas características das mãos não identificassem o mascarado ou mascarada.
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E as batalhas de flores, com carros alegóricos, em volta do jardim? Essas já não são propriamente do meu tempo, mas ficaram na memória de muitos.
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Um rasgado elogio para a figura do Cardador de Vale de Ílhavo, pela sua vestimenta e máscara originais e mágicas, que chegaram a desfilar também em alguns corsos de Ílhavo. Por Vale de Ílhavo se mantêm, e ainda bem, e de lá não saem, num carnaval, que é micro local.
Na minha variedade de indumentárias, sempre me disponibilizava para desfilar em cortejos de beneficência, para algumas instituições. Outros tempos, outras modas! Hoje, passaram de moda…
Espaço não nos faltava – um jardim em redondel e duas belas avenidas bem rasgadas, mas, muito mais seria preciso.

A atraiçoada Butterfly, da ópera de Puccini. 1981

A Dona Beija, de uma novela, então, na moda. 1982
  
A noiva do Minho, entre «bichaneiras». 1983
  
A típica nazarena das sete saias. 1984

Cortejo do Centenário dos Bombeiros. 1993
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E, por aqui, ficamos…ou ficámos…?
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Ílhavo, 3 de Março de 2019
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Ana Maria Lopes-